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Chuvas na Amazônia aumentaram em até 22% em 30 anos, aponta estudo científico

As estiagens também se tornaram mais severas, registrando crescimento de 8% a 13% no mesmo período.

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Um novo estudo publicado nesta terça (17) na revista científica Communications Earth & Environment conseguiu quantificar transformações nos ciclos hidrológicos da Amazônia.

Os períodos de chuva tiveram aumento de 15% a 22% de 1980 a 2010. As estiagens também se tornaram mais severas, registrando crescimento de 8% a 13% no mesmo período.

Os dados reforçam os contrastes que a população da região já observa em tragédias. Um exemplo disso pode ser visto em cidades do Acre que, em março deste ano, foram atingidas pelas cheias dos rios, levando o governo federal a decretar estado de emergência.

Meses atrás, o mesmo estado também decretou emergência, mas por causa das estiagens. A seca na bacia amazônica no ano passado foi classificada como uma das mais severas da história, de acordo com estudo da OMM (Organização Meteorológica Mundial), vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas), impactando cerca de 745 mil pessoas.

Neste novo estudo, pesquisadores das universidades de Birmingham, Leeds e Leicester, no Reino Unido, e do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), no Brasil, analisaram marcas de crescimento de duas espécies distintas de árvores para constatar transformações que ocorrem na atmosfera.

“Todo ano, as árvores crescem um pouco durante a estação de crescimento principal delas. Depois, param de crescer ou crescem muito devagar. Quando isso acontece, elas formam marcas na madeira que chamamos de anel de crescimento”, explica o brasileiro Bruno Cintra, principal autor do estudo e pesquisador atualmente na Universidade de Birmingham.

Os cientistas analisaram a presença do isótopo de oxigênio, um marcador químico que indica a quantidade de chuvas em larga escala, nos anéis de crescimento de duas espécies de ecossistemas diferentes: o cedro (Cedrela odorata), espécie de terra firme, e a arapari (Macrolobium acaciifolium), que cresce em região de várzea.

“Os isótopos de oxigênio na água da chuva, que é usada pelas árvores, refletem a quantidade de chuva que aconteceu em larga escala durante todo o transporte de umidade. Quando as árvores usam essa água da chuva, elas registram esses isótopos na madeira delas”, explica Cintra.

Os resultados mostraram que o sinal isotópico de oxigênio diminuiu nas árvores que crescem na estação chuvosa, indicando aumento de chuvas nesta estação. E aumentou nas espécies que crescem no período de secas, apontando diminuição de chuvas nesta estação.

Segundo os pesquisadores, uma das principais hipóteses que explicam esse fenômeno é a mudança na temperatura da superfície dos oceanos. O processo intensifica a circulação atmosférica e interfere no ciclo hidrológico da Amazônia.

Enquanto a superfície do oceano Pacífico Equatorial Leste ficou mais quente, tornando a estação chuvosa mais chuvosa, o resfriamento na superfície do oceano Atlântico Tropical impacta na estação seca, tornando-a mais intensa.

Embora esses ciclos possam ser considerados processos naturais, evidências científicas apontam que, no caso do oceano Atlântico, o aquecimento da temperatura pode ser influenciado pelo aquecimento global.

“Se isso realmente está acontecendo e o aquecimento global continuar aquecendo a temperatura da superfície do mar no Atlântico, então é possível que nos próximos anos a situação piore”, afirma Cintra.

O pesquisador lembra que as mudanças climáticas na Amazônia provocam também consequências no restante do Brasil. Por meio da evapotranspiração, a floresta tropical é responsável por “levar” a chuva a outros pontos do país, como o estado de São Paulo.

“Se esses extremos climáticos começarem a afetar a saúde da floresta, isso pode impactar também o processo de ‘reciclagens de chuvas’. E esse é, essencialmente, o motor do transporte de chuva em larga escala.”


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