Brasil
“Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada”, diz Bolsonaro a apoiadores
Declarações de presidente da República destoam de posições apresentadas publicamente pela equipe econômica; Jair Bolsonaro ainda afirmou que pandemia da Covid-19 é “potencializada” pela “mídia sem caráter”.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta terça-feira (5) que o Brasil está quebrado e que ele não consegue fazer nada. Ele disse ainda que a pandemia de Covid-19 tem sido “potencializada pela mídia”. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
“Chefe, o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia”, disse o mandatário para um grupo de apoiadores na parte externa do Palácio da Alvorada.
As declarações de Bolsonaro foram transmitidas por um site bolsonarista.
As declarações do presidente destoam de posições apresentadas publicamente pela equipe econômica, que tem batido na tecla de que a atividade econômica do País está em plena recuperação, o que trará resultados positivos para a arrecadação de impostos.
Membros do Ministério da Economia ainda têm demonstrado confiança de que será possível avançar com a agenda de reformas estruturantes no Congresso, o que poderá dar um impulso a mais nas contas do governo e abrir margem no Orçamento para despesas com investimentos e programas sociais.
O discurso otimista vem sendo repetido pelo ministro Paulo Guedes (Economia) nos últimos meses. Segundo ele, a economia do Brasil está voltando em “V”, de forma mais acelerada do que em outros países. O argumento do ministro é que o governo tem condições de fazer reformas, acelerar privatizações e cumprir o teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas públicas à variação da inflação.
Em outras ocasiões, o presidente já havia afirmado que o Brasil estava quebrando. Ele tem declarado que o País não tem condições de manter o auxílio emergencial —encerrado em 31 de dezembro— por conta do cenário fiscal e do aumento do endividamento com gastos gerados no enfrentamento do coronavírus.
Ele também tem culpado políticas de isolamento social adotadas por governadores como corresponsáveis pela crise econômica do País. O presidente se referiu ainda em sua fala à promessa de atualização da tabela do IR, mas a ideia nunca saiu do papel.
No Ministério da Economia a afirmação de Bolsonaro não foi interpretada como uma afronta às posições de Guedes. Pessoas próximas ao ministro afirmam que, apesar do tom mais duro da declaração, ela está alinhada com o que Guedes pensa.
Membros da pasta dizem que é correta a avaliação de que a situação fiscal do País é crítica e que medidas que gerem ampliação de gastos públicos não podem ser adotadas agora.
Segundo auxiliares do ministro, o governo, de fato, não tem dinheiro sobrando em caixa e não é possível, por exemplo, pensar no pagamento de novas parcelas do auxílio emergencial ou outras ações que gerem perda de receita.
A equipe econômica só aceita debater uma ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda em uma discussão ampla de reforma tributária. Essa renúncia de arrecadação teria de ser compensada com outras ações, como por exemplo a tributação sobre a distribuição de dividendos.
Bolsonaro já culpou a imprensa em outras ocasiões por, segundo ele, disseminar o pânico durante a pandemia. A Covid-19 já matou quase 200 mil pessoas no Brasil. O número de infectados é superior a 7,7 milhões, segundo o consórcio de veículos de imprensa que compila dados de secretarias estaduais.
Na segunda, Bolsonaro fez piada com o uso de máscara de proteção facial, defendida por especialistas como importante para conter a disseminação do vírus.
Em tom irônico, o presidente disse que usou o equipamento enquanto mergulhou no recesso no litoral paulista para “não pegar Covid nos peixinhos”. Bolsonaro fez uma ironia com o fato de veículos de comunicação terem destacado que ele não usou máscara quando causou aglomeração no mar de Praia Grande (SP) em 1º de janeiro.
“Sabia que o tio estava na praia nadando de máscara? Mergulhei de máscara também, para não pegar Covid nos peixinhos”, ironizou o presidente.
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