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Mudanças climáticas afetam mais de 436 mil estudantes na Amazônia, diz Unicef

O Unicef também aponta que, somente na região amazônica “mais de 1.700 escolas e mais de 760 centros de saúde foram fechados ou ficaram inacessíveis devido aos baixos níveis de água em 2024”.

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Seca em Tefé, no Amazonas. (Foto:Bruno Kelly/Reprodução)

Dados levantados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que 436 mil estudantes ficaram sem aulas por causa de eventos climáticos na Amazônia em 2024, principalmente secas, que vão além da sala de aula: prejudicam a locomoção de estudantes, danificam motores de embarcações que fazem o transporte escolar pelos rios, interrompem aulas e deixam comunidades isoladas=. O problema também afeta os fornecimentos de água e serviços essenciais.

O Unicef também aponta que, somente na região amazônica “mais de 1.700 escolas e mais de 760 centros de saúde foram fechados ou ficaram inacessíveis devido aos baixos níveis de água em 2024”.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que terminou em Belém no último sábado (22), teve programações paralelas que discutiram como o clima afeta as crianças e adolescentes, principalmente no Brasil. Além disso, crianças e adolescentes atuaram em ações simbólicas pedindo mais proteção ambiental e políticas climáticas voltadas para a infância.

“A educação ainda apareceu de forma tímida na COP, mas tem ganhado espaço nas agendas. A expectativa é que haja um avanço mais sólido que traga o tema para o centro da mesa”, afirmou Danillo Moura, especialista em clima e meio ambiente do Unicef Brasil.

Os problemas da seca também afetam outras áreas. Em 2024, a seca provocou falta de água potável, prejudicou a agricultura e dificultou a navegação, um dos principais meios de transporte e escoamento de produtos. As maiores dificuldades enfrentadas são no período do verão amazônico, em que as ondas de calor são muito fortes. As escolas não têm ventilação suficiente, nem climatização, o que dificulta o ensino e o aprendizado dos alunos.
Para Danillo Moura, especialista do Unicef Brasil e que também atuou como membro do comitê de negociação do Unicef na COP 30, o “impacto das mudanças climáticas sobre as crianças, de forma geral, e sobre a educação, de forma específica, é ainda maior em comunidades mais vulneráveis”.

Ele explica que, ao observar os efeitos da seca histórica registrada em 2024, “fica claro que as populações mais afetadas são comunidades isoladas, como as ribeirinhas, indígenas, quilombolas e tradicionais, que já têm acesso mais difícil e tiveram o direito à educação especialmente prejudicado”.

“Nessas comunidades, muitas vezes é do rio que depende a ida e a volta da escola, ou até mesmo a chegada do professor para dar aula. Quando o rio não oferece condições de navegação por causa da seca, não é só a educação que fica comprometida, mas uma série de outros direitos fundamentais”, afirma Moura.

Ainda de acordo com o especialista, os danos à educação na Amazônia “resultam da destruição da floresta associada às mudanças climáticas”.

“As queimadas intensas, mudanças nos padrões de chuva, secas duradouras e o aumento da temperatura média criam um ciclo vicioso que afeta diretamente a vida de crianças e adolescentes”, explica.

O impacto, segundo ele, é ainda mais forte nas crianças porque:

– são fisiologicamente mais vulneráveis ao calor extremo,
– regulam menos a temperatura corporal,
– e respiram, comem e bebem mais por unidade de massa corporal, ficando mais expostas à contaminação de ar, água e alimentos.

Além das doenças que tendem a aumentar, como infecções respiratórias e diarreias, o calor intenso dentro das escolas prejudica a capacidade de concentração. Moura afirma que estudos mostram queda significativa no raciocínio e na memorização quando a temperatura ultrapassa 32 ºC a 35 ºC.

“Não é que a aula simplesmente deixa de ocorrer. Muitas vezes ela acontece, mas o aprendizado é limitado pelo desconforto térmico e pela infraestrutura inadequada”, diz.

Segundo o estudo “Aprendizagem Interrompida: Panorama Global das Interrupções Escolares Relacionadas ao Clima em 2024”, do Unicef, mais de 242 milhões de crianças e adolescentes tiveram aulas interrompidas por emergências climáticas em 2024 no mundo.

Outros dados apontados:
1,17 milhão de estudantes ficaram sem aulas por causa de eventos climáticos em 2024 no Brasil;
a média nacional de dias letivos perdidos passou de 5 em 2023 para 10 em 2024;
77% delas não tinham plano de emergência;
90% nunca realizaram simulações de risco;
57,6% dos alunos do ensino médio estudam em áreas com baixa resiliência a enchentes;
8 milhões frequentam escolas vulneráveis à seca no Brasil.

De acordo com o Unicef, os eventos climáticos pelo mundo foram identificados a partir do Banco de Dados de Eventos de Emergência (EMDAT) e ao arquivo do Projeto de Capacidades de Avaliação (ACAPS).

Foram 181 eventos climáticos registrados entre 1º de janeiro de 2024 e 31 de dezembro de 2024. Parte desses eventos causaram interrupções nas aulas, apontadas em relatórios do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), do ReliefWeb e de outros veículos de comunicação.

A pesquisa identificou 85 países e 119 eventos climáticos extremos que levaram a interrupções nas aulas.


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