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Amazonas

Pesquisa mapeia árvores gigantes na Amazônia para entender a altura e proteger seu entorno

Quatro expedições já foram realizadas, nas quais eles encontraram, entre dezenas de “espigões”, dois exemplares colossais da espécie angelim-vermelho, com 85,44 metros.

Expedição encontrou árvores gigantes, entre elas um angelim-vermelho, no Amapá. (Foto: Divulgação / UEAP)

Árvores de cerca de 80 metros, com o dobro do tamanho do Cristo Redentor, equivalentes a prédios de 30 andares, eram algo desconhecido na Amazônia até pouco tempo atrás. Em 2019, porém, um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificou várias dessas gigantes em sobrevoos e, desde então, chegar até as “mães da floresta”, localizadas numa espécie de santuário entre o Pará e o Amapá, tornou-se a obsessão de um grupo de pesquisadores.

Quatro expedições já foram realizadas, nas quais eles encontraram, entre dezenas de “espigões”, dois exemplares colossais da espécie Dinizia excelsa, o angelim-vermelho, um deles com espantosos 85,44 metros de altura e 9,45 metros de circunferência. Agora mesmo, os cientistas estão embrenhados na mata, desde o dia 12 deste mês, em uma nova incursão com o objetivo de, finalmente, chegar a um angelim-vermelho ainda maior, identificado do céu, mas nunca de perto. Trata-se de uma titã de mais de 88 metros.

Enraizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, essas anciãs com idades estimadas em mais de 500 anos mostraram como a Floresta Amazônica ainda pode guardar uma porção de mistérios. As descobertas também enfatizam a necessidade de se proteger todo o entorno dessas árvores, e iniciativas nesse sentido já estão em curso no Norte do Brasil.

— As nossas florestas estão cheias de vida, e a cada nova descoberta se faz necessário criticar a exploração não planejada e sem a adoção de práticas sustentáveis, voltada somente para a produção. Essas árvores maiores possuem características físicas e estruturais capazes de permitir a vida de animais que ainda nem conhecemos e, por terem maior biomassa, são capazes de capturar mais carbono — explica o engenheiro florestal Marcelo Callegari Scipioni, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O projeto é coordenado pelos professores Eric Bastos Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), e Diego Armando, do Instituto Federal do Amapá (Ifap), com participação também da Universidade do Estado do Amapá (Ueap). Eles querem entender como uma árvore pode chegar a esses tamanhos. Em artigo publicado sobre o estudo, Gorgens explicou por que esses “arranha-céus” devem ser considerados extraordinários. Antes dessas descobertas, os maiores exemplares registrados não chegavam a 80 metros.

Segundo o especialista, quanto maior a árvore, maiores os riscos de se quebrar com rajadas de vento ou por não aguentar seu próprio peso. Além disso, a altura excepcional restringe o volume de água que chega até a copa. “À medida que as árvores se tornam mais altas, a resistência hidráulica e o peso da coluna de água aumentam o estresse hídrico”, pontuou o professor.

Ameaça de desmatadores

Até o momento, sabe-se que os exemplares gigantes de angelim-vermelho crescem entre os vales, o que impede a ação do vento e favorece o crescimento numa busca por luz do sol para fazer a fotossíntese. Além disso, é provável que a espécie tenha maior capacidade de absorção de gás carbônico, pois 50% de sua massa é composta de CO2.

Mas, justamente por serem raras, as árvores gigantes não passam desapercebidas pelos madeireiros. Uma expedição recente revelou que o santuário onde os angelins-vermelhos estão localizados precisa ser protegido da ameaça representada por dois garimpos ilegais, instalados a cerca de apenas três quilômetros de distância da área. De acordo com os pesquisadores, o potencial comercial da espécie atrai a cobiça de criminosos, que têm atuado mais intensamente na região devido às falhas na fiscalização até mesmo nas unidades de conservação ambiental da Região Norte.

— Passamos por garimpos dentro da reserva. Se a exploração ilegal avançar, vai ameaçar essa árvore e a biodiversidade do entorno — afirmou o professor Diego Armando após voltar de uma expedição em outubro do ano passado.