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Ranking Internacional da corrupção destaca falta de oxigênio e compra de respiradores

“Isso torna muito atraente para as pessoas corruptas sugar dinheiro para seus próprios bolsos, enriquecendo-se assim à custa da população em geral – neste caso, a corrupção realmente mata pessoas”, disse Daniel Eriksson.

Na segunda onda da pandemia, amazonenses morreram sem UTI e sem oxigênio hospitalar

“No Brasil, a falta de integridade dos governantes literalmente tirou o oxigênio das pessoas”. A informação é parte do capítulo relativo ao Brasil do ranking mundial da corrupção, divulgado na última quinta-feira (28/01) pela ONG Transparência Internacional, no relatório que mantém o Pais em patamar ‘muito ruim’.

“O que você vê é que a aquisição de equipamentos de proteção – como máscaras e respiradores – não está sendo tratada de forma transparente”, disse Daniel Eriksson, diretor administrativo interino da ONG. “Isso torna muito atraente para as pessoas corruptas sugar dinheiro para seus próprios bolsos, enriquecendo-se assim à custa da população em geral – neste caso, a corrupção realmente mata pessoas”, diz.

Este ano, dezenas de pacientes de Covid-19 morrem no Amazonas por falta de oxigênio nas unidades de saúde. No ano passado, o governador do Estado, Wilson Lima (PSC), foi denunciado pela Procuradoria da República como responsável pela compra superfaturada de respiradores que não serviam para pacientes graves da doença.

O relatório aponta para “inúmeras vidas perdidas devido aos efeitos insidiosos da corrupção, minando uma resposta global justa e equitativa” à pandemia. E considera que a luta contra a corrupção, que foi bandeira de boa parte da classe política eleita nos últimos anos, não se transformou em medidas concretas.

“A pandemia da Covid-19 também impôs seu peso à luta contra a corrupção. Como em muitos países, a administração pública brasileira teve que flexibilizar as regras de contratações para poder responder às despesas de emergência. Os inúmeros casos de corrupção mostraram suas consequências mais perversas em meio à terrível crise humanitária. No Brasil, a falta de integridade de governantes literalmente tirou o oxigênio das pessoas”, diz o relatório.

A ONG diz que a corrupção é predominante em toda a resposta global à Covid-19, desde subornos para a obtenção de testes e tratamento até a compra pública de suprimentos médicos.

A análise da Transparência Internacional diz que a corrupção desviou fundos de investimentos necessários para cuidados de saúde, deixando algumas comunidades sem médicos, equipamentos e também clínicas e hospitais. “A Covid-19 não é apenas uma crise de saúde e econômica: é uma crise de corrupção, a qual estamos atualmente falhando em administrar”, diz a presidente da ONG, Delia Ferreira Rubio, no resumo do relatório.

Ranking

O chamado Índice de Percepção de Corrupção (IPC) avalia 180 países e territórios e atribui a eles notas de zero (altamente corrupto) a 100 (muito íntegro), para depois estabelecer um ranking global.Em 2020, o Brasil registrou 38 pontos, três a mais que em 2019, mas, como frisou o relatório, ainda dentro da margem erro da pesquisa (4,1 pontos para mais ou para menos). Por isso a conclusão de “estagnação”.

A percepção da corrupção no Brasil ainda está abaixo da média do Brics (39), da média regional para a América Latina e o Caribe (41), da mundial (43) e ficou ainda mais distante da média dos países do G20 (54) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (64).

O pequeno aumento no número de pontos fez o Brasil saltar da 106ª posição registrada em 2019 para a 94ª, mas ainda atrás de países como Colômbia, Turquia e China. A Transparência Internacional alerta que o país enfrenta sérios retrocessos no combate à corrupção

“Não será através de soluções populistas e autoritárias que construiremos um país íntegro e justo. Será através do fortalecimento da nossa democracia e de uma cidadania consciente, unida, livre e ativa na luta por seus direitos”, afirma a ONG, em comunicado que acompanhou a divulgação do relatório.

Na 94ª posição, o Brasil é acompanhado, com a mesma pontuação, por Etiópia, Cazaquistão, Peru, Sérvia, Sri Lanka, Suriname e Tanzânia.

Lideram o ranking, empatados com 88 pontos, Dinamarca e Nova Zelândia. Elas são seguidas, no campo dos “altamente íntegros”, por Finlândia, Singapura, Suécia, Suíça, Noruega, Holanda, Alemanha e Luxemburgo.

A pontuação de 2019 havia sido a mais baixa desde 2012, quando passou a ser possível fazer comparações anuais. Em 2018, o Brasil caiu nove posições em relação ao ano anterior, ficando em 105º lugar. A classificação brasileira apresenta tendência de queda desde 2014, quando o país ocupava a 69ª posição.

“Nenhuma agenda efetiva de reformas anticorrupção foi apoiada pelo governo e aprovada pelo Congresso. Pelo contrário, ocorreram graves retrocessos institucionais, principalmente com a perda de independência de órgãos fundamentais como a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal”, observa.

Além disso, prossegue o relatório, “o avanço do autoritarismo, com ataques crescentes aos jornalistas e à sociedade civil, ameaça outra frente essencial para a luta contra a corrupção: a produção de informação de interesse público e o controle social”.


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