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Manaus

Manaus bate novo recorde de hospitalizações por Covid-19 em meio a falta de oxigênio

A capital do Amazonas registrou 2.221 novas hospitalizações somente nos 12 primeiros dias de janeiro e superou o maior número de internações registrado em todo o mês de abril, no primeiro pico da pandemia no Estado.

O aumento no número de casos de Covid-19 mergulhou Manaus no pico da segunda onda de contaminação e fez a capital do Amazonas enfrentar um cenário de filas nos hospitais, aumento das mortes sem atendimento e até mesmo escassez de oxigênio nas unidades de saúde. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

Nesta quarta-feira (13), a cidade bateu um novo recorde negativo: foram 2.221 novas hospitalizações só nos 12 primeiros dias de janeiro. O número é maior do que o total de internações registradas em todo o mês de abril, primeiro pico da pandemia no Amazonas, quando 2.218 pessoas foram hospitalizadas.

Na última terça (12), Manaus tinha taxa de ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de 90% na rede pública e 93% da rede privada, mas 58 pacientes estavam na fila por um leito de UTI nos hospitais de referência, 36 na capital e outros 22 no interior do Estado.

O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana afirma que Manaus vive o pico da segunda onda da epidemia e defende a prorrogação do decreto que suspendeu as atividades não essenciais até o próximo domingo (17) por mais dez dias.

“A situação atual da epidemia pode, inclusive, deixar a primeira onda muito próxima ou até menor do que a segunda onda em curso, caso não sejam incorporadas medidas sanitárias para frear a epidemia”, diz o pesquisador, que defende um lockdown e a suspensão das provas do Enem no Amazonas.

Um médico que atua no Hospital 28 de Agosto, uma das unidades de referência para Covid-19 em Manaus, descreveu a rotina no hospital nos últimos dias como “um cenário de guerra com soldados cansados”.

De fato, a busca por um leito nas unidades de saúde do Amazonas vem exigindo peregrinações de muitos pacientes, que circulam pela cidade em busca de vaga ou esperam por horas em filas por um leito clínico ou de UTI. Em algumas unidades, há relatos de pacientes aguardando atendimento deitados no chão.

E quem consegue um leito ainda não tem garantia de que vai ter o atendimento adequado: os hospitais de Manaus ainda vivem sob a ameaça de falta de oxigênio para dar conta da demanda, que aumentou mais de seis vezes só na rede pública.

A preocupação com o desabastecimento foi tanta que o governo estadual montou uma força-tarefa e, com auxílio das Forças Armadas, está trazendo oxigênio de outros estados, em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), para garantir o atendimento na rede pública.

O Estado também aumentou a demanda do produto das empresas locais, o que está provocando um desabastecimento do mercado privado, afetando desde hospitais particulares até pacientes que fazem tratamento domiciliar e enfrentam dificuldade para repor os estoques de oxigênio para seus tratamentos.

Nesta quarta (13), promotores do Ministério Público Estadual do Amazonas se reuniram com representantes de hospitais particulares de Manaus, que relataram que o atendimento a novos pacientes chegou ao limite e que a falta de oxigênio é o maior impedimento não só à abertura de novos leitos, mas à manutenção dos atuais.

Uma das empresas que distribui oxigênio em Manaus, a Nitron da Amazônia, já precisou interromper temporariamente o atendimento ao público particular por conta da alta demanda.

Quem faz tratamento domiciliar também acabou sendo afetado com a escassez de oxigênio nas empresas privadas. É o que conta uma enfermeira que precisou fazer uma verdadeira peregrinação pela cidade para garantir o tratamento domiciliar da mãe, de 74 anos.

“E só consegui encontrar porque, por trabalhar no hospital, eu tive essa informação e consegui chegar a tempo, porque se você ligar lá na empresa hoje, não tem mais, só amanhã. E quem não pode esperar até amanhã?”, questionou a servidora pública, que pediu anonimato.

Um servidor público contou que há 15 dias ele vinha comprando oxigênio para o tratamento domiciliar do sogro e que, enquanto nos primeiros dias ele enchia o cilindro em meia hora, nos últimos dias essa espera aumentou gradativamente, chegando a oito horas. Na última terça-feira, o fornecimento foi interrompido pela empresa.

Sem oferta de oxigênio, o paciente foi para o Hospital 28 de Agosto, onde, apesar de ter conseguido leito de UTI e oxigênio, não resistiu às complicações da doença e morreu na madrugada desta quarta;

O governo do Estado informou que a demanda de oxigênio dos hospitais estaduais aumentou em 11 vezes, daí a escassez no fornecimento. Antes da pandemia, o consumo médio diário de oxigênio na rede estadual era 5 mil metros cúbicos. Só nessa terça-feira, foram consumidos 58 mil metros cúbicos.

Nesta quarta, o Amazonas recebeu 22 mil metros cúbicos de oxigênio transportados pela Força Aérea Brasileira. O Estado já havia recebido uma remessa de 50 mil metros cúbicos, vinda de Belém (PA) por via fluvial, na segunda (11).

Com os hospitais superlotados e escassez de insumos básicos, o número de pessoas que não procuram ou não conseguem atendimento hospitalar cresceu, levando junto os registros de óbitos em domicílio.

Desde o início do ano, 169 pessoas morreram dentro de casa, uma média diária de 15 óbitos em domicílio. Só na última terça, foram 25 óbitos, segundo a prefeitura. A média já é superior à do mês de maio de 2020, quando foram registradas 13 mortes em casa por dia.

A dona de casa Shirlene Morais Costa, 53, foi uma das vítimas da Covid-19 a morrer em casa, sem assistência hospitalar, na última segunda. O padrasto dela, Esteliano Lopes Filho, 74, conta que Shirlene já tinha sintomas da doença e chegou a procurar um Serviço de Pronto Atendimento, onde foi submetida a um exame de imagem.

“O exame constatou uma mancha no pulmão dela, mas o médico disse que não tinha como internar, e mandou de volta para casa. Isso foi na sexta. Ontem, quando eu acordei, ela estava morta na cama dela. Foi muito rápido”, relatou.

Em boa parte dos casos, os familiares relatam que as vítimas tinham os sintomas do novo coronavírus e ainda chegaram a procurar atendimento em alguma unidade de saúde, mas não conseguiram.

O cenário refletiu, também, no recorde de sepultamentos em Manaus nos primeiros dias do ano, com média diária de 111 enterros, bem acima das médias registradas nos meses de abril (93 por dia) e maio (76 por dia) do 2020. Antes da pandemia, a média era de 30 enterros diários.

A Prefeitura de Manaus já anunciou a abertura de mais de mil novas covas e a construção de sepulturas verticais, em gavetas, para dar conta da demanda.

O governo do estado informou que a rede estadual deve receber o reforço de 500 leitos e que lançou edital para contratação emergencial de 274 médicos. Também solicitou ao governo federal a aquisição de dez miniusinas de oxigênio para dar mais autonomia aos hospitais.


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