Brasil
Entregadores por moto de aplicativo alegam precarização e paralisam em 59 cidades
Organizadores do “breque dos apps” alegam precarização do trabalho e pedem aumento da remuneração aos entregadores.

Entregadores de todas as regiões do Brasil marcaram para hoje, 31/3, e amanhã uma paralisação em quase 60 cidades por melhores condições de trabalho em serviços de delivery dos principais aplicativos em operação no país, como iFood, Uber Flash e 99 Entrega.
Organizadores do “breque dos apps” alegam precarização do trabalho e pedem aumento da remuneração aos entregadores. A reivindicação principal é um “aumento justo” do valor das taxas pagas à categoria, segundo Junior Freitas, uma das lideranças do ato em São Paulo. “Somos precarizados há muito tempo e sabemos que é a remuneração que dita o quanto tempo precisamos trabalhar e ficar na rua se arriscando”, diz ao site UOL.
Greve nacional tem quatro pautas centrais. São elas: a definição de uma taxa mínima de R$ 10 por corrida; o aumento da remuneração por quilômetro rodado de R$ 1,50 para R$ 2,50; a limitação da atuação das bicicletas a um raio máximo de três quilômetros; e o pagamento integral de cada um dos pedidos, nos casos em que diversas entregas são agrupadas em uma mesma rota.
Entregadores de 59 cidades aderiram à paralisação. Atos nas ruas também estão previstos para ocorrer hoje em ao menos 19 capitais. São elas: São Paulo, Maceió, Manaus, Belém, Salvador, Fortaleza, Goiânia, Distrito Federal, Belo Horizonte, João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Floripa, Curitiba, Porto Velho, Cuiabá e São Luís.
“Vai ser o maior breque da história. A adesão tem sido gigantesca”, afirmam lideranças. Vídeos que já alcançaram milhões de visualizações circulam nas redes sociais desde a semana passada convocando entregadores de todo o país a aderirem à paralisação.
Atos também buscam chamar atenção de autoridades públicas, diz liderança de São Paulo. Para Junior Freitas, a categoria entendeu que, “se o poder público não estiver do lado do trabalhador, as coisas ficam muito mais difíceis”.
“Só a gente sabe as condições de trabalho que temos na rua hoje e o quanto a gente arrisca a nossa vida. Então é uma insatisfação pela nossa indignidade. É a hora de mostrar a nossa revolta e mostrar que a gente não está mais contente com o que vem acontecendo com essa categoria, precarizada há tanto tempo”, disse Junior Freitas ao site UOL.
Manifestação ocorre após fracasso da regulamentação proposta pelo governo federal para entregadores e motoristas de aplicativo. Em maio de 2023, o Ministério do Trabalho e Emprego criou uma comissão especial com representantes de trabalhadores e porta-vozes de plataformas para costurar um acordo e apresentar um projeto de lei ao Congresso. Seis meses após o início das negociações, porém, não houve consenso e os debates foram encerrados (leia mais aqui).
iFood como alvo principal
Em São Paulo, entregadores se reunirão hoje às 10h na Praça Charles Miller, no Pacaembu, com destino à base do iFood. Uma parada está prevista para ocorrer, por volta das 12h, no vão do MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), na Avenida Paulista, antes de seguir para a sede da empresa, líder do mercado de entrega de comida na América Latina.
iFood não é o único alvo, mas o principal, dizem organizadores. A paralisação também reivindica melhores condições de trabalho por outras plataformas, mas lideranças consideram o iFood uma “base” de influência nas negociações. “Se ela muda [suas regras], as outras também mudam”, diz outro organizador do ato, conhecido como Zuppo motoboy, pelas redes sociais.
Empresa gerou receita de R$ 7,1 bilhões de reais durante o ano fiscal de 2023. O valor é o último de ganhos totais divulgado pela holandesa Prosus, que controla o iFood. Em janeiro de 2025, a líder de mercado registrou um aumento de 37% na entrada de novos restaurantes em comparação ao mesmo mês de 2024.
iFood enviou posicionamento aos organizadores do breque. Em um e-mail de resposta aos entregadores, ao qual a reportagem teve acesso, a empresa argumentou que, nos últimos três anos vem aumentando os valores do quilômetro rodado e da taxa mínima paga à categoria — elevada de R$ 5,31, em 2022, para R$ 6,50, em 2023. Disse ainda que “segue ouvindo os entregadores e trabalhando continuamente para melhorar tanto os ganhos quanto o dia a dia desses profissionais, e de todo o ecossistema de delivery”.
Empresa avisou restaurantes sobre as paralisações. Segundo apurado pela reportagem, o iFood também pediu a lideranças de entregadores que os atos ocorressem de forma pacífica, “sem bloqueios”, para que estabelecimentos e trabalhadores que não aderiram à greve não fossem prejudicados.
UOL também apurou que iFood avalia novo reajuste de taxas para 2025. Os novos valores, porém, ainda estão em fase de análise e ainda sem prazo para serem implementados.
Associação que representa iFood e outros apps de delivery, como 99, Uber e Zé Delivery, diz que “respeita o direito de manifestação” dos entregadores. Em nota, a Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) afirma que suas empresas associadas “mantêm canais de diálogo contínuo com os entregadores” e “apoiam a regulação do trabalho intermediado por plataformas digitais, visando a garantia de proteção social dos trabalhadores e segurança jurídica das atividades”.
Empresas buscam “equilibrar demandas” entre entregadores e clientes, segue Amobitec. Suas associadas, conclui em nota, “atuam dentro de modelos de negócio que buscam equilibrar as demandas dos entregadores, que geram renda com os aplicativos, e a situação econômica dos usuários, que buscam formas acessíveis para utilizar serviços de delivery”.
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