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Com apoio da Nasa, novas pesquisas ajudam a monitorar e proteger territórios na Amazônia

No Brasil, intuito do projeto Servir-Amazônia é melhorar gestão territorial do bioma e sistemas de alerta precoces de riscos além de expandir conhecimento para pautar políticas públicas.

Dezenas de pesquisadores de instituições como a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (Nasa), universidades brasileiras, secretarias estaduais do Brasil, técnicos de ONGs e de outro parceiros se uniram para realizar quatro projetos de pesquisa, com o objetivo comum de entender territórios na Amazônia, para melhor monitorá-los e protegê-los.

Os trabalhos visam munir órgãos responsáveis e a população com informações e ferramentas que ajudem a manter a conservação da floresta de pé.

Os quatro projetos fazem parte da iniciativa Servir-Amazônia, que é uma parceria entre a Nasa, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), a Aliança Internacional da Biodiversidade, o Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Segundo Isabel Garcia Drigo, gerente de Clima e Emissões do Imaflora, na América do Sul, o objetivo principal do programa é desenvolver, capacitar e transferir soluções tecnológicas geoespaciais. “A iniciativa visa fornecer informações aos órgãos governamentais para contribuir para a tomada de decisão na Amazônia em quatro principais eixos temáticos: Secas e Incêndios; Desastres hídricos e hidrológicos; Gestão de Ecossistemas; Clima, Mineração, Restauração e Carbono (CO2)”, explica.

No Brasil, o intuito é compreender as necessidades para a melhoria da gestão territorial do bioma amazônico e promover iniciativas que possibilitem a expansão e disseminação do conhecimento adquirido por meio da realização de treinamentos e capacitações aos parceiros no setor de recursos naturais da região.

Um dos projetos busca entender qual o impacto das mudanças no uso da terra na região sudoeste da Amazônia na dinâmica do carbono. A floresta amazônica contém um dos maiores estoques de CO2 de biomassa do planeta e abriga 25% da biodiversidade terrestre global. No entanto, as áreas de estudo desse projeto – Acre, no Brasil, e Madre de Dios, no Peru – enfrentam desafios significativos, como o aumento da pressão do desmatamento causado pela ação humana e eventos climáticos extremos.

“Nosso objetivo é desenvolver uma ferramenta para os usuários da nossa região de estudo para o monitoramento de dinâmica de carbono florestal usando sensoriamento remoto”, conta o coordenador da inciativa, Izaya Numata, professor assistente de pesquisa da South Dakota State University, nos Estados Unidos.

De acordo com ele, o projeto busca desenvolver dados históricos e atuais de estoque de CO2 florestal, utilizando dados ópticos da Nasa, para avaliar a perda e o sequestro de carbono ao longo do período de 2000 a 2023. “O objetivo principal é avaliar o impacto das perturbações, como desmatamento, incêndios, seca e fragmentação, na dinâmica desse elemento na região sudoeste da Amazônia”, explica.

A expectativa é que os resultados indiquem mudanças de estoque de CO2, como perdas desse elemento associadas com distúrbios (desmatamento, fogo, secas extremas) e sejam úteis para as tomadas de decisão dos usuários em relação às políticas e gestões ambientais. “Como, por exemplo, conservação, uso de recursos naturais e créditos de carbono.” diz Numata.

Um segundo projeto procura entender de que maneira a compreensão dos sistemas hidrológicos na Bacia Amazônica pode apoiar a conservação ambiental da região. “Estamos desenvolvendo previsões subsazonais a sazonais de clima, recursos hídricos e vegetação, com o objetivo de prever as condições com várias semanas a meses de antecedência”, conta o coordenador do trabalho, Ben Zaitchik, professor da Johns Hopkins University.

Essas previsões poderão ampliar o horizonte de alerta precoce para uma série de perigos preocupantes na Amazônia, o que inclui risco de malária, potencial para inundações e secas e condições de incêndio, por exemplo. “Em nosso estudo, estamos trabalhando com parceiros no Brasil, Peru, Equador e outros países para avaliar a utilidade dessas previsões e integrá-las aos sistemas de alerta precoce existentes”, diz Zaitchik.

Verificar como aplicar informações de satélites no mapeamento da agricultura amazônica é o objetivo de outro projeto. “A meta é ajudar as instituições que tem como missão monitorar a expansão da agricultura na Amazônia”, conta a pesquisadora Naiara Pinto, da Nasa. “Trabalhamos bastante com a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], que executam o projeto TerraClass, pelo qual buscam entender a atribuição do desmatamento, ou seja, depois que uma área foi desmatada de acordo com o Prodes [Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite, também do Inpe], quantificar o que substitui essas áreas desmatadas.”

Segundo ela, com essa informação é possível catalisar muitos projetos de apoio aos produtores rurais, de conservação e de sequestro de carbono. “Nós esperamos desenvolver um produto que tenha várias aplicações, mas no primeiro momento, o objetivo maior é que seja um ferramenta robusta e que conte com a participação das populações locais e das instituições brasileiras.”

Os projetos estão em diferentes fases de desenvolvimento, uns no início e outros mais avançados, já com resultados concretos. Um deles é o uso do RAMI, uma plataforma de monitoramento por satélite, para a detecção de áreas de mineração. “Com base nessa detecção, por meio de sensoriamento remoto, utilizando imagens de radar e ópticas, nós vamos correlacioná-las com dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) para entender quais são os aspectos daquela mineração nos polígonos definidos pelo governo”, explica Drigo.

O objetivo é verificar se está em um estágio inicial de licença, de implantação e se é uma área de mineração legal, por exemplo. “É importante, para além de detectar esses dados, entender qual a relação desses fenômenos da paisagem com os marcos regulatórios, com a legislação, para que a gente consiga extrair indicadores de informação”, diz a dirigente do Imaflora. “Esse ponto é o principal diferencial: tornar tangível a geoinformação é útil para a tomada de decisão pelos agentes públicos.”

A utilização de um sistema de laser, anexado à Estação Espacial Internacional, para obter informações de mudanças de biomassa ou captura e estoque de carbono na floresta, é outro resultado das pesquisas. Esse sistema faz parte da missão da Nasa Global Ecosystem Dynamics Investigation (GEDI) que mede como o desmatamento contribuiu para as concentrações atmosféricas de CO2.

Segundo Numata, o GEDI captura as informações de estruturas de vegetações, como as florestas, globalmente. “Esses dados são muito importantes para estimar a biomassa vegetal”, explica. “Devido a algumas limitações desse sensor – por exemplo os dados dele estão disponíveis apenas a partir de 2019 e são coletados como amostras (não cobre a superfície da terra) –, não podemos produzir os dados de biomassa de forma contínua e antes de 2019. Então, vamos combinar o GEDI com outros sensores, como Landsat, para superar essas limitações.”

As informações são do site Um Só Planeta.

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