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Brasil

Rivalidade entre facções na Amazônia tem maior taxa de homicídio, aponta Escritório da ONU

Segundo o estudo, o crime organizado lava dinheiro com narco-desmatamento.

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Novo estudo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), divulgado nesta terça-feira (08/04), mostra que a rivalidade entre facções criminosas na Amazônia tem taxas de homicídio acima da média nacional.

Em 2021, por exemplo, os municípios brasileiros da Amazônia Legal tiveram algumas das maiores taxas de homicídio do país. Enquanto a média nacional foi de 21 mortes por 100 mil habitantes, a média da região foi de quase 30 homicídios.

De acordo com o relatório, trata-se de um problema regional, mas o Brasil – que concentra 60% da Floresta Amazônica – é um dos países mais impactados pela dinâmica entre crimes florestais, tráfico de drogas e mineração.

Ainda de acordo com o estudo, o crime organizado tem “lavado” o dinheiro do tráfico de drogas por meio da especulação de terras e investimentos no setor agrícola e na pecuária. Por isso, os pesquisadores chamaram esse processo de “narco-desmatamento”.

O estudo conclui que o crime florestal se mistura em processos legais e cadeias de suprimentos, o que dificulta ser identificado. A madeira explorada ilegalmente, por exemplo, entraria no mercado legal, segundo a agência, por meio de licenças fraudulentas ou suborno de funcionários.

O relatório da ONU revela que a mineração em terras indígenas se agravou especialmente entre 2011 e 2021, com um aumento de 625%; e taxas de desmatamento de uma a três vezes maiores em comparação com terras indígenas sem mineração. Apesar dessa situação, o documento registra a redução significativa do desmatamento da Amazônia Legal nos últimos três anos.

De acordo com o levantamento, em 2021, municípios da Amazônia Legal brasileira tiveram algumas das maiores taxas de homicídio do país. A média regional chegou a 29,6 homicídios por 100 mil habitantes, em comparação com o patamar nacional de 21,3.

Para o Unodc, isso pode ser explicado em parte pela competição entre facções criminosas rivais pelo controle da produção, distribuição e venda de drogas.

Para esses grupos, os crimes florestais podem servir para aumentar lucros, influência e controle territorial. O estudo diz que na América do Sul, o crime organizado “lava” dinheiro do tráfico de drogas por meio da especulação com a compra de terras, e investimentos no setor agrícola ou pecuária.

A agência da ONU alerta para atividade do grupo criminoso Primeiro Comando da Capital, ou PCC, com operações de mineração em todo o território Yanomami. Considerada a maior reserva indígena do mundo, a áreas sofre com tráfico de drogas e exploração sexual.

Essa exploração ilegal teve consequências arrasadoras para as comunidades indígenas que dependem de peixes de rios locais contaminados com mercúrio como resultado das atividades de mineração.

O problema se estende para comunidades indígenas em países vizinhos na Bacia Amazônica, também afetadas pelo envolvimento de grupos criminosos, que frequentemente alvejam líderes indígenas.

A Amazônia Legal envolve nove estados brasileiros, que concentram cerca de 60% da Floresta Amazônica.

A chefe de Pesquisa e Análise do Unodc afirmou que criminosos florestais estão frequentemente envolvidos em outros tipos de crime, desde tráfico de drogas e vida selvagem até o uso de trabalho infantil e mineração ilegal.

Angela Me contou que empresas legítimas “em busca atalhos para aumentar os lucros” também cometem crimes de desmatamento e extração ilegal de madeira.

Para ela, a solução passa por regulamentações mais fortes e fiscalização robusta para combater efetivamente essas “ameaças interconectadas à biodiversidade, economia e segurança global”.

Brechas ainda abertas
O estudo conclui que o crime florestal se infiltra em processos legais e cadeias de suprimentos, dificultando o policiamento.

Madeira explorada ilegalmente, por exemplo, entra em mercados legais por meio de licenças fraudulentas, suborno e falhas regulatórias, geralmente com a ajuda de funcionários corruptos e empresas cúmplices

O Unodc defende que as estruturas políticas sejam responsivas às estratégias ilegais em evolução, que devem ser avaliadas constantemente para eliminar quaisquer brechas.


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