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Brasil

Amazônia: Relatório aponta que garimpeiros, madeireiros e grileiros reocupam áreas

Informação consta do boletim anual do Instituto Socioambiental e do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato divulgado nesta segunda-feira (28).

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Apesar da queda geral de 18,2% no desmatamento em 2024, Terras Indígenas (TIs) com povos isolados continuam sendo devastadas por garimpeiros, madeireiros e grileiros, inclusive em regiões anteriormente desmatadas que estavam em processo de recuperação ambiental.

É o que revela o boletim anual do Sirad-I, lançado nesta segunda-feira (28) pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi).

O levantamento traz dados alarmantes: mais de 2 mil hectares foram desmatados em áreas com presença de povos indígenas isolados — o equivalente à derrubada de mais de 1,2 milhão de árvores. Só na Terra Indígena Piripkura, o boletim identificou a destruição de 12 mil árvores em área que estava se regenerando desde um desmatamento ocorrido há 17 anos. “Essa vegetação havia renascido como capoeira, mas voltou a ser alvo dos invasores em julho passado”, detalha Tiago Moreira, antropólogo responsável pelo monitoramento.

O relatório, que cobre 33 áreas e 224 milhões de hectares, inclui pela primeira vez sete territórios na Bacia do Rio Xingu, onde a exploração ilegal de madeira disparou nos últimos dois anos. TIs como Kayapó, Mundurucu e o Território Indígena do Xingu concentraram 60% da destruição registrada em 2024.

A TI Kayapó também liderou os focos de incêndio, com 40% de todas as queimadas nas áreas monitoradas, e um aumento de mais de 2.000% em relação ao ano anterior. O relatório destaca a conexão entre mudanças climáticas e o avanço das atividades ilegais, agravando a fragilidade ambiental desses territórios.

As medidas de proteção implementadas ao longo do ano — como a renovação de cinco portarias de apoio à Força Nacional e o reconhecimento oficial da área Mamoriá Grande, no sul do Amazonas, via ADPF 991 — não foram suficientes para conter o avanço das invasões. A Terra Indígena Jacareúba-Katawixi, por exemplo, teve um aumento superior a 500% no desmatamento comparado a 2023, atribuído à pressão de empreendimentos próximos à BR-319 e ao complexo hidrelétrico do Rio Madeira.

A TI Zoró, alvo de garimpo ilegal, perdeu mais de 92 hectares — um aumento de 103% em relação a 2023 — com 21,5% da destruição atribuída às áreas de mineração clandestina. “O movimento de repressão em TIs como Yanomami, Kayapó e Mundurucu parece estar deslocando os garimpeiros para áreas ainda menos fiscalizadas”, alerta o boletim.

Em Mundurucu, o desmatamento atingiu 159 hectares (equivalente a 244 campos de futebol), com 74% relacionado à abertura de novas áreas de extração. Uma operação federal de desintrusão foi iniciada em novembro, mas seus efeitos ainda não podem ser medidos.

Embora a TI Piripkura tenha registrado queda de quase 90% no desmatamento após a renovação da Portaria de Restrição de Uso em 2023 — que havia sido suspensa durante o governo Bolsonaro —, o novo avanço sobre áreas regeneradas acende um sinal de alerta sobre a fragilidade da proteção vigente.

A publicação reforça que, apesar dos esforços do governo e da sociedade civil, o enfrentamento à devastação das Terras Indígenas exige medidas mais contundentes e permanentes, especialmente para garantir os direitos e a sobrevivência dos povos indígenas isolados.

Relatório completo, acesse o link.


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