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Brasil

Raoni desafia planos da Petrobras na COP30: “Não queremos petróleo na Amazônia”

Cacique foi à Conferência demonstrar apoio a indígenas de Oiapoque, impactados pela exploração de petróleo no litoral do Amapá.

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Diante da plateia reunida no espaço do Ministério Público Federal (MPF) na área de livre acesso da COP30, o cacique Raoni Metuktire pegou o microfone. Aos 93 anos, sua voz é enérgica, despertando os presentes, relata a Agência Pública: “Eu quero falar mais uma vez! Me escutem com atenção: vamos nos unir! Vamos ter força. Não podemos permitir que essa perfuração aconteça. Temos que ser fortes e continuar lutando para que não seja feita essa perfuração.”

O cacique Kayapó se referia ao poço que a Petrobras está perfurando no bloco FZA-M-59, na Foz do rio Amazonas, não muito longe da sede da conferência do clima, informa a Reuters. A petrolífera conseguiu a licença do IBAMA para atuar no litoral do Amapá cerca de 20 dias antes do evento. Raoni foi a Belém apoiar os indígenas do Oiapoque, cidade do extremo norte amapaense impactada pelas atividades da Petrobras.

O suporte de uma das maiores lideranças indígenas do planeta é significativo, diante da pressão sofrida por caciques e cacicas da região. “Nós não podemos falar, não podemos nos pronunciar publicamente nos espaços. Muitas lideranças não podem nem estar no Oiapoque porque são visadas, ameaçadas. Muitas precisam viajar e passar escondidas, para que não sejam atacadas”, contou Luene Karipuna, coordenadora regional da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP).

O respaldo de Raoni, que subiu a rampa ao lado do presidente Lula no dia de sua posse em janeiro de 2023, também pode ajudar a ecoar a mensagem dos indígenas e comunidades tradicionais do Oiapoque junto ao governo e, especialmente, junto ao próprio presidente. Em seus discursos na COP30, Lula defendeu a criação pela COP30 de um “mapa do caminho” para que o mundo abandone os combustíveis fósseis. Mas, ao mesmo tempo, defendeu a exploração de petróleo e gás na Foz.

Um dos argumentos de Lula e de outros defensores da exploração de combustíveis fósseis na Amazônia é que a atividade geraria riqueza e desenvolvimento na região. Mas pelo que já foi mostrado pelas experiências em todo o mundo, inclusive no Brasil, o argumento não procede. A promessa também é questionada por Davi Marworno, do Oiapoque, destaca a Agência Brasil.

A exploração da Petrobras na Foz foi destaque no painel “Halting fossil fuel exploration in the Amazon”, realizado na TED Countdown House, evento realizado em Belém em paralelo à COP30. Além de Luene Karipuna, também participou do debate a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, que mencionou a ação judicial movida por diversas organizações da sociedade civil pedindo a nulidade da licença dada pelo IBAMA.

Suely destacou ainda que o Bloco 59 tornou-se um “marco simbólico” da decisão governamental de intensificação da produção petrolífera na Foz. Ela avalia que a área funciona como uma “abertura de porteira” para outros blocos em uma região de rica diversidade biológica, informa o Um Só Planeta.

Também no debate, o diretor executivo do IPAM e enviado especial da Sociedade Civil para a COP30, André Guimarães, questionou a emissão da licença a poucos dias da conferência. E frisou: “O presidente Lula tem falado que essa é a COP da verdade. Então temos que falar a verdade. E a verdade é que não faz sentido explorar petróleo na Foz do Amazonas. Não faz sentido estratégico, político, econômico, social. Não tem nenhuma justificativa”.

Nesta 4ª feira (12/11), a Cúpula dos Povos promoverá uma “barqueata” no Rio Guamá, em Belém, para debater a crise climática “de baixo para cima”, destaca a Folha. Serão cerca de 150 barcos com ambientalistas e representantes de Comunidades Tradicionais, como o cacique Raoni Metuktire. Será a primeira grande ação popular em uma COP desde 2021, quando a conferência foi realizada em Glasgow, na Escócia. As últimas três aconteceram em países com regimes autoritários, que limitaram as manifestações.

Outra grande manifestação promovida pela Cúpula dos Povos em Belém será a Marcha Global pelo Clima, no sábado (15/11). Nela acontecerá o “Funeral dos Combustíveis Fósseis”, informam Diário do Pará e El País. A ação é organizada pela Aliança Potência Energética Latino-Americana, Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA), Auto do Círio, Cúpula dos Povos e mais de 100 organizações territoriais, de Povos Originários e de movimentos da sociedade civil de toda a América Latina.

No primeiro dia da COP30, manifestantes realizaram um protesto no Mercado Ver-o-Peso de Belém reivindicando a proteção dos manguezais amazônicos e alertando para os riscos da exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Os ativistas instalaram um caranguejo gigante como animal-símbolo do ecossistema, informa o Diário do Estado.


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