Manaus
Estudo inédito alerta sobre perigo de extinção do sauim-de-coleira em Manaus
A pesquisa identificou que mais da metade da área de distribuição da espécie já está sob grave pressão devido a perda e a fragmentação de habitat

Espécie típica da área de Manaus e arredores, o sauim-de-coleira corre o risco de desaparecer nas próximas décadas. A afirmação faz parte de um estudo inédito feito por um grupo de pesquisadores de diversas instituições, entre eles o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marcelo Gordo. Classificado como Criticamente em Perigo pelo ICMBio e integrante da lista internacional dos 25 primatas mais ameaçados do mundo na edição 2023-2025 do Primates in Peril (Primatas em Perigo), produzida por importantes instituições de conservação, o sauim-de-coleira é considerado o “símbolo da biodiversidade manauara”.
Com o título “Conservação de um primata amazônico ameaçado: Áreas prioritárias para o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) em Manaus, Brasil”, o estudo foi publicado no Journal for Nature Conservation, revista internacional focada em métodos, conceitos e técnicas para a conservação da natureza e apresenta o alerta em relação à espécie endêmica de Manaus.
A pesquisa, proposta e coordenada pelo Instituto Sauim-de-Coleira, financiada pela Re:wild, com o apoio institucional do Museu Paraense Emílio Goeldi e como parte do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Sauim-de-coleira (Pan Sauim), identificou que mais da metade da área de distribuição da espécie já está sob grave pressão devido a perda e a fragmentação de habitat, associadas tanto à urbanização quanto à expansão agrícola. Usando uma metodologia aplicada em pesquisas de ponta de planejamento sistemático de conservação, os cientistas mapearam 497 mil hectares de áreas prioritárias para a proteção da espécie, considerando as áreas urbanas e rurais juntas.
“A espécie tem uma distribuição geográfica relativamente pequena, para um primata amazônico, e coincide em grande parte com Manaus e municípios vizinhos, que desde a implantação da Zona Franca estão crescendo muito e de forma muitas vezes desorganizada, gerando perda de habitat nas zonas urbanas, mas também na zona rural. Portanto, a perda de hábitat da espécie nas últimas décadas levantou o alerta. Mas essa diminuição do espaço de sua distribuição geográfica não se deve apenas à ação humana de degradação das florestas, se deve também à interação com uma outra espécie de primata do mesmo gênero, o Saguinus midas, que vem avançando sobre a distribuição do Saguinus bicolor e tomando seu lugar”, declarou o professor Marcelo Gordo.
Os resultados também apontam que, nas áreas urbanas, é urgente restaurar as florestas e manter as Áreas de Preservação Permanente (APPs) para garantir a conectividade entre os fragmentos florestais. Além disso, é necessário melhorar a gestão e monitoramento das áreas protegidas existentes, visto que muitas ainda sofrem com o desmatamento. Já nas áreas rurais é preciso ampliar a proteção das florestas, principalmente as que ainda estão mais distantes das ameaças. Com os mapas gerados nessa pesquisa é possível balizar, não só as ações do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Sauim-de-coleira, mas as principais políticas públicas para a conservação desse primata.
“Estamos diante de um paradoxo: o maior centro urbano da Amazônia, que abriga mais de 2 milhões de pessoas, também é a única casa desse primata único. O futuro do sauim-de-coleira depende diretamente das escolhas que Manaus faz agora sobre seu crescimento e conservação”, afirma a pesquisadora Ana Luisa Albernaz, do Museu Paraense Emílio Goeldi, que liderou o estudo.
Apesar de 20% da região já estar em áreas formalmente protegidas, a maior parte delas é de uso sustentável, e apresenta perdas de cobertura florestal. O estudo alerta que sem expansão de áreas protegidas, restauração de florestas e políticas públicas efetivas, o sauim-de-coleira poderá se tornar o símbolo da extinção na Amazônia. Segundo Maurício Noronha, coordenador do estudo, “salvar o sauim-de-coleira não é apenas sobre proteger uma espécie carismática. É sobre garantir áreas verdes que mantêm o equilíbrio climático e a qualidade de vida de milhões de pessoas que vivem em Manaus”.
De acordo com o professor Maurício Noronha, existem diversas estratégias para evitar a extinção do sauim-de-coleira, das quais qualquer pessoa pode participar e colaborar no combate aos perigos que afetam a espécie. “Aprender mais sobre o sauim-de-coleira, cobrar do poder públicos ações para conservação da espécie e apoiar os projetos de organizações como do Instituto Sauim-de-coleira (ISC), a única instituição do terceiro setor que trabalha para tirar esse primata do caminho da extinção.
De acordo com o professor, as pessoas podem apoiar os programas do ISC, como: o Programa de Educação Ambiental Sauim na Escola, realizado nas escolas públicas de Manaus; o programa de Ciência Cidadã de Olho no Sauim, que visa reduzir os acidentes causadores de morte de sauins por atropelamento, eletrocussão e ataque de animais domésticos e também se credenciarem como voluntários para realizar ações do ISC.
Para participar das ações de apoio ao programa acesse o site do ISC – www.institutosauimdecoleira.org.br para ter todas as informações necessárias sobre a espécie e como pode ajudar. “A sociedade como um todo pode colaborar aderindo a políticas de conservação das florestas nativas, coibindo invasões e degradações de áreas florestais (irregulares), se manifestando contra a implantação de políticas de ocupação das florestas sem as devidas preocupações com a conservação da biodiversidade, denunciando as ilegalidades ambientais, exigindo dos empreendedores imobiliários e construtoras projetos mais preocupados com as manutenção das nossas florestas”, indicou o professor Marcelo.
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