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Com apoio de cientistas, indígenas pedem 80% da floresta amazônica preservada até 2025

Se desmatamento passar de 20%, floresta pode atingir em 15 anos um “ponto de não retorno” para se converter em savana; cientistas defendem titulação de terras indígenas para evitar colapso.

Gregório Mirabal. (Foto:Reprodução)

A reivindicação dos povos indígenas da Amazônia de frear o desmatamento com 80% da região ainda preservada até 2025 tem respaldo na ciência, porque, se isso não for feito, a floresta pode cruzar em 15 anos seu “ponto de não retorno”, limite a partir do qual não se sustenta mais sozinha. Essa foi a mensagem que Carlos Nobre, um dos cientistas pioneiros no estudo desse fenômeno, passou na conferência do clima no Egito (COP27).

Em uma apresentação ao lado do venezuelano Gregorio Mirabal, líder da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), o cientista disse que o objetivo, apelidado de “80 por 25”, está alinhado com o trabalho do Painel Científico da Amazônia, grupo internacional que coordena. Os dois se encontraram em evento lateral da COP27, transmitido via internet.

Nobre e Mirabal lançaram ontem o relatório Amazônia Viva, baseado no trabalho do painel diagnosticando a saúde da floresta. A publicação, produzida pela organização não governamental WWF, é uma espécie de sumário executivo do trabalho técnico, em linguagem para formuladores de políticas e público geral.

O cientista e o líder indígena afirmaram que o momento atual permite algum otimismo, porque o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tem demonstrado disposição em frear o desmatamento, e Gustavo Petro, da Colômbia, tem impulsionado a agenda. O novo trabalho ressalta, porém, que a sobrevivência da floresta não depende mais só dos países que a abrigam.

— Mesmo que, milagrosamente, o mundo consiga reduzir as emissões e cumpra o Acordo de Paris, se nós continuarmos na mesma rota dos desmatamentos e da degradação da Amazônia, nós vamos ultrapassar o ponto de não retorno em 15 a 20 anos — afirmou Nobre, fazendo referência à meta do tratado que prevê zerar emissões até 2050.

Um cenário inverso também pode ocorrer, também com consequências drásticas para a floresta, disse ele:

— Mesmo que nós tenhamos sucesso em frear desmatamento, fogo e degradação na floresta, caso as emissões de combustíveis fósseis continuem sem limites, o aquecimento do planeta passaria de 1,15°C para 2,5°C, e a temperatura média na Amazônia aumentaria em mais de 3°C. Nesse cenário as secas seriam também muito mais intensas e frequentes, e isso também levaria ao ponto de não retorno — explicou.

Mirabal reagiu a Nobre pedindo que que as delegações indígenas nesta COP cobrem de autoridades de países ricos e nações tropicais que os dois problemas sejam abordados.

— A ciência está dizendo na nossa cara que a Amazônia vai se converter em um deserto — afirmou o líder indígena, hoje baseado no Equador.

A informação é do Jornal O Globo.

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