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Amazonas

‘Pós-pandemia’: cientistas desmentem e criticam declaração do governador do Amazonas

Conforme a Fundação de Vigilância Sanitária, o Amazonas ainda está na fase vermelha, que corresponde à classificação de alto risco para transmissão de Covid-19

A segunda onda da Covid-19 no Amazonas colapsou a rede de saúde em janeiro de 2021 -Foto: SES/AM

A declaração do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), de que o Estado vive a “pós-pandemia”, gerou preocupação e revolta entre pesquisadores. Na terça-feira (17), ao justificar trocas no alto escalão do governo, Wilson destacou que “são mexidas estratégicas entendendo o momento em que a gente está vivendo, agora, de pós-pandemia e que a gente precisa avançar em algumas áreas, principalmente na área social”.

Para o cientista Lucas Ferrantes, doutorando do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), de Manaus, que previu a segunda onda da Covid-19 em Manaus, com a declaração, Wilson Lima induz a população amazonense ao risco de nova contaminação. “O governador mentiu ao dizer que nós vivemos um momento de pós-pandemia. A pandemia ainda está ativa e ainda não pode ser considerada o fim da pandemia no Amazonas. Falas como essa colocam toda a população em perigo e dão a entender que a pandemia está passando, o que não é verdade, inclusive, já se projeta uma terceira onda em Manaus nos próximos dois meses. Inclusive, já nos reunimos com a Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas, ao qual reconheceu este risco”, disse Ferrante.

De Washington (EUA), a pesquisadora do Observatório Covid BR, Mônica de Bolle, disse que nenhuma autoridade no mundo é capaz de classificar o momento como pós-pandêmico.

“Ninguém, nenhum estado, país, liderança política, podem falar em pós-pandemia. Nós não estamos vivendo momento pós-pandêmico de maneira nenhuma. Em nenhum lugar do mundo. Nem os países que já não têm epidemias, como Nova Zelândia e outros, podem se declarar pós-pandêmicos”, destacou a cientista. “Enquanto a pandemia estiver no mundo, ela pode ressurgir em qualquer lugar. Esse vírus, que causa a Covid-19, é um vírus incendioso. É um vírus que está em processo de adaptação a nós e estando em processo de adaptação, ele está mutando e se transformando, evoluindo, e, portanto, ele pode ressurgir a qualquer momento”, afirmou a cientista.

Para Mônica de Bolle, o atual momento em que o Brasil atravessa não foi visto em nenhum local do mundo, nem mesmo nos EUA com os altos índices de mortes e de internações. “Nenhum país passou pelo que o Brasil está passando agora. Nem os EUA. Eu falo, aqui, de Washington, e, aqui, a situação ficou sim em situação fora de controle, o número de casos ainda é alto e de morte também. Estão caindo esses números porque a campanha de vacinação está avançando rapidamente. Aqui, em nenhum momento houve colapso hospitalar generalizado. A situação de colapso é extremamente dramática e a gente ainda vai muitos óbitos de Covid nas próximas semanas tendo em vista a escalada de casos”, declarou.

Segundo Mônica de Bolle, “a gente já viu esta situação no Amazonas e aconteceu duas vezes”. “Na primeira vez, houve um enorme senso de complacência, depois que passou o pior daquela crise de saúde pública, inclusive, com pessoas falando sobre alcance de imunidade de rebanho que a gente sabe que é uma enorme falácia, e cerca de oito meses depois o estado do Amazonas viveu um momento absolutamente crítico, muito pior que o primeiro”, completou.

Mundo paralelo

Para o pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Alexander Steinwetz, os números da Covid-19 no Estado baixaram, mas ainda estão em nível “muito preocupante”. “Lamento dizer que quem falar em momento de pós-pandemia, agora, me parece viver em um universo paralelo. A situação em Manaus ainda é muito delicada em relação à Covid-19”, disse.

Conforme a Fundação de Vigilância Sanitária (FVS), o Amazonas ainda está na fase vermelha, que corresponde à classificação de alto risco para transmissão de Covid-19. Na quinta (19/03), a Fundação registrou mais 962 novos casos de Covid-19, totalizando 335.394 casos da doença e mais 36 mortes, elevando para 11.708 o total de óbitos.

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