Amazonas
Sociedade Max Planck diz que investirá 17 milhões de euros na Torre Alta da Amazônia, em cooperação com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Em entrevista ao site Metrópoles, presidente de organização da Alemanha que atua na Amazônia prometeu recursos para pesquisas até 2030.

Em entrevista ao site Metrópoles, o diretor da sociedade alemã Max Planck, Martin Stratmann Cramer, afirma que as descobertas feitas no âmbito do projeto Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO), gerido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) são capazes de contribuir para a formulação e discussões de políticas climáticas ao redor do mundo — como as previstas para acontecer na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP30), que será realizada na capital do Pará, Belém, em novembro.
Para dar continuidade ao trabalho da ATTO, o presidente da Sociedade Max Planck prometeu investimentos na casa dos 17 milhões de euros — cerca de R$ 106 milhões — nos próximos cinco anos.
Além de ser um dos maiores sumidouros de carbono do planeta Terra, a Floresta Amazônica desempenha outros papéis fundamentais para a regulação climática global. De acordo com pesquisas recentes, partículas orgânicas liberadas na região sobem a altitudes maiores do que o previsto, atuando diretamente na formação de chuvas.
Confira a entrevista com o presidente da Sociedade Max Planck, Martin Stratmann Cramer:
A Sociedade Max Planck mantém uma colaboração de longa data com o INPA na Amazônia. Quais foram os principais avanços científicos alcançados nesses 10 anos do projeto ATTO, e como esses dados podem influenciar políticas climáticas globais?
Nossos cientistas descobriram que moléculas e partículas orgânicas que emanam da floresta tropical sobem muito mais alto na atmosfera do que pensávamos anteriormente. Essas moléculas e partículas desempenham um papel na formação da chuva, e o mecanismo de formação das nuvens agora é melhor compreendido. Independentemente disso, conseguimos fazer um registro muito estável e de longo prazo de dados sobre os gases de efeito estufa na atmosfera, o que melhorou ainda mais a compreensão das mudanças climáticas. Nós iremos cumprir a nossa responsabilidade com a comunidade mundial e continuaremos esse trabalho. Para isso, a Sociedade Max Planck disponibilizará cerca de 17 milhões de euros até 2030.
Diante da realização da COP30 no Brasil, qual o papel que o conhecimento científico deve ter nas decisões políticas e nos acordos internacionais sobre o clima?
A ciência não pode substituir o processo político, mas pode e deve fornecer os fatos e sempre trazer evidências para o processo político. Fazemos isso com prazer e frequentemente. Em 15 de outubro de 2025, fiz uma palestra em Brasília sobre os 10 fatos mais importantes sobre as mudanças climáticas, na qual apresentei novamente esse conhecimento de forma compreensível para todos.
A floresta amazônica é considerada um ponto crucial no equilíbrio climático global. Quais os maiores riscos identificados atualmente nas pesquisas feitas em parceria com o Brasil, e o que mais preocupa a comunidade científica alemã?
Por um lado, a Floresta Amazônica é realmente muito importante como sumidouro de carbono. Isso significa que a região amazônica absorve dióxido de carbono da atmosfera e o armazena por meio da fotossíntese na forma de biomassa, como madeira. Aliás, a floresta amazônica funciona como sumidouro de carbono durante todo o ano, enquanto outras florestas do mundo só realizam fotossíntese em determinadas épocas do ano. Por isso, e devido ao fato de a região amazônica ser tão vasta, ela é muito importante para o clima. Por outro lado, porém, a região amazônica e as muitas pessoas que vivem nela também estão ameaçadas pelas mudanças climáticas. As enchentes e secas estão se tornando mais frequentes, o que leva a níveis extremos nos rios e já está causando a morte de animais e plantas. A biodiversidade também está diminuindo cada vez mais em todo o mundo devido às mudanças climáticas.
A cooperação internacional em ciência tem se mostrado essencial, especialmente frente a desafios globais como a crise climática. Quais são os planos futuros da Sociedade Max Planck para expandir ou aprofundar sua presença e parcerias no Brasil e na América Latina?
Tivemos conversas muito positivas, com muita confiança, com cientistas, financiadores e políticos. Vamos ampliar a cooperação bem-sucedida com a América Latina e, em especial, com o Brasil. Ainda este ano, vamos lançar o edital para dois novos Centros Max Planck, que devem ser inaugurados em 2026. Eles serão mantidos e financiados por ambas as partes e oferecerão a muitos jovens talentos um ambiente ideal para pesquisa de ponta.
O que o Brasil pode fazer para fortalecer a infraestrutura de pesquisa e ampliar a participação em projetos científicos globais?
Após a posse de Lula, vivemos um grande clima de otimismo. Agora é preciso aproveitar isso. Trata-se da troca de talentos, de projetos de pesquisa conjuntos que geram efeitos sinérgicos e, acima de tudo, de uma coisa: é preciso promover a excelência científica e dar aos melhores pesquisadores a liberdade de seguir seus interesses. Assim, sempre surgirão conhecimentos inovadores.
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