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Amazonas

Mortes em casa cresceram 120% durante pandemia em Manaus, mostra levantamento

Os números mostram a dificuldade do acesso ao atendimento tanto para quem tem Covid quanto para outros pacientes: quase 10 mil pessoas morreram fora de hospitais em São Paulo, Rio, Fortaleza e Manaus.

A triste estatística das pessoas que morreram fora de unidades de saúde durante a pandemia. Esse número explodiu nos últimos três meses nas cidades de São Paulo, Rio, Manaus e Fortaleza, revela um extenso levantamento feito pelo epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, a pedido da Folha de S. Paulo.

Ele verificou que os óbitos por causas naturais em domicílios ou vias públicas entre 15 de março e 13 de junho saltaram de 6.378 no ano passado para 9.773 neste ano nas quatro capitais. Isso corresponde a um crescimento de 53%, ainda maior do que o aumento de todas as mortes por causas
naturais no período, de 44%. Os dados são da Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), coletados pelos cartórios. Manaus registrou 1.290 mortes em casa ou na rua e teve o maior salto, de 120%. Em seguida vêm Fortaleza, com um aumento de 74% (1.814 mortes), Rio de Janeiro, com 48% (3.029 mortes), e São Paulo, com 34% (3.640 mortes).

“Mortes em casa ou em via pública por causas naturais, por princípio, são quase todas evitáveis. São um indicador clássico de déficit ou precariedade da atenção à saúde. Em tempos de pandemia, mortes dessa natureza atestam falhas graves no planejamento e implementação de ações”, analisa Orellana.

As quatro capitais tiveram uma explosão desses óbitos principalmente no fim de abril e início de maio, quando viveram suas piores fases da doença. Foi nessa época que os sistemas de saúde do Amazonas, do Ceará e do Rio de Janeiro colapsaram.

Os leitos de UTI nos hospitais ficaram lotados e se formaram filas por transferências, com pacientes aguardando por dias em unidades sem estrutura e profissionais adequados como UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), muitas vezes sem isolamento e acesso a exames ou respiradores.

Manaus teve um pico assustador de mortes em casa nessas semanas: foram 877 de 12 de abril a 16 de maio —um aumento de 340% em relação aos 199 óbitos no mesmo período do ano passado.

“Os números mostram a dificuldade do acesso ao atendimento tanto para quem tem Covid quanto para outros pacientes. Os infartos, acidentes vasculares etc. continuaram acontecendo. Também indicam que muita gente ficou com medo de buscar os serviços de saúde”, afirma o epidemiologista Diego Ricardo Xavier, da Fiocruz fluminense.

Todas as quatro cidades analisadas tiveram uma diminuição dos óbitos em domicílio no último mês,
voltando a números mais próximos do ano anterior —foram consideradas os dados até 13 de junho porque em geral demora até duas semanas para que o registro entre na base de dados.

Orellana é cético quanto à queda. “O efeito residual da epidemia segue causando adoecimentos e mortes diretas e indiretas. O fato de o número de mortes estar caindo não significa que o problema está sendo resolvido nem que em dois ou três meses tudo voltará ao normal. Ao contrário, são esperados novos picos, caso as precauções sejam abandonadas”, diz.


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