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Operação no Rio de Janeiro expõe elo do Comando Vermelho com a Amazônia e rotas de esconderijo da facção, diz Estadão

Levantamento da Polícia Civil do Rio identificou 152 traficantes de diferentes estados do país abrigados em grandes complexos de favelas fluminenses. A maioria deles é do Pará: 78 criminosos e 21 são do Amazonas.

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Ao todo, 32 alvos da operação policial realizada nesta terça-feira (28/10), nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, são oriundos do Pará, segundo informações da Polícia Civil do Rio, de acordo com o site do Estadão. Segundo a Polícia Civil, mais de 80 suspeitos foram presos.

As investigações apontam que seriam nomes ligados ao Comando Vermelho (CV) que foram para o Rio para se esconder de crimes diversos e que acabaram se tornando atuantes no tráfico local.

A ação desta terça, que repete cenas de guerra, expõe o poder crescente do crime organizado no País e as
dificuldades do poder público de reprimir o narcotráfico, com efeitos violentos que afetam desde grandes centros
urbanos até territórios indígenas na Amazônia.

Segundo a Polícia Civil do Pará, os mais de 30 alvos paraenses da operação desta terça são suspeitos de comandar a criminalidade organizada no Estado à distância – ainda não se sabe quantos deles estão entre os presos.

“Os suspeitos são apontados por envolvimento em diversos crimes, como tráfico de drogas, organização criminosa, homicídios e roubos”, diz. A pasta afirma que participou da operação por meio de troca de informações com a Polícia Civil do Rio.

Para Leonardo Silva, pesquisador sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o fato de dezenas dos alvos serem do Pará demonstra ”capacidade de articulação e de domínio territorial” da facção. Ele reforça que o CV
deixou de atuar somente no varejo e passou a se consolidar também no atacado.

“Compram a droga dos países produtores, de Peru, Bolívia e Colômbia, consolidam uma rota para trazer através de Norte e Nordeste, até fazer com que essa droga chegue nos grandes centros consumidores brasileiros, e parte dessa droga seja exportada para diversos países”, afirma o pesquisador.

O Pará assistiu a um avanço do crime organizado nos últimos anos. Enquanto o Amazonas é tido como uma porta de entrada da droga, a região é vista como um espécie de “corredor de exportação” da cocaína que vem Peru e Colômbia.

O recrudescimento da violência no Pará se deve principalmente à atuação do Comando Vermelho, soberano na região metropolitana de Belém, e do Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem se aliado a facções menores para avançar pelo sul do Estado.

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Um levantamento da Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil do Rio identificou 152 traficantes de diferentes estados do país abrigados em grandes complexos de favelas fluminenses. A maioria deles é do Pará: 78 criminosos e 21 são do Amazonas. Contudo, estima-se que o número de foragidos, ainda sem identificação, seja ainda maior.’Hoje, o Comando Vermelho disputa o Brasil com o PCC’, afirma delegado ao falar do avanço da facção fluminense
Os dados não incluem traficantes provenientes do Espírito Santo, de Minas Gerais e Paraíba, que, apesar de já terem sido detectados em território fluminense, não foram identificados formalmente pela polícia.

No Rio, num espaço de intercâmbio, chefes da facção espalhados pelo Brasil ganharam blindagem e passaram a controlar territórios à distância, escondidos nos grandes complexos cariocas, o que deu estabilidade aos negócios.

Os traficantes ‘forasteiros’ identificados no Rio:

ACRE: 7
ALAGOAS: 8
AMAPÁ: 5
AMAZONAS: 21
BAHIA: 18
CEARÁ: 10
MATO GROSSO DO SUL: 2
PARANÁ: 2
RIO GRANDE DO NORTE: 1
PARÁ: 78

A migração, dessa forma, inaugura um sistema de “ganha-ganha”: de um lado, os foragidos conquistam proteção, status e novos conhecimentos no Rio; e do outro, a facção amplia franquias Brasil afora, incluindo poderio sobre rotas de escoamento de armas e drogas. A situação, segundo Carlos Antônio Luiz de Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil do Rio, tornou-se uma ameaça nacional.

— Não se trata apenas das disputas no Rio de Janeiro. Hoje, o Comando Vermelho disputa o Brasil com o PCC. Em pouco tempo, não estaremos mais discutindo somente segurança pública, mas sim soberania nacional e quem manda no país — alerta.

A rota amazônica passou a ser alvo de disputa do crime organizado sobretudo após 2016, quando o narcotraficante Jorge Rafaat, conhecido como “Rei da Fronteira”, foi morto a tiros em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. O assassinato teria tornado o PCC ainda mais dominante na região, o que dificultou o uso da “rota caipira” por outras facções.

Com isso, organizações criminosas como o Comando Vermelho buscaram novas alternativas para enviar remessas de cocaína para a Europa, avançando por cidades da Amazônia. A região tornou-se, com isso, um dos epicentros da atuação do crime organizado no Brasil.

Hoje as facções contam inclusive com redes tecnólogias, com uso de drones e internet Starlink, para driblar a polícia e importar grandes carregamentos de cocaína por rios como o Solimões.

Em alguns casos, acabam recorrendo até mesmo a vias aéreas para o tráfico de drogas e outros tipos de atividades
ilícitas.

Especialistas apontam sobreposição de crimes na Amazônia, em dinâmicas como o “narcogarimpo”, a mineração ilegal explorada por traficantes.

Em alguns casos, as mesmas redes de proteção logística das drogas blindam outras atividades. Essa ameaça à floresta é um dos assuntos que ganham força com a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), que ocorre no próximo mês em Belém.

 


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