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‘Câncer do 11 de setembro’ já mata mais do que atentados às torres gêmeas
Câncer de pele não melanoma, próstata e mama estão entre os mais comuns.

Quase 50 mil pessoas, entre socorristas e sobreviventes dos atentados de 11 de setembro de 2001, foram diagnosticadas com cânceres associados às toxinas liberadas nos ataques. O número de mortos pela doença supera o de vítimas daquele dia.
Diagnósticos de câncer em sobreviventes e socorristas já ultrapassam as 48 mil pessoas. Segundo o Programa de Saúde do World Trade Center, 48.579 dessas pessoas receberam algum tipo de diagnóstico oncológico. O mesmo levantamento aponta que mais de 8.200 inscritos no programa já morreram, sendo 3.767 com câncer confirmado. É mais do que os 2.977 mortos no próprio dia dos atentados.
Câncer de pele não melanoma, próstata e mama estão entre os mais comuns. Além deles, médicos relatam casos de melanoma, linfoma, cânceres de tireoide, rim, pulmão e bexiga, e leucemia. O padrão chama atenção: são doenças de longa latência, que aparecem anos ou até décadas depois da exposição.
Doenças seriam provocadas por nuvens tóxicas. Nuvens tóxicas espalharam amianto, sílica, metais pesados e fumaça cancerígena por meses. De acordo com os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), o colapso das Torres Gêmeas liberou partículas que permaneceram em Manhattan e no Brooklyn por semanas. Além disso, incêndios que seguiram ativos até dezembro de 2001 continuaram a soltar gases em 2002.
Cerca de 400 mil pessoas foram expostas em graus variados aos contaminantes. Trabalhadores, estudantes, moradores e socorristas respiraram e tocaram resíduos tóxicos diariamente. O Programa de Saúde do WTC lista mais de 350 agentes reconhecidos como “agentes do 11 de setembro”. Além de câncer, na lista estão doenças respiratórias, refluxo e distúrbios de saúde mental, como TEPT (transtorno de estresse pós-traumático).
Avanço da idade potencializa o efeito dos agentes tóxicos. O médico Steven Markowitz, da Queens College, disse ao jornal norte-americano New York Post que “essa população está envelhecendo, então o número de diagnósticos vai continuar subindo”. Isso significa que mesmo quem parecia saudável por anos pode, agora, desenvolver cânceres ligados à exposição inicial.
Tragédia também deixou marcas na saúde mental. O Programa de Saúde do WTC lista milhares de pacientes com transtorno de estresse pós-traumático (17.093), além de depressão, ansiedade e síndrome do pânico.
Programa de saúde vive incertezas
O Programa de Saúde do World Trade Center é hoje o principal suporte para 132 mil pessoas. Criado em 2011, o programa cobre desde câncer e doenças respiratórias até TEPT. De acordo com a NBC News, 64% dos inscritos já apresentam pelo menos uma condição médica ligada ao 11/9 — para muitos, o acesso gratuito a exames e quimioterapia faz diferença.
Cortes federais ameaçam atrasar diagnósticos e tratamentos. Em abril, 16 funcionários do programa foram demitidos como parte de uma reestruturação do governo Trump. “Esses cortes vão atrasar diagnósticos e custar vidas”, disse o enfermeiro Todd Cleckley. Segundo ele, consultas que antes eram marcadas em semanas agora podem demorar meses.
Demissões geram incerteza até sobre cirurgias e quimioterapia. O advogado Michael Barasch afirmou à NBC que já recebeu ligações de clientes preocupados se conseguirão continuar a receber tratamento. “É crueldade burocrática”, disse, ao lembrar que hospitais só mantêm terapias caras se têm garantia de reembolso federal.
Sem novo financiamento, programa pode reduzir atendimentos já em 2028. Parlamentares alertam que, sem a aprovação de mais recursos, o Programa de Saúde do World Trade Center pode suspender novas inscrições ou até cortar serviços para atuais beneficiários. Há projetos no Congresso para estender o financiamento até 2090, mas, até agora, o futuro é incerto.
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