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Igreja discute criação do pecado ecológico durante assembleia da Amazônia
“Foi prenunciada uma conversão ecológica que faça perceber a gravidade do pecado contra o meio ambiente como um pecado contra Deus, contra o próximo e as futuras gerações”, diz trecho de relatório.
Os participantes do Sínodo da Amazônia, assembleia convocada pelo papa Francisco que está sendo realizada no Vaticano, estão debatendo a possibilidade de criar o pecado ecológico.
De acordo com um relatório divulgado pelo Vaticano, no segundo dia da assembleia, em 8 de outubro, um dos sacerdotes presentes disse ao papa que é necessário aprofundar a discussão sobre os pecados ecológicos.
“Foi prenunciada uma conversão ecológica que faça perceber a gravidade do pecado contra o meio ambiente como um pecado contra Deus, contra o próximo e as futuras gerações”, diz trecho do relatório. O assunto deve constar no documento final que será apresentado para voto em 25 de outubro. As informações são da Folha de S. Paulo.
Um dos participantes da assembleia afirmou que o pecado ecológico tem ganhado forçada nas discussões internas da igreja e compõe o campo da teologia da criação sob a perspectiva de que Deus criou o mundo e o deu aos humanos para que cuidassem dele.
“A conversão ecológica já está bem trabalhada, falta mesmo formular concretamente como isso será na prática da vida do sujeito”, disse.
A formulação do Sínodo da Amazônia, que será usado como meio de consulta do papa para indicações ao clero e aos fiéis, está sendo feita por 258 pessoas, entre arcebispos, bispos, cardeais e especialistas, incluindo leigos.
Dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de Palmas (TO), afirmou no dia 11 de outubro que “a defesa do meio ambiente não é uma questão do Partido Verde, de uma ONG ou de alguém que se encantou. É uma questão vital. Ou nós cuidamos da nossa natureza ou estamos comprometendo a condição da nossa vida, estamos fazendo uma coisa séria: pecando contra o criador”.
“É preciso ter consciência, formação ecológica, desde a criança na catequese, desde a escola. As pessoas vão aprendendo a respeitar e a crescer na sua fé sabendo que quanto mais nós contribuirmos para um mundo melhor, melhor para todo mundo”, completou o arcebispo, que defende que os pecados ecológicos sejam incorporados ao sacramento da confissão e da penitência.
A versão de 2018 do instrumento de trabalho no qual as assembleias do sínodo se baseiam, denominado “instrumentum laboris”, aborda, no capítulo nove, a “conversão ecológica”, tema também presente na encíclica “Laudato Si”, que ficou conhecida como encíclica verde e foi divulgada pelo papa em 2015.
“Segundo o papa Francisco, a conversão ecológica desperta em nós aquilo que a gente não tinha consciência ainda: que as nossas ações têm impacto socioambiental. E se traduz inclusive nos gestos relativos ao consumo, ao nosso cotidiano, na economia de água e energia”, afirmou Afonso Murad, professor de teologia da Faculdade Jesuíta, especializado em ecoteologia.
Sugestões de como a igreja pode avançar na discussão ambiental foram colocadas no instrumento de trabalho de 2018. Dentre elas, “identificar as novas ideologias que justificam o ecocídio amazônico, denunciar as estruturas de pecado que são atuadas no território amazônico e indicar as razões com as quais justificamos nossa participação nas estruturas de pecado”.
Durante o sínodo, os participantes tem analisado a melhor forma de aplicar o tema. “A questão mais importante não é ficar listando pecados ecológicos, mas perceber que somos responsáveis para a continuidade da vida de nossa casa comum. Isso diz respeito não somente à Amazônia, mas a todo o planeta”, explicou Murad.
Na opinião do professor Johannes Grohe, do departamento de História da Igreja da Pontificia Università della Santa Croce, em Roma, a teologia da criação pode não bastar para estabelecer os novos pecados.
“O conceito de ‘pecado ecológico’ deve ser tomado com cautela porque o modo certo de agir também depende dos resultados de pesquisas científicas. Não convém que a igreja fixe tais pecados sem um consenso claro sobre as causas da poluição ambiental e o aquecimento climático”, disse.
Incomodado com as discussões do sínodo a respeito da Amazônia, o governo brasileiro tem feito críticas à assembleia, assim como a ala conservadora da igreja.
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