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Amazonas

Pesquisador alerta sobre a persistência da segunda onda de Covid no Amazonas

A constatação se baseia em dados do painel InfoGripe, da Fiocruz, que monitora os casos de SRAG (Síndromes Respiratórias Agudas Graves) no país, e das Secretarias Estaduais de Saúde.

Dados sobre a pandemia de Covid-19 no Amazonas já indicam uma retomada da segunda onda da doença e a possibilidade de um agravamento da crise sanitária no estado, um dos mais afetados pelo novo coronavírus. Em janeiro de 2021, cidades como Manaus registraram mortes de pacientes por falta de oxigênio nos hospitais. O alerta foi feito pelo epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) do Amazonas, em documento enviado à Defensoria Pública, ao Ministério Público e aos parlamentares que integram a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia, no Senado. As informações são do site Nexo.

A constatação se baseia em dados do painel InfoGripe, da Fiocruz, que monitora os casos de SRAG (Síndromes Respiratórias Agudas Graves) no país, e das Secretarias Estaduais de Saúde.

A situação do Amazonas é um dos temas que estão sendo analisados na CPI da Covid no Senado, que apura as ações e omissões do governo federal durante a pandemia, além do repasse de recursos para estados e municípios.

Na quinta-feira (6), o vice-governador do estado, Carlos Almeida Filho (sem partido), afirmou ter havido uma combinação entre o governador, Wilson Lima (PSC), e o presidente Jair Bolsonaro para adotar a estratégia de imunidade de rebanho, estágio no qual o vírus para de circular depois de uma parcela expressiva da população se infectar, o que resulta num alto número de mortos pela doença.

O Amazonas foi atingido duramente por uma segunda onda de Covid-19 em janeiro de 2021 devido às flexibilizações das medidas restritivas no final do ano anterior e ao aparecimento de uma nova cepa mais transmissível do vírus no estado, batizada de P.1, que logo se espalhou por todo o país.

Depois de um pico em janeiro, os casos começaram a cair até o final de março. Dados do InfoGripe mostram que houve uma retomada da segunda onda na semana de 4 a 10 de abril no Amazonas. Desde então, ao longo de três semanas consecutivas, os casos de síndromes respiratórias agudas graves voltaram a crescer.

São classificadas como SRAG pacientes com febre, tosse ou dor de garganta e dispnéia (falta de ar) ou saturação de oxigênio abaixo de 95%. Nem toda síndrome respiratória é causada pelo novo coronavírus, mas a maioria dos registros tem sido de Covid-19, o que possibilita o acompanhamento da pandemia pelo indicador.

“Há todos os movimentos clássicos da retomada ou do recrudescimento da segunda onda em Manaus. Primeiro, uma desaceleração na queda da incidência entre março e abril. Depois, uma ou duas semanas de estabilização da incidência em patamares altos. E, agora, no final de abril e início de maio, um crescimento sustentado por três ou quatro semanas na incidência. Se pegarmos esses três elementos, tecnicamente pode-se falar em retomada ou recrudescimento da segunda onda de Covid-19”, afirmou Orellana ao Nexo.

Outro indicador apontado pelo epidemiologista em seu alerta é o número de exames de antígeno com resultado positivo entre todos os testes realizados no estado, segundo dados do governo do Amazonas.

Entre o final de março e a segunda semana de abril, os resultados positivos ficaram em torno de 8,2% e 8,9%. Já do final de abril para o começo de maio, a taxa pulou para 10,8% e 11,2%. Isso significa que mais pessoas estão sendo identificadas com o vírus, indicando um aumento de casos.

Orellana lembra que o indicador de mortalidade não anda junto com o de incidência de casos novos e de internações, por exemplo. Um aumento de casos de Covid-19 ou de SRAG vai aumentar o número de internações e de mortes depois de 15 ou 20 dias, devido ao tempo de incubação do vírus no organismo, que é de cerca de duas semanas.

Para o pesquisador da Fiocruz do Amazonas, o recrudescimento da segunda onda no estado se deve às flexibilizações com a pandemia ainda em patamares muito altos. As reaberturas começaram a acontecer em 22 de fevereiro de 2021, de forma “precoce e rápida”, segundo ele.

Durante o período de afrouxamento das regras, o risco de morte por Covid-19 no Amazonas era de 30,2 para cada 100 mil habitantes (nas semanas entre 7 de fevereiro e 27 de fevereiro de 2021). Esse valor, como ressalta Orellana, é 310% maior do que o registrado no período da flexibilização após o pico da primeira onda em 2020 — o risco de morte, na época, era de 7,4 para cada 100 mil habitantes.

“Portanto, o cenário de precoce, rápido e amplo relaxamento das medidas de distanciamento físico em Manaus parece ter causado o recrudescimento ou a retomada da segunda onda, a qual deve ter seu perfil de mortalidade alterado devido a vacinação de grupos prioritários, em especial dos maiores de 59 anos”

Para evitar um aumento de mortes, o pesquisador defende a “revisão dos relaxamentos em curso”, como a autorização para eventos com até 100 pessoas e o retorno ao ensino presencial. Segundo ele, é fundamental a ampliação da testagem, rastreamento de contatos e da vacinação contra a Covid-19.

“O período mais crítico na região Norte é justamente agora, em março e abril. E, justamente nesse período, o governo do Amazonas simplesmente eliminou do vocabulário a palavra sazonal e fez as flexibilizações. É algo que preocupa. Mas eu me diria até mais preocupado com as regiões Sudeste e Sul, porque agora em maio e junho que elas entram no período de mais dificuldades com essas doenças respiratórias, com as síndromes gripais. Com certeza vai ser um elemento a mais que vai tornar o cenário mais desafiador”, disse.

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