Brasil
Desenvolvimento sustentável piorou ou estagnou na maioria das cidades brasileiras e situação é mais grave na Amazônia
Série de dados completa primeira década, mostrando queda pequena na desigualdade regional, com qualidade de vida ainda muito distinta quando se compara as regiões mais e menos adensadas do país.

O Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR), que mede a evolução da qualidade de vida em aspectos sociais e ambientais, ficou estagnado ou teve recuo em 60% das localidades avaliadas em dez anos. Na média de todos os municípios, houve um avanço tímido.
A região que desperta mais preocupação em planos de desenvolvimento, segundo o IDSC, é a Amazônia Legal, que tem 75 das 100 piores cidades. Várias delas estão em zonas de expansão do agronegócio, onde a pobreza convive com o desmatamento ilegal e o garimpo.
Cerca 70% dos 30 milhões de amazônidas do Brasil, porém, vivem em cidades. Os dados mostram que muito da solução dos grandes problemas da florestas reside em melhorar as áreas urbanas da região.
A métrica, produzida pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS), leva em conta diversos indicadores dentro dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, abarcando as áreas de saúde, educação, renda, moradia, saneamento, segurança, mudanças climáticas e outros. Os números de 2025, que completam a primeira série de dez anos de dados levantados, foram divulgados em evento no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
O projeto mostra que os municípios brasileiros ainda estão muito distantes de alcançar um nível “muito alto” de desenvolvimento sustentável. Ou seja, Numa escala de 0 a 100 pontos, nenhuma cidade teve pontuação acima de 80.
“Apenas 168 (3% dos municípios brasileiros) ficaram acima de 60 pontos e a maior parte (2.643 municípios, ou 47,5% do total) encontra-se na faixa entre 50 e 59 pontos” afirma comunicado distribuído pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS).
Apesar do pequeno avanço de pontuação obtido por 40% dos municípios brasileiros (a maioria deles em regiões pobres), as desigualdades regionais seguem gritantes no Brasil.
“Das 100 cidades com as maiores pontuações, 75 estão localizadas no estado de São Paulo e 15, em Minas Gerais. Outras quatro estão no Rio Grande do Sul, três em Santa Catarina, duas no Paraná e uma em Pernambuco”, lista o documento. “O estado que concentra o maior número de cidades dentre as 100 menores pontuações é o Maranhão (39 municípios), seguido por Pará (33), Amazonas (17), Bahia (3), Acre e Piauí (2).”
O espectro de desenvolvimento em que o país se encontra varia do pequeno município de Uru (SP), no interior paulista, com 66,8 pontos, até Santana do Araguaia (PA), na fronteira agropecuária da Amazônia, com 28,4.
Entre as capitais, 12 apresentam nível médio no IDSC (entre 50 e 60 pontos), 11 registraram nível baixo de desenvolvimento sustentável (40 a 50) e duas, nível muito baixo (0 a 40). São Paulo é a capital que apresentou o melhor desempenho (57,9), e Porto Velho teve o pior (38,9). Manaus (AM), com pontuação IDSC: 47.21, ficou em 3887 lugar no rankin, com nível baixo de desenvolvimento sustentável.
Para Jorge Abrahão, presidente do ICS, apesar de todos os indicadores indiretos contribuírem para a pontuação geral, a renda da população segue aquele que pesa mais no atraso do Brasil em se desenvolver.
“Um país que tem 70% das pessoas ganhando até dois salários mínimos, que mal chega a ser um salário de sobrevivência, tem um problema muito sério relativo à erradicação da pobreza, que é o objetivo do desenvolvimento sustentável número 1”, diz o pesquisador.
Segundo ele, quando se olha para as áreas que tiveram piora e melhora, ainda que limitada, no IDCS, é possível ver o impacto que programas sociais tiveram no país. Enquanto o Pará, por exemplo, exibe várias cidades com algum nível de avançao, São Paulo, que tem o melhor nível do país, teve um pouco de recuo.
“Isso ocorre porque está havendo algum grau de investimento em políticas públicas voltadas mais para populações mais vulneráveis, como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida”, afirma. “Em cidades do Sudeste que já tinham alcançado um certo padrão, esse tipo de política tem um impacto muito menor do que ele vai ter nas cidades que estão mais carentes”.
“Se a gente não olhar para as cidades da Amazônia e de alguma forma enfrentar esse baixo padrão de infraestrutura que elas têm, dificilmente nós vamos conseguir resolver problemas como o desmatamento e a preservação da biodiversidade”, afirma. “Se uma cidade não é geradora de oportunidades de trabalho e renda, se ela não tem uma qualidade de educação, as pessoas vão acabar continuando recorrendo à ilegalidade, que vai ter um grau de atratividade maior para a sobrevivência delas”.
Abrahão afirma que o histórico de dados construído pelo IDSC tem como objetivo alavancar indicadores oficiais, como os do IBGE, para auxiliar governos de todas as esferas a planejarem e direcionarem melhor suas políticas públicas. “Um país que está entre as dez maiores economias do mundo não deveria ter 50% das suas cidades com um padrão baixo ou muito baixo de desenvolvimento sustentável”, diz.
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