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Ao menos 14 traficantes de outros estados que se escondem no Rio são do Amazonas, diz jornal

Para o delegado-geral do Pará, Walter Resende, a ida de traficantes para o Rio se dá pela geografia e pela dificuldade das ações policiais em favelas.

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O Rio tem hoje ao menos 101 traficantes de outros estados escondidos em comunidades na Região Metropolitana, todas dominadas por facções criminosas, segundo dados da Polícia Civil. Entre eles, estão 14 do Amazonas, ligados à facção criminosa Comando Vermelho (CV), na Favela Parque União e no Complexo do Alemão. As informações são do jornal O Globo.

ao-menos-14-traficantes-de-outA coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carolina Grillo, diz que o movimento migratório não é recente. Fundado no Rio no fim da década de 1970, o CV, maior facção fluminense, já havia se expandido para outros estados, principalmente os do Norte-Nordeste, há pelo menos dez anos. A partir do momento que esse fluxo começa, ele passa a acontecer em mão dupla. Carolina citou ainda a criação dos presídios federais, em 2006, como outro fator que fez com que as facções se expandissem: cada chefe preso mobiliza um grupo de bandidos para a região onde se encontra. E, ainda, o fato de ser mais fácil um criminoso conhecido passar despercebido em outro estado:

“Ele se muda para estados onde não são tão visados, já que a atuação das polícias estaduais (em operações de busca) é maior”, diz.

Antropólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio, Paulo Storani afirma que a grande quantidade de comunidades controladas pelo tráfico em áreas urbanas, o alto número de bandidos presentes nelas — há uma estimativa de que sejam, ao todo, 56 mil, segundo um relatório da Subsecretaria de Integração e Planejamento Operacional, da Polícia Civil — e as muitas armas às quais eles têm acesso são atrativos para quem quer se esconder:

“Além disso, a polícia (Militar, responsável pelo policiamento ostensivo) não tem capacidade de atuar em todas as comunidades. Deveria ter 60 mil homens e tem um déficit de 17 mil”, afirma.

Ações em favelas

Na semana passada, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou um relatório sobre a situação da segurança no Rio, no contexto da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, que limita as operações policiais em favelas. Em respostas a perguntas do CNJ, a Polícia Civil afirma que “após a implementação da ADPF 635, lideranças de facções oriundas de outros estados, associadas às facções existentes no Rio de Janeiro, passaram a priorizar o estado com intuito de homizio (esconderijo)”.

Para o secretário de Segurança do Rio, Victor Cesar Santos, fatores como a grande densidade demográfica, que faz com que bandidos passem despercebidos, e os locais de difícil acesso para a polícia nas comunidades, como regiões de mata e esconderijos, atraem os bandidos para o estado.

Nas comunidades do Rio também estão 12 dos 13 chefes da principal facção do Pará, o Comando Vermelho (CV) — o que não está no Rio se encontra preso. Essa migração acontece, na maior parte das vezes, depois que os bandidos têm a prisão decretada. Mas o controle sobre seus redutos permanece, com ordens passadas por meio de outros integrantes das quadrilhas ou de advogados.

No Pará, ações policiais deflagradas após uma escalada nas mortes de agentes públicos entre 2021 e 2022 podem estar ligadas à vinda não só dos 12 chefões do CV como também de outros três bandidos, todos escondidos nos complexos da Penha, na Zona Norte do Rio, ou do Salgueiro, em São Gonçalo.

Para o delegado-geral do Pará, Walter Resende, a ida de traficantes para o Rio se dá pela geografia e pela dificuldade das ações policiais em favelas. Ele afirmou também que os bandidos de seu estado que estão escondidos no Rio ensinam a seus cúmplices táticas adotadas pelo Comando Vermelho, entre elas a exigência de pagamento de taxas pelos comerciantes. “Da Vila Cruzeiro ou do Salgueiro, eles comandam ações aqui. Seja contra agentes públicos ou pela modalidade latente agora, no Pará, de extorsões a comerciantes”, diz.

‘Hospedagem’ paga

Superintendente regional Norte da Polícia Civil do Espírito Santo, Fabrício Dutra explicou que o movimento de traficantes para o Rio ocorre, principalmente, com chefes do tráfico e pessoas diretamente ligadas a eles. Um estudo feito pela polícia capixaba mostra que o fator financeiro está diretamente ligado à migração.

“Segundo os relatórios de inteligência, eles pagam por essa hospedagem. Percebemos que aqueles chefes mais altos, que movimentam uma certa quantidade de dinheiro no mundo do tráfico de drogas e de armas, preferem o Rio”, informa.

Cerca de dez criminosos do Espírito Santo estão escondidos hoje na capital fluminense. De acordo com dados de inteligência da Polícia Civil do Rio, eles se concentram no Complexo do Alemão. Em dezembro passado, uma operação conjunta entre os estados tentou prender cinco suspeitos na Nova Holanda, no Complexo da Maré, mas nenhum foi encontrado.

Entre as prisões de forasteiros feitas no Rio, estão a de Dielson Assunção Filho, detido na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha (ele é condenado por tráfico de drogas no Pará) e de Lindemberg Vieira da Silva (apontado como traficante na Paraíba), encontrado no Complexo do Chapadão, na Zona Norte carioca.

“Precisamos imaginar que existem organizações criminosas que são transregionais, e o Comando Vermelho é uma delas. Ele está hoje em 21 estados na federação”, afirmou.

Segundo ele, há uma dificuldade também na expedição de mandados judiciais, como os de busca e apreensão — as favelas têm vielas sem nome ou que são nomeadas informalmente pelos moradores: “Sem contar, claro, com as dificuldades devido às construções irregulares. A residência é inviolável, salvo autorização judicial. Mas como expedir um mandado de busca e apreensão? Qual é o endereço certo? O criminoso enxerga todas as complexidades como oportunidades”.

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