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Amazonas

Predominância da variante Delta e baixo risco para Covid-19 no AM contradizem cenários, avaliam cientistas

Para especialistas, ainda não é o momento para relaxar ações de combate à pandemia; explode casos na região fronteiriça

Variante Delta é predominante no Amazonas – Foto: Eduardo Prado

O avanço no número de novos casos de Covid-19 nas regiões do Alto Solimões e Alto Rio Negro, com registro até de surto da doença em São Gabriel da Cachoeira e fechamento de estabelecimentos comerciais por 15 dias em Tabatinga, se choca com a informação divulgada pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVF-AM) de que o “Amazonas permanece em baixo risco para Covid-19”. A notícia vai de encontro ao que a própria FVS noticiou na última quarta-feira (27), em que alertou para o “risco aos municípios sobre predominância da variante Delta no estado”.

Para o epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana, as informações divulgadas pela FVS não retratam o cenário real da pandemia em todo o Amazonas. Ele destaca que os dados divulgados nas duas matérias da fundação são genéricos “se levarmos em consideração o que acontece nas regiões fronteiriças do Amazonas com Peru e Colômbia”.
“Como epidemiologista não confio, não acho interessante, crível, você fazer uma avaliação ampla de um estado do tamanho do Amazonas por meio de uma estatística estadual. Aí está o grande equívoco da fundação e do Governo do Estado, que é o mesmo equívoco desde o início da pandemia. Você fala de uma forma genérica do estado, mas ao mesmo tempo você tem situações mais ameaçadoras e menos ameaçadoras e elas ficam ocultadas quando você olha o estado como um todo e não às particularidades de regiões, como a gente acabou de destacar em relação ao Alto Solimões e Alto Rio Negro”, avaliou Jesem.

Jesem Orellana ressaltou que a FVS informa que o Amazonas está em baixo risco (de contaminação) e ao mesmo tempo emitiu um alerta de risco informando que houve uma substituição na predominância de variantes detectadas pela vigilância genômicas do estado.

”Então, nós tínhamos até poucos meses atrás a variante Gama e agora ela foi substituída praticamente pela variante Delta. Esse é o primeiro ponto do alerta de risco. Mas de uma forma muito genérica dizendo, na realidade, de que mesmo com essa substituição de variante, não estamos observando um aumento de casos ou que o número de casos continua caindo. Esta interpretação ao mesmo tempo diz alguma coisa e não diz nada. A situação epidemiológica no Alto Rio Negro e no Alto Solimões parece estar se complicando, ao contrário do que essa visão mais geral e imprecisa do estado do Amazonas aponta ou seja quando você considerada todos os dados ao mesmo tempo, faz a população acreditar que está tudo bem em todos os lugares, o que não corresponde aos fatos. Ao contrário, reproduz a interpretação desonesta que nos levou ao caos em 2020 e 2021”, declarou.

Contradição

Já o doutorando em programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Lucas Ferrante salienta que as informações divulgadas pelo Governo do Amazonas geram uma contradição. Ele ressalta que ainda não é o momento para relaxar no combate à pandemia.

“Dizer que a pandemia está controlada é um pouco além do que a situação que se observa e isso pode colocar a população em risco novamente. Nós precisamos ser realistas de que a pandemia não acabou. As informações divulgadas pela FVS são contraditórias. Um comunicado de risco para os municípios de predominância da Delta e depois indicar que o Amazonas permanece em baixo risco são informações que levam às pessoas a interpretar de forma diferente a mesma questão. Com base nos nossos modelos epidemiológicos, nós não descartamos a ocorrência de uma terceira onda para Manaus e para o Amazonas. Embora esta onda seria bem menor que a segunda onda, talvez um pouco menor que a primeira onda , nós temos que lembrar que nós não vacinamos nem metade de toda a população”, explicou Lucas.

O cientista, que previu a segunda onda Covid em Manaus, informou que o comportamento da população vai decidir o recrudescimento ou não da pandemia. “Então, o Amazonas ainda tem o risco de uma terceira onda e por isso que as ações da população serão cruciais para determinar o fim da pandemia ou ocorrência de uma terceira onda. Embora, hoje, nós tenhamos poucos casos e uma baixa de casos de Covid-19, é importante não relaxar todas as medidas porque com o aumento da mobilidade urbana isso tende a fazer os casos a aumentar novamente. Lembrando que nós produzimos a variante Gama com a mesma receita, então não é o momento de afrouxar todas as medidas. A uilização de máscaras ainda é crucial e vai ainda ser obrigatória por boa parte de 2022, mesmo quando a gente não registrar casos de coronavírus”, destaca Lucas, ressaltando que “de fato as informações da FVS são um pouco conflitantes, pelo que se tem registrado nas regiões de fronteira, inclusive Benjamin Constant , Tabatinga”, comentou.

Alertas
Na tarde de ontem (28/10), a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) e a Fundação de Vigilância em Saúde emitira Comunicado de Risco, notificando os municípios sobre a predominância no estado de 89% dos casos de Covid-19 pela Variante de Preocupação (VOC) Delta (B.1.617) do novo coronavírus (Sars-CoV-2). O comunicado informou que, a partir de novos resultados de exames de RT-PCR processados pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM), amostras foram submetidas ao sequenciamento pela Fiocruz Amazônia, resultando em 173 novas amostras confirmadas para a Delta, e 2 amostras confirmadas para a Variante de Interesse (VOI) Mu. No total foram detectados 197 casos de Delta e 4 casos da Mu no Amazonas, demonstrando maior frequência da variante Delta (89%), sobretudo na capital Manaus.

Horas depois, ainda na quarta, a SES divulgou que o Amazonas segue em baixo risco para transmissão da Covid-19, permanecendo na fase amarela (fase 2). A diretora-presidente interina da FVS, Adriana Elias, informou que, mesmo com o cenário epidemiológico de Covid-19 atual, é necessário manter as medidas preventivas à infecção, levando em consideração que 89% dos casos da doença no Amazonas são, predominantemente, da Variante de Preocupação (VOC) Delta (B.1.617) do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

Vejas as notícias completas:
https://www.fvs.am.gov.br/noticias_view/5720
https://www.fvs.am.gov.br/noticias_view/5724