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Amazonas

Parintins vive apreensão diante de futuro incerto sobre festival, diz O Globo

Adiada pela pandemia, 55ª edição do evento ainda tem chance de acontecer este ano, no mês de novembro.

Em 55 anos de história, esta é a primeira vez que o Festival Folclórico de Parintins corre o risco de não acontecer. Um baque com efeitos devastadores em termos financeiros, mas também no campo simbólico, com o possível hiato do evento. As informações são do jornal O Globo.

Tombado em 2018 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o festejo consiste em uma lúdica disputa a céu aberto entre duas das maiores agremiações folclóricas do país: os bois Garantido e Caprichoso.

Tradicionalmente realizado no último fim de semana de junho, o festival teve a edição de 2020 — entre os dias 26 e 28 — suspensa por tempo indeterminado. Agora, nos bastidores, ventila-se a possibilidade de que ocorra em novembro, mas o martelo ainda está longe de ser batido.

Com cerca de 120 mil habitantes, a cidade de Parintins fica a 365 quilômetros de distância a leste de Manaus, principal porta de entrada de turistas em busca do festival. A capital do Amazonas foi a primeira no país a chegar ao colapso de seu sistema de saúde com a pandemia. Hoje, o estado tem a marca de quase 50 mil casos do novo coronavírus e 2,3 mil mortes.

“Tudo vai depender da situação sanitária do estado, especialmente de Manaus. Nossa alta temporada de navios turísticos, que dura até o fim de março, já foi afetada. Se não houver o festival, então, está prevista uma calamidade econômica”, desabafa Bi Garcia (PSDB), prefeito de Parintins. “No mês do festival, geralmente um taxista consegue ganhar em 15 dias de corrida o que demoraria cinco meses para embolsar”, disse.

Em 2019, Parintins bateu recorde, recebendo mais de 66 mil turistas para os três dias de festa no Bumbódromo, na ilha Tupinambarana, onde é travada a batalha entre Garantido e Caprichoso. Segundo levantamento do Departamento de Estatística da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), de 2005 a 2018 o evento injetou R$ 426 milhões na economia local.

Vitrine

Números tão imponentes acabam naturalmente sendo vetores de preocupação para os organizadores do evento, diante de uma clara possibilidade de um ano em branco. Uma lacuna que afetaria a vida não somente de quem curte a festa, mas principalmente de quem a deixa de pé.

“São mais de 10 mil empregos gerados nos três meses de preparação. Só no ano passado o festival movimentou R$ 80 milhões para nossa economia. Barqueiros, setor de hotelaria, alimentação… todos precisam do evento para contribuir financeiramente em casa”, alerta o prefeito.

Mas há quem aponte perdas para além das cifras. Afinal de contas, além de ser crucial fonte de renda para a economia de Parintins, o embate dos bois é uma das manifestações mais importantes da cultura popular brasileira. E o adiamento de sua realização abala diretamente seu campo de simbolismos.

Presidente do Conselho de Artes do Caprichoso, Ericky Nakanome afirma que a “lógica ritualística” do festival já foi quebrada, uma vez que foram cancelados todos os ensaios das marujadas (nome dado ao conjunto de ritmistas das agremiações).

“Outro aspecto dramático diz respeito à confecção da festa: os mateiros, nome dado aos coletores de matéria-prima, recolhem palha e cuia nesta época”, pontua Nakanome, prevendo um estranhamento caso o festival aconteça mesmo em novembro. “E o calor? Vai estar beirando 40 graus. As cores, os peixes, tudo é diferente”, afirma.

A não realização de Parintins na data original também atrapalha cerca de 25 outras festas de interior, que ocorrem na sequência. “Serão vários boizinhos amazônicos sem desfilar”.

E por falar em desfile, outro ponto de atenção dos parintinenses é o futuro do carnaval do Rio e de São Paulo. Para Júnior de Souza, diretor artístico do Garantido, o festejo dos bois é uma vitrine fundamental para os profissionais locais: “Todo ano saem, em média, 400 pessoas daqui para trabalhar com as escolas de samba, cariocas e paulistas”.

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