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Amazonas

De volta ao centro da questão após operação no Rio de Janeiro, exemplo de Medelin no combate ao crime foi defendido por Amazonino em 2018

Ex-governador defendeu exemplo de Medelín contra o crime. O Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado arquivaram denúncias ao contrato com a Giuliani Security & Safety, constatando que não houve irregularidades ou desvios.

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De volta ao centro dos debate, após a megaoperação policial contra a facção criminosa Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, a política implantada na cidade de Medelin, na Colômbia, como exemplo de sucesso no combate ao crime organizado e na melhoria da segurança pública foi uma das teses defendidas pelo então governador do Amazonas, Amazonino Mendes, em 2018.

O ex-governador faleceu em 12 de fevereiro de 2023, aos 83 anos. Em seu último mandato, eleito pelo voto popular, Amazonino defendeu a contratação de consultoria especializada, mencionando que a transformação de Medelín de uma cidade perigosa para uma pacata demonstrava a viabilidade de ações eficazes na segurança, o que gerou debates e críticas na política local.

Em uma entrevista à CBN Amazônia, questionado sobre contratação de consultoria orçada em R$ 5 milhões com a empresa Giuliani Security & Safety, de Rudolph Giuliani, do ex-prefeito de Nova York para área de segurança, Amazonino defendeu a parceria. “Eu acho uma discussão horrível você questionar a contratação de tecnologia. Não é mais possível você encarrar a questão do crime no nosso país, de modo geral, como se vinha fazendo ao longo do tempo”, disse.

Amazonino disse, ainda, que o Estado estava perdendo a guerra para o crime. “Aqui, especificamente, no estado do Amazonas, nos últimos dez anos, a revolução do crime foi mais de 100%. Nossa vizinhança com Peru, Bolívia e com a Colômbia me mete medo, haja vista que o estado vizinho, o Acre, que era um estado pacato, é hoje o estado mais violento da nação brasileira. Não é o Rio de Janeiro. A Região Amazônica está ameaçada pelo crime organizado”, afirmou.

“Então, olhando o mundo nós vimos que essa tecnologia americana foi adotada em Medelín, que é uma cidade parecida com Manaus e é era a cidade mais violenta do planeta, 370 homicídios por cada 100 mil habitantes. Uma coisa escandalosa, brutal, terrível. Hoje, o Amazonas é 30 para vocês terem uma ideia e a gente está apavorado. Com esse trabalho dessa consultoria, com uma abordagem técnica no combate ao crime organizado, Medelín é considerada uma das cidades mais pacatas do planeta. Isso é o caminho”, justificou.

Na época, ele reconheceu que não foram eficazes as ações e programas adotados nos últimos anos para a segurança pública e rebateu críticas sobre a consultoria internacional. “Quem é expert nisso? Quem entende disso? Se nós estamos perdendo a guerra constantemente é sinal que nossa forma de trabalhar está errada. Todo o Brasil. Outro detalhe: você, quando governa, tem obrigação de governar para o futuro, você não pode governar só para o presente. Estamos sofrendo hoje porque não governaram lá atrás. Se lá atrás tivessem tomado as medidas que eu quero tomar, nós não tínhamos esse problema brutal aí de insegurança”, disse.

Quando o atual governador do Amazonas, Wilson Lima, assumiu o governo, declarou que avaliaria a continuidade e o uso dos relatórios da consultoria com a Giuliani Security & Safety. Em fevereiro de 2020, afirmou que os dados e relatórios obtidos com o contrato não foram utilizados em sua totalidade e que não apresentavam novidades significativas para a segurança pública do estado.

O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) arquivou o inquérito que investigava o contrato com a Giuliani Security & Safety, após constatar que não houve irregularidades ou desvios de recursos públicos na contratação realizada por Amazonino Mendes.

“Tendo em vista que não foram identificadas irregularidades”, o Tribunal de Contas do Estado (TCE), por unanimidade, também julgou improcedente representação do Ministério Público de Contas (MPC) contra o contrato do governo do Amazonas com a consultoria Giuliani Security & Safety.

Se Medellin conseguiu…

Ricardo Balestreri, coordenador do núcleo de Urbanismo Social e Segurança Pública do Insper, aponta o urbanismo social adotado por Medelín como exemplo para o Rio e outras cidades brasileiras tomadas por facções criminosas, como o Comando Vermelho.

A cidade colombiana, nos anos 1980 e 1990, era vítima da insegurança e do narcotráfico, cujo retrato mais famoso é o cartel de Pablo Escobar. Nos anos 2000, além do enfraquecimento dos grupos armados, Medelín investiu em transformações sociourbanas, como alargamento de ruas, a criação de estruturas de mobilidade (escadas elétricas rolantes) e espaços de convivência, entre elas praças e bibliotecas.

Hoje, a cidade de 2,5 milhões de habitantes tem os menores índices de homicídios em quarenta anos. “Se Medellin conseguiu mudar a segurança pública, por que o Rio de Janeiro não pode?”, questiona Balestreri.

“Dá para fazer, mas tem de fazer com técnica e seriedade. Não com bravatas, explorando emoções, com promessas falsas. Dizer que ‘bandido bom é bandido morto’, ouvimos há 40 anos e não resolveu nada. Os bandidos não são bonzinhos, são uma tirania e precisam ser combatidos. Territórios precisam ser retomados, mas a grande questão é como se retomam esses territórios. É com racionalidade, sem explorar emoções baratas da população. E o Estado precisa congregar todas as secretarias e órgãos e entrar nesses lugares abandonados”, afirmou.

Não houve irregularidade no contrato com Rudolph Giuliani para melhorar segurança pública no Amazonas, diz TCE

 


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