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Amazonas

Aneel alerta ONS que estiagem pode ameaçar distribuição de energia no Amazonas

A Aneel cita o fato de que a principal região produtora de petróleo e gás na região, o chamado “Polo Urucu”, no município de Coari (AM), controlada pela Petrobras, depende, em parte do percurso, do transporte fluvial

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Trecho do rio Solimões, em Tefé. (Foto: Lalo de Almeida/Reprodução)

A pior estiagem enfrentada pelo Brasil nos últimos 75 anos ameaça o abastecimento de energia elétrica no estado do Amazonas. O alerta foi dado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) há 20 dias. Em documento encaminhado ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), ao qual reportagem do site Brazilian Report teve acesso, a agência reguladora alertou que “a situação de seca na região Norte tem se agravado” e que isso está “resultando em dificuldade de navegação em alguns rios da região amazônica, o que pode representar risco de desabastecimento de combustível para as centrais geradoras localizadas na região”.

O ONS é a instituição responsável por gerenciar as operações diárias e a programação do abastecimento nacional de energia. Com a baixa no nível de água em várias regiões, como o rio Solimões, um dos afluentes que formam o rio Amazonas, são grandes os riscos de encalhe de embarcações de combustível, já que em várias regiões o meio fluvial é a única rota de acesso .

Embora a região amazônica concentre as maiores usinas hidrelétricas do país, grande parte dessa geração é enviada para a região Sudeste do país, o que faz com que territórios amazônicos dependam da geração de termelétricas a gás e óleo diesel.

Em seu ofício, a Aneel cita o fato de que a principal região produtora de petróleo e gás na região, o chamado “Polo Urucu”, no município de Coari (AM), controlada pela Petrobras, depende, em parte do percurso, do transporte fluvial até chegar ao terminal portuário do Solimões, o qual está localizado em uma região que tem sofrido severamente com a seca.

“A dificuldade de transporte de GLP/petróleo por via fluvial, em função de navegabilidade durante crise hídrica, poderá representar parada de produção desses produtos, indisponibilizando, parcial ou totalmente, o fornecimento de gás natural”, afirma a Aneel no documento.

Para evitar riscos de desabastecimento, a agência tem a responsabilidade das usinas de manutenção de seus estoques de combustível em níveis mais altos, com o propósito de evitar a paralisação por falta de insumo.

O MME (Ministério de Minas e Energia) acompanha o assunto de perto, por meio da “sala de monitoramento do abastecimento de combustíveis na região Norte”, que foi criada.

Há 20 dias, segundo o MME, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), responsável pela gestão das estradas e hidrovias federais, informou que as ações de dragagem (retirada de sedimentos do leito) no trecho do rio Solimões, entre as cidades de Coari e Codajás, no estado do Amazonas, seria iniciado apenas na segunda quinzena deste mês, o que aumenta os riscos de encalhe.

“Tal fato aumenta os riscos de problemas sérios na rota de navegação que leva produtos da província petrolífera de Urucu para Manaus, podendo, no limite, até implicar na parada da planta de Urucu, com corte de fornecimento de gás natural, petróleo e GLP para a Refinaria de Manaus, impactando o mercado de fornecimento na região.

O Amazonas é abastecido por 121 usinas térmicas de produção de energia. Em muitos casos, os geradores também relataram aumento no custo do diesel que utiliza em suas plantas, devido ao preço do frete do combustível, que ficou mais caro.

Seca já compromete transporte no Acre

No estado do Acre, vizinho do Amazonas, a seca dos rios já compromete o abastecimento de usinas da região. Relatório Brasileiro apurou que, nos municípios de Cruzeiro do Sul, Feijó e Tarauacá, o transporte de combustível das usinas trocou o caminho mais curto dos rios pela estrada, a BR-364, bem mais longo.

No dia 13 de setembro, a empresa Rovema Energia informou que, em Cruzeiro do Sul, principal polo econômico da região cortada pelo rio Juruá, um afluente do rio Amazonas, está com o transporte “suspenso pela seca que atinge a região”.

Para evitar falta de combustível, o transporte deixou o rio e migrou para a rodovia, com cerca de 20 carretas cruzando 1.250 km, entre Porto Velho (RO) e Cruzeiro do Sul (AC).

O combustível destinado a Cruzeiro do Sul é transportado normalmente pela via fluvial, a partir de Manaus pelo rio Juruá, durante os meses de chuva. Devido à seca, porém, um total de 5.000 m³ de combustível chegou a ficar encalhado, segundo a empresa, mas o transbordo do insumo para outra embarcação já foi feito, aguardando melhoria do fluxo de navegabilidade.

Neste ano, segundo dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), do Ministério de Ciência e Tecnologia, 58% do território nacional já foi afetado pela seca. Em cerca de um terço do país, o cenário é de seca severa.

A Bacia Amazônica enfrentou pior estimativa em 45 anos. Até o dia 15 de setembro, 820 incêndios foram identificados na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 20 municípios concentraram 85% dos focos de calor na Amazônia e, entre 1º de janeiro e 15 de setembro, foram queimados 9.686.750 hectares de floresta, o equivalente a 2,3% do bioma no Brasil.

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