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O Globo: CPI da Covid vai investigar uso de cloroquina e kit-covid nas aldeias indígenas

Ofício do Ministério da Saúde orienta utilização de ‘kit Covid’ na Amazônia. Povos registram alta taxa de mortalidade e também pedem apuração da comissão sobre a ação de militares em suas terras.

Profissionais de saúde atendem população da aldeia Campo Alegre, nos arredores de Tabatinga (AM). (Foto: Jorge William / Agência O Globo)

A CPI da Covid no Senado vai receber de representantes indígenas uma lista de pelos menos 15 tópicos a serem apurados pela comissão que vai investigar as ações e possíveis omissões do governo federal durante a crise sanitária nas aldeias. Entre as denúncias está uma orientação do próprio Ministério da Saúde para o uso de ivermectina e cloroquina em índios do Amazonas que apresentem sintomas da doença.

O tratamento do chamado “kit Covid” é questionado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e cientistas, uma vez que não existe nenhuma comprovação da eficácia dos medicamentos contra o coronavírus.

Ofício obtido pelo GLOBO confirma a indicação do “kit Covid” feita pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde. Ele será enviado à CPI como prova, para que o colegiado possa cobrar providências sobre o que os índios apontam como “abandono e negligência” do governo federal no combate ao vírus entre esses povos.

No documento distribuído pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Vilhena (RO) a coordenadores da Fundação Nacional do Índio (Funai) e lideranças indígenas de 144 aldeias da Amazônia, fica clara a recomendação dos medicamentos para “todos os que apresentarem sintomas como dores no corpo, tosse, dor de cabeça, febre, coriza, dificuldade para respirar, dor de garganta, perda do olfato ou paladar”.

O GLOBO fez contato com a coordenadora da DSEI Vilhena que assina o documento da Sesai, Solange Pereira Vieira Tavares, mas ela não retornou às mensagens nem às ligações. A Sesai e o Ministério da Saúde também não se pronunciaram.

Os indígenas estarão representados pela deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas; a ativista Maial Paiakan e os advogados Luiz Eloy Terena e Samara Pataxó.

— Vamos levar aos senadores a nossa preocupação com a alta taxa de mortalidade de indígenas, principalmente em contexto urbano, e denúncias de que garimpeiros aliciaram índios para trocar vacina por ouro, tudo isso em uma situação de baixa cobertura vacinal e diante do agravamento das invasões das terras indígenas durante a pandemia — adianta Joênia Wapichana.

Os indígenas também apresentarão à CPI um relatório sobre as missões das Forças Armadas em áreas mais afastadas. De acordo com o documento, algumas foram úteis e fortaleceram as ações de combate à Covid-19, mas outras foram consideradas um “teatro” e acabaram por levar mais risco do que ajuda humanitária.

A Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana, por exemplo, aponta que numa ação coordenada pelo Ministério da Defesa em conjunto com o Ministério da Saúde e a Funai no final de junho do ano passado, na qual estiveram presentes o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e o coordenador da Sesai, coronel da reserva Robson Santos Silva, entre outros representantes de Marinha, Exército e Aeronáutica, foi desrespeitada a decisão dos indígenas pelo auto-isolamento, inclusive com grande presença da imprensa internacional que acompanhava a operação.

No encontro, diz a entidade, foram entregues 16 mil comprimidos de cloroquina 150mg para as equipes de saúde nas comunidades e outros 33 mil comprimidos de cloroquina para o DSEI Yanomami.

Em outra ação comandada por um militar, o Ministério Público Federal de Roraima (MPF-RR) investiga a distribuição de cloroquina às comunidades locais. O alvo é o capitão do Exército Tárcio Alexandre Pimentel. Ele também é investigado por ter liberado a entrada de pessoas em uma aldeia sem autorização prévia. Pimentel fora nomeado para comandar o DSEI Leste de Roraima pelo então ministro da Saúde Eduardo Pazuello. O Ministério da Saúde não respondeu aos questionamentos da reportagem.

A questão indígena é uma das preocupações do governo federal durante as investigações da CPI. No documento enviado pela Casa Civil da Presidência da República a 13 ministérios há um tópico denominado “genocídio de indígenas” na lista de 23 “acusações” esperadas na comissão. O tópico, porém, não será levado pelo indígenas à comissão, como apurou O GLOBO, mas sim a questão da alta taxa de mortalidade, segundo os indígenas, agravada pela demora do governo em apresentar um plano de instalação de barreiras sanitárias de proteção nas aldeias.

— (O documento da Casa Civil) Foi uma contribuição importante para ajudar nas investigações. Aponta aspectos que estarão em nosso plano de trabalho, e a questão dos povos indígenas, que estava passando ao largo — afirmou o senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI, na entrevista coletiva após a instalação do colegiado.

Com informações do jornal O Globo.

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