Amazonas
Maconha ‘ horripilante’, muda rota do tráfico e apreensões pela Polícia Federal disparam este ano no Amazonas
Mais cara, mais potente e também muito mais perigosa para o organismo humano, a maconha creepy tem esse nome pelos fortes efeitos atordoantes que causa.

Uma variedade de maconha desenvolvida na Colômbia, chamada de creepy, está mudando as rotas do tráfico no Brasil. Escondidos em embarcações, carregamentos dessa droga cruzam a fronteira por rios do Estado do Amazonas e de lá são distribuídos por redes de tráfico na região. As informações são do Valor Econômico.
Mais cara, mais potente e também muito mais perigosa para o organismo humano, a maconha creepy tem esse nome pelos fortes efeitos atordoantes que causa. Creepy, em inglês, significa horripilante, assustador, estranho.
“Temos visto um aumento expressivo do tráfico da marijuana creepy. Antes, na região Norte, dos rios amazônicos, não é que não apreendêssemos essa maconha colombiana, mas era uma quantidade muito menor. O que prevalecia era o tráfico de cocaína na região. Mas nos últimos dois anos começamos a aprender mais essa maconha creepy na região Norte do que cocaína”, disse o delegado da Polícia Federal Osvaldo Scalezi Júnior, chefe da Divisão de Repressão a Drogas, da Coordenação-Geral de Repressão a Drogas, Armas, Crimes Contra o Patrimônio e Facções Criminosas da PF.
Entre janeiro e julho deste ano, foram apreendidas no Amazonas, segundo dados da PF, 8,2 toneladas de maconha, boa tarde dela da variante apelidada pelos colombianos de creepy. No mesmo período, as apreensões de cocaína registradas pela PF no Estado ficaram em 680 quilos. A polícia não tem pronto um histórico de apreensões da maconha creepy.
“O que se pode ponderar é que essa tendência de apreensões de creepy começou entre um a dois anos, algo bem recente, mas com impacto bem maior atualmente”, diz Scalezi. Um relatório recente do Ministério da Justiça sobre o tráfico de drogas na Amazônia aponta que a província colombiana de Caquetá é o polo produtor da creepy.
Diferentemente da cocaína, que, em grande medida, passa pelo Brasil para chegar à Europa, a maconha creepy trazida para o Brasil é majoritariamente consumida no país. O que essa variante tem de distintivo é o teor de THC, princípio ativo encontrado na planta e principal responsável pelo efeito psicoativo.
A porcentagem de THC da maconha comum varia entre 0,5% e 5%, conforme números citados pelo “Glossário de Termos sobre Drogas”. “A porcentagem de THC da maconha potencializada do tipo creepy gira em torno de 24%.” O glossário foi publicado em outubro de 2023 pelo Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc) e Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos da Colômbia (Simci).
Efeitos colaterais da maconha creepy são muito mais nocivos” — Zila Sanchez “O problema é que os efeitos colaterais da maconha creepy são muito mais nocivos”, diz Zila Van Der Meer Sanchez, chefe do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Quanto maior a concentração da THC, maiores os riscos de que o usuário venha a desenvolver transtornos psicóticos, maior também o risco de dependência e maiores os impactos cognitivos. Sanchez lembra que embora, às vezes, seja usada como sinônimo de outra droga (skunk), a creepy tem características próprias.
Ainda muito popular entre jovens, a maconha usada na fase de desenvolvimento tem um impacto na construção das conexões neuronais associadas ao córtex préfrontal. E uma vez que essas conexões sejam comprometidas pelo uso de maconha na adolescência elas não serão estabelecidas da mesma forma mais tarde. É um déficit que poderá gerar implicações nas tomadas de decisão, na regulação emocional e na saúde mental.
Se a maconha convencional já dispara alerta nos médicos, com a creepy a preocupação e os riscos se multiplicam. A droga produzida na Colômbia tem sido encontrada por ora mais em municípios do Amazonas, mas a tendência é que vá se espalhando pelo Norte, Nordeste e para o centro-sul.
Scalezi diz que se, por um lado, as rotas da supermaconha colombiana ganham força no Brasil, as tradicionais rotas da cocaína que passam pelo país rumo à Europa parecem estar perdendo um pouco de relevância. O país segue sendo usado como rota da cocaína até portos na África e na Europa.
“Até alguns anos atrás, o Brasil era a principal rota da droga que chegava à Europa, mas com o implemento de fiscalizações mais rotineiras nos portos, a utilização de scanner nos portos e o sucesso investigações da Polícia Federal essa rota passou a ser mais da Colômbia para o Equador, para o canal do Panamá até chegar à Europa.”
Outra rota monitorada é a que liga Colômbia à Venezuela e ao mar do Caribe, onde veleiros aguardam pacotes de cocaína para o trecho transtlântico. Em maio, pela primeira vez, a PF apreendeu um semisubmersível usado para o tráfico. Era uma embarcação de pesca adaptada para navegar pouco abaixo da linha d’água, lembra Scalezi. Outro semisubermesível foi apreendido em Portugal. Os submersíveis foram conduzidos por criminosos por rios Amazônicos até o mar do Caribe, onde, então, eram carregados rumo à Europa.
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