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Brasil

Fundação lança Atlas da Amazônia com autores locais e alerta para crise ambiental

Entre os mais de 50 colaboradores, destacam-se 19 indígenas, 5 quilombolas e 2 ribeirinhos.

No momento em que os olhos do mundo se voltam para a Amazônia e Belém (PA), cidade que sediará a COP30, a Fundação Heinrich Böll comemora seus 25 anos de atuação no Brasil com o lançamento de uma obra inédita e simbólica: o Atlas da Amazônia Brasileira. A publicação reúne 32 artigos assinados exclusivamente por autores da região. Entre os mais de 50 colaboradores, destacam-se 19 indígenas, 5 quilombolas e 2 ribeirinhos em um gesto editorial que rompe com a lógica colonial de olhar externo sobre a floresta.

O lançamento foi realizado nesta segunda-feira (5/5), no Rio de Janeiro, com a presença da presidência internacional da Fundação, da diretoria brasileira, de membros do Conselho Editorial da obra, além de autoridades, acadêmicos, ativistas e comunicadores da região amazônica. O evento celebra não apenas o aniversário da instituição, como também a estreia de uma coletânea que propõe uma leitura profundamente enraizada do território amazônico, baseada em justiça climática, resistência e valorização dos saberes locais.

“Ao longo dessa jornada, construímos pontes entre Brasil e Alemanha e contribuímos para avançar pautas fundamentais como os direitos humanos, a justiça socioambiental, a igualdade de gênero e a luta antirracista”, afirma Regine Schönenberg, diretora da Fundação no Brasil. “Atuamos na defesa dos direitos dos povos do campo e da floresta, e um belo exemplo é o lançamento do Atlas da Amazônia Brasileira, uma publicação essencial para ampliar o debate sobre o futuro e os desafios da região. Acreditamos que enfrentar os desafios do nosso tempo — sociais, ecológicos e políticos — exige engajamento, escuta e produção de conhecimento.”

Mais que uma coletânea de artigos, o Atlas da Amazônia Brasileira se apresenta como instrumento de denúncia e proposição. A obra aborda temas como desmatamento, avanço do garimpo ilegal, violência política, greenwashing, direitos territoriais e saberes ancestrais, articulando ciência, política e vivência comunitária.

Segundo Marcelo Montenegro, coordenador da área de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll e coorganizador da obra, o Atlas nasce de um compromisso inegociável com a escuta ativa dos povos da floresta. “A publicação do Atlas representa um marco na história da Fundação por ser a primeira coletânea formada exclusivamente por textos de autores da região amazônica. Isso é inédito”, destaca. “Esperamos estimular diálogos e inspirar soluções diante das adversidades enfrentadas pela Amazônia e seus povos, conflitos que refletem a complexa relação entre humanidade e natureza.”

A obra, que será traduzida para diversos idiomas, também pretende alcançar leitores estrangeiros. Para Aiala Colares, membro do Conselho Editorial do Atlas, a publicação contribui diretamente para a defesa dos povos que lutam por justiça socioambiental. “Os textos que compõe o Atlas considero como importantes reflexões que tratam de uma Amazônia viva, que resiste em meio às contradições do desenvolvimento. Dá visibilidade para questões que abordam os territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses por uma perspectiva que denuncia as violações de direitos, e ter uma diversidade de autores de diversas áreas do conhecimento e ligados aos movimentos sociais diversos, dá esse caráter multidisciplinar e integrado à uma produção do conhecimento compactuado com a defesa floresta”, analisa.

O lançamento do Atlas ocorre em um contexto crítico para a floresta. Entre 2019 e 2022, o desmatamento atingiu níveis alarmantes. Nesse período, a mineração ilegal em áreas protegidas cresceu 90%, o número de pessoas armadas na Amazônia Ocidental saltou 1.020%, e 39 defensores ambientais foram assassinados em 2022. O território Yanomami também foi palco de uma das mais graves crises humanitárias recentes, provocada pela invasão garimpeira.

A região ainda sofre os efeitos de duas secas severas consecutivas, em 2023 e 2024, e enfrenta recordes de queimadas, que chegaram a atingir o Pantanal e o Cerrado. A fumaça impactou a saúde de milhares de pessoas em estados distantes, evidenciando que a Amazônia é uma pauta nacional e global.

Diante do colapso ambiental e político, ganham força as mobilizações de coletivos, comunidades e movimentos sociais amazônidas. Para Schönenberg, o Atlas é reflexo direto dessa resistência. “Reconhecer e defender o papel central dos povos amazônidas é essencial para qualquer solução real para a crise climática. É preciso garantir seus direitos territoriais e modos de vida. O momento é de ação: proteger, preservar e assegurar que a Amazônia continue de pé — não apenas para o Brasil, mas para o mundo.”

Um legado para além do papel

Presente em mais de 42 países, a Fundação Heinrich Böll atua no Brasil desde 2000, fortalecendo a democracia por meio do apoio à sociedade civil, do fomento ao debate público e da produção de conhecimento crítico. No campo da justiça socioambiental, tem se dedicado especialmente à promoção dos direitos dos povos do campo e da floresta — trabalho que encontra no Atlas da Amazônia Brasileira uma de suas mais contundentes expressões.

A publicação está disponível gratuitamente e será distribuída em instituições de ensino, centros de pesquisa e movimentos sociais, com o objetivo de ampliar o alcance das vozes amazônidas em um momento em que é urgente ouvi-las com atenção e respeito.

A versão digital do Atlas da Amazônia Brasileira pode ser acessada e baixada gratuitamente no site da Fundação Heinrich Böll.
https://br.boell.org/pt-br/atlas-da-amazonia


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