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Amazonas

PF volta a local de massacre no Amazonas para dar seguimento às investigações

A PF concluiu que a morte de oito pessoas em agosto de 2020 nas comunidades indígenas e ribeirinhas do Rio Abacaxis, no Amazonas, foi uma ação de vingança de policiais militares pelo assassinato de dois colegas.

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A Polícia Federal (PF) informou que realizou, entre os dias 15 e 23/4, uma missão à região do Rio Abacaxis com para dar seguimento às apurações sobre os envolvidos no massacre em que seis pessoas foram executadas e outras duas desapareceram, nos municípios de Nova Olinda do Norte e Borba, no Amazonas, em agosto de 2020. De acordo com a PF, a missão também visa buscar reparações para vítimas e familiares.

“Pretende-se, ainda, congregar esforços institucionais e sociais que produzam um espaço de articulação intersetorial e interfederativa para que se crie uma agenda de trabalho de mediação de conflitos e de fortalecimento de políticas públicas territoriais e sociais, voltadas às comunidades tradicionais da região”, informou a PF.

A PF concluiu que a morte de oito pessoas em agosto de 2020 nas comunidades indígenas e ribeirinhas do Rio Abacaxis, no Amazonas, foi uma ação de vingança de policiais militares pelo assassinato de dois colegas. Entre os mortos na operação da PM organizada supostamente para prender o suspeito do crime contra os policiais, havia dois irmãos indígenas mundurukus sem evidências de envolvimento com o caso, segundo o inquérito.

O inquérito indiciou o ex-secretário de Segurança Pública do Amazonas, coronel Louismar Bonates, e o coronel da Polícia Militar Airton Norte. Ao todo, cerca de 130 policiais, entre civis e militares, suspeitos de participar das ações, são investigados.

A PF também apura se a ação tem relação com o garimpo ilegal que utiliza a região como rota, numa disputa por comando territorial. “A existência de uma atividade sistêmica na região do Rio Abacaxis de garimpo ilegal é mais um indício da atuação de uma poderosa organização criminosa”, informa o inquérito.

Em nota, o advogado Demétrio Weill, que representa Bonates e Ayrton Norte, negou que os oficiais tenham cometido crimes. O advogado sustenta que Bonates, “diante da notícia de crimes ocorridos na região do Rio Abacaxis”, apenas determinou a operação policial, e “sequer esteve na região”. Weill acrescentou que Ayrton apenas comandou a operação para apurar a morte dos dois PMs, “cometido por traficantes que dominam aquela região e que mantêm a comunidade local refém”. O advogado alegou também que Ayrton determinou a abertura de inquérito militar para esclarecer denúncias de irregularidades. A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas não se manifestou.

De acordo com o inquérito, o conflito começou em julho de 2020, quando o então secretário do Fundo de Promoção Social do Amazonas, Saulo Moysés da Costa, foi pescar com amigos na área, que é protegida. Moradores impediram que o grupo prosseguisse, houve uma discussão, seguida de um disparo. Costa relatou que foi atingido de raspão. Segundo depoimentos de moradores à PF, ele teria dito que voltaria ao local armado.

Em 3 de agosto de 2020, de acordo com a investigação da Polícia Federal, um pequeno grupo de PMs — sem farda, identificação ou mandado — voltou à área na mesma lancha usada pelo secretário e foi recebido a tiros pela população, o que levou à morte dos dois agentes. A Secretaria de Segurança atribuiu os assassinatos a um suposto traficante da região, conhecido como Bacurau.

A partir do dia seguinte, segundo o relatório da PF, “foi instalado terror na região, com abordagens violentas e suspeita de diversas ações que culminaram em lesões corporais e morte”.

A PF reuniu mensagens dos moradores que narravam a invasão dos PMs. “Eles foram chegando, pulando na beira, com armamento em cima da gente, mandando a gente botar a mão na cabeça. Ficamos todos no terreiro e eles invadindo as casas tudinho aqui”, relata um homem em um áudio de WhatsApp.

O relatório da PF descreve torturas e ameaças a partir de depoimentos, mensagens e análises periciais. Na comunidade de Santo Antônio do Lira, investigadores apontaram o caso de uma criança que foi trancada em um freezer. Policiais com toucas que cobrem o rosto chegaram a “despejar combustível nas pessoas no interior de suas moradias e riscar isqueiro”, enquanto perguntavam sobre o paradeiro de Bacurau. Casas em aldeias foram queimadas.

O corpo de um dos indígenas mortos foi achado decapitado. Três pessoas de uma mesma família ribeirinha tiveram os corpos jogados no rio perto de uma área indígena.

Para a PF, houve uma “constante tentativa de ocultação e destruição de provas, quando verificada a amarração de pesadas pedras aos tornozelos de três vítimas para que afundassem no rio, com técnica de nós peculiares de pessoa com treinamento específico como policiais militares”.

Após várias incursões na floresta, a PF concluiu que Bacurau não era “um megatraficante de drogas”, como descrito pela PM à época. Apesar de cultivar pés de maconha, ele vivia em “condição famélica”, segundo a investigação, “o que no jargão policial se denomina: um simples pé de chinelo”, supostamente escolhido como “bode expiatório”.

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