Economia
Trump merece impeachment por tarifas contra o Brasil, diz norteamericano nobel da economia
A medida inaugura, de acordo com o economista, um uso político “perverso” e “megalomaníaco” das taxas e, em condições democráticas normais, seriam motivo o suficiente para levar Trump a um processo de impeachment.

O economista americano Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2008, afirma que as tarifas de 50% sobre o Brasil anunciadas pelo presidente americano Donald Trump marcam “um novo rumo” na guerra tarifária do republicano.
Isso porque, segundo ele, a medida inaugura um uso político “perverso” e “megalomaníaco” das taxas e, em condições democráticas normais, seriam motivo o suficiente para levar Trump a um processo de impeachment.
“Agora, Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro aspirante a ditador. Se você ainda achava que os Estados Unidos eram um dos mocinhos do mundo, isso deve lhe dizer de que lado estamos hoje em dia”, escreve Krugman em seu substack, justificando porque chama a medida de “perversa”.
Na carta em que notificou o Brasil sobre as tarifas, Trump chama de “caça às bruxas” e “vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente brasileiro Jair Messias Bolsonaro, réu em um processo que investiga a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros crimes. Bolsonaro nega os crimes e acusa o judiciário de perseguição política, narrativa que a Casa Branca passou a encampar publicamente nos últimos dias. O Supremo Tribunal Federal nega que haja descumprimento de qualquer preceito do devido processo legal no caso do ex-presidente.
“Observe que Trump mal finge que há uma justificativa econômica para essa ação. Trata-se apenas de punir o Brasil por levar Jair Bolsonaro a julgamento”, escreve Krugman, notando a semelhança entre o que aconteceu no Brasil em 8 de janeiro de 2023 e o ataque ao Capitólio por trumpistas em 6 de janeiro de 2021. A vitória de Trump nas urnas encerrou os processos judiciais a que ele respondia por tentar subverter o resultado da eleição que perdeu, em 2020. No Brasil, Bolsonaro, que adotou o mesmo discurso trumpista sobre fraudes eleitorais – jamais comprovadas em nenhum dos dois países – deve ser julgado pela primeira turma do STF até o fim do ano.
Mas, para Krugman, as taxas têm também pouca chance de sucesso para pressionar o Brasil politicamente – e por isso ele as qualifica como “megalomaníacas”. “Essas exportações (brasileiras) para os EUA representam menos de 2% do PIB brasileiro”, escreve Krugman. “Trump realmente imagina que pode usar tarifas para intimidar uma nação enorme, que nem sequer depende muito do mercado americano, a abandonar a democracia?”, questiona ele, conhecido crítico do trumpismo.
Os Estados Unidos são o segundo mais importante parceiro comercial do Brasil. Ao contrário do que dizia a carta de Trump, que citava um “insustentável déficit” dos americanos, os Estados Unidos tiveram superávit na balança comercial com o Brasil nos últimos 15 anos, o que implica em potencial dano maior à economia americana do que à brasileira. O impacto, porém, deve ser grande para alguns setores da indústria nacional, como a siderurgia.
“Se ainda tivéssemos uma democracia em funcionamento, essa manobra do Brasil seria, por si só, motivo para impeachment. É claro que teria que ficar na fila atrás de todos os outros motivos”, conclui o economista, ex-colunista do jornal americano New York Times. “De qualquer forma, não ignore isso. Estamos diante de mais um passo terrível na espiral descendente do nosso país”, diz.
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