Amazonas
Fábrica em Barcelos (AM) produz água a partir da umidade do ar; produto é bebida de luxo em Paris
A empresa, situada na cidade de Barcelos, no Amazonas, se integra à economia da região e às comunidades indígenas desde a sua fundação, diz o empresário.

A ideia surgiu há mais de duas décadas, mas foi em 2015 que começou a se tornar realidade com a criação da marca Ô Amazon Air Water, empresa que hoje exporta água engarrafada para o mundo inteiro. Em Paris, hotéis de luxo, como o Ritz, já aderiram ao produto único.
Cal Junior nasceu no Rio de Janeiro, mas sempre manteve forte conexão com a natureza pelo fato de sua mãe ter origens amazônicas. Há mais de uma década, ele resolveu empreender em algo inusitado: a transformação da umidade dos “rios voadores” da Amazônia em água potável.
O empresário contou à RFI que a ideia surgiu por volta de 2009, quando realizou pesquisas sobre a tecnologia AWG (Atmospheric Water Generator). “Eu comecei a estudar energia, resíduos sólidos e água. Em um determinado momento, acessei a tecnologia que produz água da umidade do ar. O primeiro insight foi desenvolver a tecnologia e desenvolver máquinas que possam produzir água. Dessa forma, atender uma necessidade da água para consumo humano”. Mas após uma análise de mercado, Cal entendeu que seria mais interessante vender o resultado da produção desta tecnologia.
A partir disso, o carioca foi em busca do “ar mais puro do mundo”, onde instalou sua empresa. Fundada às margens do rio Negro, em Barcelos, no estado do Amazonas, no prédio de uma antiga fábrica de palmito inserida em uma área de 175 hectares dentro da floresta, a Ô Amazon Air Water se diferencia por sua tecnologia, criada para condensar a umidade do ar em água de alto padrão de qualidade.
Como é o processo de captura da água do ar
O empresário conta que a operação é mais simples do que se imagina. “É um processo de condensação. O ar é atraído, bate em uma serpentina. No nosso caso, todo o ambiente ao entorno é bombardeado de raio ultravioleta que é bactericida e faz a água pingar. Aquela água que pinga é transformada depois em um produto para consumo” diz, também ressaltando o alto nível de mão-de-obra especializada que participa do processo, além de equipamentos.
“É uma metodologia de acelerar o processo natural de condensação. As pessoas confundem, pensam que é água da chuva, mas não. É uma máquina que fica, no nosso caso, a dois metros da altura do solo, de frente para o rio Negro, aproveitando o que hoje nós temos de mais intenso na Amazônia, que é a umidade. É importante falar que os ‘rios voadores’ são o resultado da transpiração das árvores. Então, o que a gente faz, na verdade, é pegar uma água produzida pelas árvores. A gente só acelera o processo de condensação”, detalha o carioca.
Geração de emprego e renda na Amazônia
Cal Junior descreve que a empresa se integra à economia da região e às comunidades indígenas desde a sua fundação. “Não existe projeto social melhor do que a geração de emprego e renda. E depois nós temos nossos trabalhos na área social e uma integração agora com a Cufa Amazonas, que faz a curadoria dos projetos sociais que a gente desenvolve”, destaca.
“A relação com os nossos povos ancestrais, tanto o ribeirinho quanto os povos indígenas, já foi pensado no início. Nós acreditamos que para trabalhar a proteção, o desenvolvimento e a defesa da Amazônia, só o amazônida pode. Então a gente investe em quem está lá, 90% da nossa equipe é ou morador, ou nasceu, ou escolheu viver na Amazônia”, afirma Cal.
A Ô Amazon Air Water exporta atualmente para vários países. A empresa tem como foco hotéis e restaurantes de alto padrão, especialmente onde há demanda por produtos premium e sustentáveis, como o hotel Ritz, em Paris, um dos clientes da marca.
Livro sobre empreendedorismo e COP30
Cal Junior também lançou o livro “Empreendendo Alto Valor na Amazônia” e falou sobre o tema na Expo Favela Paris, no último 4 de julho, em convergência às temáticas levantadas sobre a próxima Conferência da ONU sobre o clima, a COP30, em novembro na cidade de Belém, que também integra a região amazônica.
“Empreender no mundo já é difícil. Empreender no Brasil é mais difícil ainda. E empreender na Amazônia é um verdadeiro desafio. É um desafio estratégico, técnico, logístico, de mão-de-obra, tecnologia escassa, toda a infraestrutura. Mas também é o desafio individual. Então para mim, empreender na Amazônia é um ato solitário que passa por um processo de coragem e superação e depois de adesão, pois você só conquista uma vitória quando você encontra pessoas que estão junto com você para atingir o caminho do sucesso”, declara.
O empresário acredita que as empresas só conseguem coexistir com o meio ambiente de forma sustentável quando “entendem que empreender alto valor é justamente diminuir o impacto imediato ambiental que qualquer atividade econômica causa”.
“Nós precisamos desenvolver a bioeconomia da Amazônia. Matrizes são mais importantes do que o volume a ser produzido. Baseado na minha experiência, é um modelo de negócio a ser aplicado que pode trazer valor financeiro, valor social e cultural para a nossa Amazônia, sem derrubar e sem destruir a floresta”, reforça Cal Junior.
“A gente trabalha de forma similar à produção de vinho. A gente trabalha por safra. Inclusive trabalhamos com a mesma referência da alta costura, primavera-verão, outono-inverno, porque a nossa comunicação está integrada a isso. Então são quatro produções ao ano”, inclusive com algumas edições especiais, como a Onça-pintada ou a Vitória Régia. “Hoje a gente já atinge 10 mil garrafas por ano”, se orgulha o empresário.
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