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Rússia inicia produção do primeiro lote da vacina Sputinik V contra Covid-19

Pesquisadores argumentam que uma vacina desenvolvida precipitadamente pode ser perigosa; a fase final dos testes com a fórmula russa começou apenas nesta semana.

A Rússia anunciou neste sábado (15) que deu início à produção do primeiro lote da vacina contra o novo coronavírus. A nova droga, divulgada pelo presidente Vladimir Putin no início desta semana, foi recebida com ceticismo pelo resto do mundo por não seguir os procedimentos previstos de testes – que levam tempo. As informações são da AFP, com publicação pelo jornal Folha de S.Paulo.

O primeiro lote da vacina foi produzido no Instituto de Pesquisa Gamaleya, segundo informou o ministério da Saúde do país europeu em comunicado. Putin afirmou nesta última terça (11) que a vacina do país é “bastante eficaz” e que uma de suas filhas chegou a ser vacinada com a Sputinik V, nome escolhido para a droga em homenagem ao satélite soviético lançado em órbita em 1957.

Reportagem da Folha mostrou que as informações oficiais sobre os testes da vacina russa foram modificadas na base internacional que registra experimentos com humanos na última quarta-feira (12) — um dia após a divulgação da aprovação regulatória do imunizante no país.

Quando a vacina russa foi anunciada, constava publicamente o registro de apenas uma primeira fase de testes iniciados em 17 de junho, com 38 pessoas, ainda em andamento — o que levantou críticas de cientistas de todo o mundo. Os pesquisadores argumentam que uma vacina desenvolvida de forma precipitada pode ser perigosa, já que a fase final dos testes (onde sua eficácia é verificada com milhares de voluntários) começou apenas nesta semana.

Alexander Guinstbourg, diretor do Gamaleya, disse que os voluntários participantes da última fase de testes receberão duas injeções, segundo informou a agência TASS. O governo de Putin afirmou que a produção em grande escala da vacina começará em setembro e que 20 países já encomendaram mais de 1 bilhão de doses com antecedência. No Brasil, o estado do Paraná assinou acordo para fabricar a droga desenvolvida pelo país europeu.

Por enquanto, o mundo aguarda que a Rússia publique, de forma independente, um estudo detalhado sobre a eficácia da vacina. Com mais de 917 mil casos oficiais de Covid-19, a Rússia é o quarto país do mundo mais afetado pela pandemia em número de infecções. O país está atrás apenas dos Estados Unidos, Brasil e Índia.

Pesquisa russa

As instituições de pesquisa da Rússia somam ao menos 175 artigos artigos científicos sobre Covid-19 —o que corresponde a menos de 1% de todo conhecimento científico no contexto da pandemia.

Isso coloca os russos em 35º lugar no ranking de publicações sobre Covid-19, atrás de países de pouca tradição em pesquisa como o Paquistão (28º lugar). As informações são da plataforma internacional de periódicos científicos Web of Science.

Para termos de comparação, os cientistas do Brasil já contam 700 artigos científicos sobre o novo coronavírus (quase 3% da produção mundial), ocupando 11º lugar no ranking mundial de publicações sobre Covid-19. Quem lidera a lista são os Estados Unidos, seguidos pela China e pela Itália.

Em termos de expertise científica acumulada sobre imunização, a Rússia também patina. Nos últimos dez anos, o país contabilizou cerca de mil trabalhos científicos publicados sobre vacinas em geral —um quarto do total produzido pelo Brasil no mesmo período. Novamente, quem lidera essa produção são os Estados Unidos, com a vantagem competitiva de mais de 50 mil trabalhos acadêmicos sobre vacinas na última década.


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