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Amazonas

Pesquisadores lançam na COP 27 roteiro para reflorestar a Amazônia em larga escala

Um corredor verde poderia ser recriado a partir da Colômbia, passando pelo Peru e Bolívia e chegando até o Maranhão.

Parar o desmatamento na Amazônia não é suficiente para combater a crise climática — é preciso reflorestar. Um grupo de pesquisadores lançou ontem a ideia de transformar o processo de destruição da Amazônia através de arcos de restauração no Sudeste, Sul e Leste da região. Através da iniciativa, um corredor verde poderia ser recriado a partir da Colômbia, passando pelo Peru e pela Bolívia e chegando até o Maranhão.

“Nossa ideia era tentar entender como poderíamos parar com o processo de destruição da floresta e ver onde isso poderia ser feito”, diz Jos Barlow, um dos autores e pesquisador da Lancaster University.

“Isso não custa pouco. Estamos falando de dezenas de bilhões de dólares. Precisamos trazer o mundo dos investimentos públicos e privados para fazer a restauração”, disse o climatologista Carlos Nobre, co-chair do Painel Científico da Amazônia, em evento na COP 27. “Restaurar a floresta é essencial para o equilíbrio climático”, disse.

A Amazônia já perdeu 17% de sua floresta e aproxima-se do chamado ponto de não retorno, a partir do qual não consegue se regenerar e transforma-se em uma savana.
“No Sul da Amazônia, a estação mais seca dura cinco semanas a mais. Isso é uma enorme mudança”, diz Nobre.

No policy brief apresentado ontem em Sharm el-Sheikh, os autores dizem que a restauração em larga escala da floresta pode ser feita cumprindo-se sete metas.
O primeiro passo, explica o texto, é evitar o desmatamento e a degradação e atingir o desmatamento zero em 2030. Baseados na média dos últimos cinco anos, e se nada for feito para interromper a destruição da floresta, os autores calculam que a dinâmica derrubaria mais oito milhões de hectares até 2030, apenas na região da Amazônia brasileira.

“Existe uma grande oportunidade de restauração em escala em terras públicas recém-desmatadas e nas terras ainda não destinadas”, diz Barlow, que também é professor de ecologia da Universidade Federal do Pará. “Em algumas dessas áreas não é preciso plantar nada, apenas deixar a floresta se refazer naturalmente”.

Evitar a degradação florestal seria outra meta nesse mosaico de ações para refazer a Amazônia. Isso permitiria que mais de 100 milhões de hectares recuperassem seus estoques de carbono, a biodiversidade e os serviços prestados pelo ecossistema.

Em áreas abertas desde 2015 existe um potencial de recuperação de mais de 1,8 milhão de hectares que podem ser recompostos pela própria ação da natureza, calculam os autores do estudo.
Nas áreas protegidas da Amazônia há mais 0,8 milhão de hectares que poderiam ser regenerados sem a necessidade de gastos excessivos no plantio de árvores.

O fundamental, contudo, é resolver a questão fundiária dessas áreas, dizem os pesquisadores.
Outra frente é a da restauração em terras privadas. Há duas possibilidades. Na primeira, cumprir a lei e plantar áreas de reserva legal em propriedades com passivo ambiental. Só no município paraense de Paragominas existem 522 quilômetros de rios e 904 nascentes que devem ser restauradas.

“Mas é possível ir além disso. Um estudo feito no Pará mostra que existem cinco milhões de hectares em beiras de rios que não precisam ser restaurados pela legislação, mas poderiam. E isso só no Pará”, diz Barlow. “É preciso criar mecanismos e incentivos para ir além da lei”, sugere.

Outra possibilidade são os 24 milhões de hectares de áreas moderadamente ou severamente degradadas. “Para ter restauração em larga escala, é preciso ter políticas adequadas”, recomenda o texto do estudo lançado em painel que aconteceu ontem no pavilhão do Consórcio dos Governadores da Amazônia Legal, na COP 27.

Tratava-se de um evento do Painel Científico da Amazônia criado em 2019 e que tem hoje mais de 200 pesquisadores, 2/3 da Amazônia brasileira e dos outros países latino-americanos que compartilham a maior floresta tropical do mundo.

“Hoje o principal vetor de desmatamento da Amazônia chama-se especulação de terras”, disse Ane Alencar, pesquisadora do Ipam e também uma das palestrantes do painel.

As informações são do site Valor Econômico.

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