Brasil
Mais de 50% dos municípios da Amazônia passou 2024 inteiro em seca, aponta InfoAmazonia
Segundo a análise, em setembro, auge do verão na Amazônia em 2024, quase todas cidades estavam em algum grau de seca: 759 (98,3%).
O InfoAmazonia divulgou análise, com base em dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, em que aponta que 459 municípios da região amazônica brasileira (59,5% do total) registraram algum grau de seca de 1º janeiro até 31 de dezembro no ano passado (2024).
O InfoAmazonia é uma organização sem fins lucrativos sediada no Brasil, que trabalha em rede com jornalistas e veículos locais e internacionais e mantém um veículo de notícias que utiliza dados, mapas e reportagens geolocalizadas para contar histórias sobre a região.
Segundo a análise, em setembro, auge do verão na Amazônia em 2024, quase todas cidades estavam em algum grau de seca: 759 (98,3%). Quase todos os municípios amazônicos vivenciaram a versão moderada do problema pelo menos uma vez em 2024: 747 (96,7%). Já a seca severa foi sentida por 486 municípios (63%) e, a extrema, por 74 (9,5%). Em Feijó, no Acre, onde vivem 35 mil pessoas, a população enfrentou, por dez meses, variações de seca entre moderada, severa e extrema.
Em 2024, o déficit de chuvas foi tão grande que os principais rios da bacia do Amazonas tiveram o menor nível da história. A temperatura média da Terra ultrapassou, pela primeira vez, 1,5°C em relação à época pré-industrial, um marco histórico que os cientistas alertam ser fundamental evitar desde o Acordo de Paris, assinado em 2015.
O país não dispõe de um sistema de gestão de risco específico para a Amazônia, o que compromete a eficácia e a rapidez das respostas. A InfoAmazonia buscou analisar qual deve ser o posicionamento dos novos prefeitos eleitos nas cidades que enfrentaram a seca de 2024, a fim de compreender se há perspectivas de uma gestão mais ágil nos próximos anos.
Assim, o levantamento trouxe os dados do Índice de Convergência Ambiental total (ICAt) do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), que avalia o comprometimento de parlamentares em relação ao meio ambiente, com uma posição favorável ou não às pautas sobre o tema. Das cidades que enfrentam seca severa, extrema ou excepcional, 117 (89%) elegeram prefeitos com índice péssimo, ou seja, pessoas contra a causa ambiental. Os resultados também mostraram que os prefeitos pró-meio ambiente reeleitos enfrentaram secas mais fracas.
O cientista político Marcos Woortmann, diretor adjunto do IDS, explica que há uma falta de gestores públicos capacitados para debater, planejar e executar ideias que criem ações a curto prazo contra a seca. Nos últimos dois anos, a população amazônica ficou à mercê de propostas como distribuição de alimentos, envio de brigadistas e drenagem dos rios, sem projetos que realmente reduzissem definitivamente os impactos dos eventos extremos.
Woortmann afirma, ainda, que é necessário um plano de adaptação em nível municipal para cada um deles. “A Constituição, no seu artigo 170, traz o direito ao meio ambiente saudável como um direito previsto naquela Carta Magna. Essas pessoas estão ali fazendo precisamente o contrário, atuando contra a melhor ciência e contra também os saberes tradicionais, porque populações indígenas, populações ribeirinhas, também têm as suas leituras do meio ambiente”, diz.
E 2025?
O climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden, disse que em 2025 há a previsão de a região sentir os efeitos do La Niña, fenômeno que resfria as águas do oceano Pacífico, mas que ainda não é possível afirmar como ele irá se comportar. “Quando se tem a La Niña, existe uma tendência de seca no Sul e chuvas na Amazônia, mas temos o oceano Atlântico muito quente, que não está favorecendo as chuvas”, diz. O especialista explica que, por isso, a tendência do aumento da temperatura na Amazônia vai continuar.
Até julho do ano passado, um outro fenômeno influenciou o clima na região: o El Niño, fenômeno que gera o aquecimento das águas do oceano Pacífico. No entanto, Marengo explica que a seca que ocorreu na Amazônia não é consequência de um único evento isolado.
“A estação seca está ficando mais quente. Durante o El Niño fica pior, mas não é o El Niño a causa. Isso está sendo comprovado por diferentes pesquisas. Algumas das causas são, por exemplo, a variabilidade interdecadal do Pacífico e as oscilações multidecadal do Atlântico. Mas o pano de fundo é o aquecimento global”, diz.
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