Amazonas
Expedição científica no Amazonas indica existência de insetos ainda desconhecidos
Já foram sequenciados cerca de 90 mil exemplares durante a realização dos projetos e encontradas quase 10 mil espécies únicas.

Um mundo ainda invisível está sendo revelado nas copas das árvores da Amazônia. Em uma expedição inédita realizada na Reserva ZF2 do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a cerca de 80 km de Manaus (AM), cientistas coletaram mais de 1.400 amostras de insetos para análise.
A missão faz parte de dois projetos complementares, o BioInsecta (do programa BIOTA-FAPESP) e o BioDossel (INCT/CNPq), que buscam entender a diversidade de insetos desde o solo até o topo da floresta, num espaço vertical de até 30 metros de altura.
De acordo com Dalton de Souza Amorim, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP), que coordena o projeto BioInsecta, já foram sequenciados cerca de 90 mil exemplares durante a realização dos projetos. A partir dai, foram encontradas quase 10 mil espécies únicas, o que reforça a projeção dos especialistas de que a floresta abriga um potencial número de 40 mil espécies ao todo.
Como ainda resta uma boa parte do estudo para ser feita, as análises moleculares e morfológicas devem seguir por pelo menos mais um ano e envolvem uma força-tarefa de quase 400 pessoas, entre pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduandos.
“O Brasil é o terceiro país que mais produz conhecimento em biodiversidade de insetos, depois de EUA e China, e tem uma comunidade altamente diferenciada nessa área. Isso permitiu criar uma enorme rede de especialistas que irão validar a identificação de todo o material depois do sequenciamento de DNA”, comenta.
Na última expedição do grupo, realizada em na Amazônia Central, foram seis dias de coletas intensas com armadilhas especializadas em diferentes alturas e tipos de ambientes (como solo, folhiço, água e dossel) incluindo uso de torres de 40 metros e técnicas inéditas desenvolvidas pelo INPA para alcançar copas ainda mais altas.
Dossel, o lar dos insetos
Mais do que um feito científico, o projeto lança um alerta: a maioria dessas espécies vive nas copas das árvores e simplesmente não aparece no solo. Em um trabalho anterior com parte dos dados, 63% dos insetos não foram encontrados abaixo dos 8 metros de altura.
Isso significa que a biodiversidade não pode ser protegida apenas mantendo árvores baixas ou fragmentos de floresta – é necessário preservar a floresta inteira, em pé, inclusive o alto do dossel, onde vive uma parte essencial, mas quase invisível, do ecossistema.
Além disso, os dados vão ajudar a responder uma pergunta essencial para a conservação: quantas Amazônias existem dentro da Amazônia? Estudos já sugerem regionalizações diferentes para primatas, aves, répteis e anfíbios. Entretanto, para insetos, essa divisão ainda segue desconhecida.
“Não se conhece regionalização da Amazônia para os insetos, que compõem a maioria absoluta da fauna na floresta. Assim, não faz sentido falar em compensação de perda de ambientes naturais em uma área, com reposição em outra área, sendo que a fauna não é a mesma nesses locais”, destaca Dalton.
Com a coleta nas regiões de Manaus, Iranduba e Careiro Castanho, a equipe pretende traçar os primeiros mapas da distribuição geográfica da fauna entomológica na bacia amazônica.
“A fauna de insetos é tão complexa que a saúde da floresta depende dos vários componentes, não apenas polinizadores, mas espécies que controlam as populações de outros insetos, espécies fungívoras, decompositoras, comedoras de folhas, etc. Perder uma parte da fauna pode levar a um colapso de toda a complexidade da floresta”, acrescenta.
Planos
Os pesquisadores esperam que o conhecimento gerado a partir dessa mega coleta guie políticas públicas mais eficazes, inspire novas expedições em áreas pouco exploradas, além do financiamento para projetos em estados como Pará, Roraima, Acre, Rondônia e Tocantins.
“A gente coletou uma quantidade muito grande de insetos utilizando dezenas de métodos. Esse material vai demorar um pouco para ser analisado, mas conforme os resultados forem sendo divulgados certamente haverá um incremento absurdo de conhecimento sobre a biodiversidade que existe na área”, explica José Albertino Rafael, pesquisador do Inpa e coordenador do projeto BioDossel.
Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os projetos BioInsecta/BioDossel deverão se tornar marco de referência em projetos de grande escala de biodiversidade na literatura científica mundial, tanto em relação ao número de espécies coletadas quanto identificadas e com DNA sequenciado, bem como de novas espécies reveladas.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.

Faça um comentário