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Crise entre Peru e Colômbia paralisa organização regional sobre Amazônia e preocupa governo Lula, diz O Globo

O conflito surgiu pela negativa do governo peruano em aceitar quem deveria ser o novo secretário-geral da OTCA, a a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica.

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Uma disputa entre os governos do Peru e da Colômbia paralisou um dos poucos espaços de integração regional que continua existindo na América do Sul e que é considerado essencial para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, a OTCA, integrada pelo Brasil, Venezuela, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Guiana e Suriname. As informações são do jornal O Globo, que cita fontes do governo brasileiro e diz que a situação preocupa o Palácio do Planalto, e o Brasil deve intervir nas próximas semanas para tentar aproximar posições e reativar o funcionamento da organização.

O conflito surgiu pela negativa do governo peruano em aceitar quem deveria ser o novo secretário-geral da OTCA,o colombiano Martín Vonhildebrand, muito próximo do presidente Gustavo Petro. Para assumir o comando da organização, o candidato da Colômbia precisa que todos os países-membros enviem uma carta informando que não se opõem à sua nomeação. Todos, menos o Peru, já o fizeram.

A posição do governo peruano, informaram fontes dos dois países envolvidos, é uma retaliação ao apoio dado por Petro ao ex-presidente Pedro Castillo, preso desde dezembro do ano passado por acusações de rebelião após uma tentativa de autogolpe. No início de janeiro, a Justiça peruana confirmou a condenação do ex-chefe de Estado, que ficará preso até dezembro de 2025, enquanto a Justiça investiga o suposto crime de organização criminosa, entre outros delitos.

O presidente da Colômbia questionou a detenção de Castillo, argumentando que o ex-presidente não deveria ter sido detido sem uma condenação firme. A posição pública de Petro causou profundo mal-estar no governo da presidente peruana, Dina Boluarte, que assumiu o poder após a saída de Castillo.

A crise na OTCA, criada em 1995 com base no Tratado de Cooperação Amazônica, de 1978, é mais um problema para Lula, que assumiu seu terceiro mandato com a expectativa de impulsionar a integração regional. Depois do fim da União de Nações Sul-americanas (Unasul), o aumento das tensões no Mercosul — cenário que complicou-se ainda mais com a posse de Javier Milei na Argentina — e as dificuldades para consolidar o chamado Consenso de Brasília (selado em maio de 2023 numa conturbada cúpula de chefes de Estado da América do Sul, em Brasília), o Brasil precisa agora salvar a OTCA, único organismo multilateral com sede no Brasil.

Esta semana, encerraram seus mandatos o ex-diretor da organização, o embaixador brasileiro Carlos Alfredo Lazary Teixeira, e a ex-secretária-geral, a boliviana María Alexandra Moreira López. O governo colombiano enviou uma carta a todos os governos que integram a OTCA no final da semana passada, informando que “vai se abster de participar de todos os ambientes políticos e técnicos” da organização enquanto não for resolvida a questão do novo secretário-geral.

Assim, a OTCA entrou numa fase de paralisia, da qual só sairá se o Brasil conseguir que o Peru aceite que a Colômbia assuma o comando da secretaria-geral, como indica o regulamento — com base em uma rotatividade que segue a ordem alfabética dos países que integram a organização.

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A OTCA é considerada importantíssima por Lula não apenas pela política de preservação do meio ambiente e combate às mudanças climáticas. A organização é, também, um ambiente no qual a Venezuela de Nicolás Maduro enfrenta menos resistências por dela não fazerem parte países como a Argentina de Milei, que é crítico a Caracas. Um ambiente que, na visão de fontes do governo brasileiro, facilita o objetivo de Lula de reaproximar a Venezuela de seus vizinhos.

No final da semana passada, Lula conversou por telefone com Petro sobre os incêndios que enfrenta o governo colombiano em seu país. Segundo fontes de Bogotá, a questão da OTCA não foi discutida, mas o Brasil está ciente da crise e vai intervir.

Os chanceleres da Colômbia e do Peru conversaram nas posses dos presidentes do Equador, Gustavo Noboa, em Quito, e de Milei, em Buenos Aires. Mas o conflito continua, e nos últimos dias Bogotá redobrou as pressões, provocando a paralisia da organização.

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