Amazonas
Fantástico: Dominguetti cita Piauí, Amazonas, Amapá e Mato Grosso na compra de vacinas
O governo do Amazonas disse que desconhece a citação de um suposto fundo R$ 160 milhões para compra de vacinas.
Na sessão da CPI da Covid no Senado, na última quinta-feira (1º), o cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominguetti teve o celular apreendido pela comissão. O programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, teve acesso com exclusividade a mensagens que estavam no aparelho, material importante para a CPI, que vai ajudar na montagem da teia de relacionamentos do policial militar com empresas e agentes públicos.
Dominguetti denunciou em reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” um suposto esquema de pedido de propina no Ministério da Saúde. Ele disse ter recebido pedido de pagamento de propina em uma negociação paralela para adquirir vacinas da AstraZeneca contra a Covid, por meio da empresa Davati Medical Supply. A empresa informou que Dominguetti é um “vendedor autônomo” e negou ter convênio para venda da AstraZeneca. Em nota, a AstraZeneca afirmou que não tem um intermediário no Brasil.
A negociação de Dominguette com representantes do Ministério da Saúde envolvia a proposta de venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Ele contou que só não fechou negócio porque não concordou em pagar propina.
O material das mensagens ainda está sob perícia, mas uma análise preliminar já identificou cerca de 900 caixas de diálogos nos aplicativos de mensagem. Segundo os investigadores, algumas conversas indicam que Dominguetti negociava por dose de vacina uma comissão de 25 centavos de dólar.
No dia 10 de fevereiro, Dominguetti envia a seguinte mensagem a um contato identificado como Guilherme Filho Odilon: “Estamos negociando algumas vacinas em números superior a 3 milhões de doses. Neste caso a comissão fica em 0,25 centavos de dólar por dose”.
E explica: “O que estamos fazendo é pegar o volume da comissão e dividimos de forma igual a todos os envolvidos, claro que proporcionalmente aos grupos. Sendo três pessoas, eu, você e seu parceiro não teria objeções em avançar neste sentido”.Na sessão da CPI na última quinta-feira, o depoente Luiz Paulo Dominguetti teve o seu celular apreendido pela comissão.
Em mensagens a um contato identificado como Guilherme Filho Odilon, Dominguetti afirma:
“Vacina Astrazeneza. Valor 3 dólares e 97 a dose”. E diz: “Capacidade entrega imediata. 100 milhões de doses. Venda direto Astrazeneca.”
Guilherme responde: “Boa tarde, meu amigo. Ainda aguardando documentação do grupo.”
E Dominguetti avisa: “Ok. Só pra te posicionar, Amapá e Mato Grosso estão comprando.”
Nas conversas com Guilherme, Dominguetti também menciona o Piauí:
“Conseguimos seis meses em contrato garantir qualquer venda no Piauí ou outro parceiro.”
As mensagens obtidas pelo Fantástico também mostram que no dia 26 de fevereiro Dominguetti recebe uma ligação de um contato chamado “Haroldo Vacinas Compra”. E responde por texto:
“Meu amigo, já te retorno. Alfredo me passou sobre o Amazonas, né? Sabe a quantidade?”.
E Haroldo responde: “Inicialmente, liberaram de um fundo lá quase 160 milhões”.
O arquivo obtido não revela o final desta conversa.
O governo de Mato Grosso informou que recebeu, em março, um email de um representante da Davati com oferta de vacinas contra a Covid, mas que a negociação não avançou porque não foi apresentada nenhuma carta de representação da fabricante Johnson & Johnson.
O governo do Piauí disse, por nota, que não negociou a compra de vacinas com nenhum intermediário.
Também em nota, o governo do Amapá afirmou que os únicos contatos para aquisição de imunizantes foram feitos de forma oficial, com o fundo soberano russo e com o Instituto Butantan, em São Paulo.
Já o governo do Amazonas disse que desconhece a citação de um suposto fundo R$ 160 milhões para compra de vacinas.
A Davati negou que Luiz Paulo seja seu representante no Brasil, e disse que ele atua como “vendedor autônomo”, sem vínculo empregatício com a empresa.
“Nesse caso, ele apenas intermediou a negociação da empresa com o governo, apresentando o senhor Roberto Dias”, diz a empresa, em comunicado.
A Davati também admitiu que não tem convênio com a AstraZeneca. O laboratório responsável pela vacina afirmou que não tem empresas privadas como representantes e que só vende imunizantes contra a Covid para governos e organismos multilaterais.
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