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Brasil

Ala dissidente do Pros quer investigação da PF sobre “candidatos fantasmas”

Investigações iniciais indicam que R$ 18 milhões foram repassados pela legenda para candidatos que não ultrapassaram 500 votos, cada um.

O ex-presidente nacional do Partido Republicano da Ordem Social (Pros) Marcus Holanda afirmou à CNN que aguarda o avanço da investigação da Polícia Federal sobre repasses suspeitos da legenda a candidatos que tiveram desempenho inexpressivo nas eleições deste ano.

Holanda, que é perito aposentado da Polícia Civil, ainda aguarda um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode decidir se manterá o partido sob o comando de seu adversário, o atual presidente, Eurípedes Jr., ou não.

Nesta quarta-feira (30), a Polícia Federal realizou uma operação no Amazonas, onde foi registrado um dos casos com maior suspeita de desvio de recursos públicos do fundo eleitoral repassados pelo Pros.

A operação teve como alvo a candidata a deputada federal Adriana Mendonça (Pros) e seu ex-marido Henrique Oliveira (Podemos), dois beneficiados com recursos públicos do Pros nas eleições de 2022.

O inquérito ao qual Holanda se refere tramita em sigilo na Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal (Delinst). O ex-presidente do Pros disse ter mantido contato com a delegada responsável pelo caso há meses, mas que desde outubro não consegue contato com ninguém ligado à investigação.

Inicialmente, diante da aparente paralisia das investigações, o perito aposentado da Polícia Federal demonstrou incredulidade em relação ao avanço da apuração. Com a operação deflagrada pela PF nesta quarta (30), mostrou-se animado.

“Desde 2014, o Pros (sob o comando de Eurípedes Jr.) é investigado. Contudo, agora a operação está sendo coordenada por uma delegada comprometida e determinada em apurar a fundo todos os desvios dessa grande escada de corrupção”, afirmou à CNN.

Holanda trava uma disputa judicial pelo comando da sigla com Eurípedes Jr., atual presidente da legenda que reassumiu a presidência do partido neste ano e liderou o processo de apoio à candidatura do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Conforme a CNN revelou em outubro, dezenas de candidatos do Pros que tiveram um desempenho eleitoral inexpressivo receberam recursos públicos do fundo eleitoral. Ao todo, foram R$ 18 milhões repassados pela legenda para esses candidatos, que não ultrapassaram 500 votos cada um.

A baixa votação e os repasses vultosos que alguns dos candidatos receberam levantam suspeitas de que não tenha havido empenho por parte de alguns deles e que suas candidaturas tenham sido de fachada.

O ex-presidente do Pros relatou como se deu o contato com a Polícia Federal e de onde surgiu a investigação envolvendo os candidatos inexpressivos.

“No dia 15 de junho tive audiência com a delegada que estava empenhada nas investigações das denúncias contra o Eurípedes –furto da gráfica, não devolução de 11 veículos, sumiço do helicóptero dentre outras. Posteriormente continuou responsável pela investigação sobre os desvios de recursos do fundo eleitoral”, afirmou Holanda.

“Meu último contato foi dia 19 de outubro através de WhatsApp (…) Estive apenas duas vezes presencialmente, os demais contatos foram por WhatsApp. Ela pediu que não a visitasse porque tinha servidor PF me monitorando e passando informações para o Eurípedes”, completou.

A CNN apurou que a PF já ouviu alguns integrantes do Pros a respeito de supostas irregularidades no repasse de recursos do fundo eleitoral. Alguns dos casos revelados pela CNN foram apresentados aos investigadores. O inquérito tramita em sigilo, segundo três fontes ouvidas pela reportagem.

Marcus Holanda assumiu o comando do partido neste ano após uma decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Após um vai-e-vem na Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu devolver a presidência da sigla a Eurípedes Jr.

A partir desta sexta-feira (2), o TSE vai julgar um recurso que deve definir se o partido continuará ou não sob o comando do atual presidente. Assim que retomou o poder na sigla, Eurípedes Jr. capitaneou a retirada da candidatura à Presidência da República de Pablo Marçal e o apoio do Pros à candidatura de Lula. Atualmente, o Pros integra a equipe de transição do governo eleito.

Agora, a ala liderada por Marcus Holanda aguarda uma possível decisão da Justiça Eleitoral que possa devolver o controle do partido, que anunciou, em outubro deste ano, que se fundiria ao Solidariedade como forma de ultrapassar a cláusula de desempenho e manter o acesso a recursos do fundo partidário. O processo burocrático, porém, é demorado.

A CNN entrou em contato com a Polícia Federal sobre as declarações do ex-presidente nacional do Pros. A PF disse que “não se manifesta sobre declarações de terceiros” e que pode abrir procedimento para investigar possível vazamento de informações do inquérito.

“A Polícia Federal não se manifesta sobre declarações de terceiros. Caso haja coincidência entre o conteúdo das falas e o teor existente em investigações sob sigilo, será aberto procedimento apuratório de vazamento de informações com responsabilização penal e administrativa”, afirmou a corporação, em nota.

A CNN também entrou em contato com a defesa de Eurípedes Jr. O advogado Bruno Pena, que o representa, disse que desconhece a investigação atual e que inquéritos antigos abertos contra o atual presidente do Pros foram arquivados por falta de provas contra Eurípedes.

“Desconheço essa investigação que ele [Marcus Holanda] cita. De fato, todas as anteriores que tentaram fabricar contra Eurípedes foram arquivadas por falta de evidências, porque era parte de uma trama que objetivava tomar a direção do partido”, afirmou.

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