Amazonas
Polícia investiga pelo menos 11 crimes em caso de morte de ex-sinhazinha no Amazonas
Pelo menos três delegacias estão envolvidas na investigação que passa pela morte da mulher que foi personagem importante do festival de Parintins.
O inquérito sobre a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido investiga pelo menos 11 crimes envolvendo familiares de Djidja Cardoso e funcionários de um salão de beleza e de uma clínica veterinária: homicídio com dolo eventual, tráfico de drogas, associação para o tráfico, perigo para a vida ou saúde de outrem, falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, aborto provocado sem consentimento da gestante
estupro de vulnerável, charlatanismo, curandeirismo, sequestro e cárcere privado e constrangimento ilegal.
Além do homicídio com dolo eventual da influenciadora, há ainda a apuração de crimes relacionados ao tráfico de drogas, cárcere privado e aborto. Na tarde de sexta-feira (31/5) a polícia prendeu a quinta pessoa apontada como participante de um esquema ilegal que envolvia uma seita religiosa e o uso de anestésico de cavalos para fins alucinógenos.
A CNN informou que obteve acesso ao inquérito de 238 páginas sobre a morte da antiga personagem do festival de Parintins. Ele traz uma série de depoimentos de pessoas relacionadas com o grupo, além de fotos e vídeos que mostram a ketamina, ou cetamina, substância usada como anestésico para animais de grande porte.
Os investigadores já recolheram provas que apontam para um esquema ilegal que envolvia uma seita familiar, um salão de beleza e uma clínica veterinária.
Os indícios apontam para que a ex-sinhazinha era membro de uma espécie de grupo religioso que a intitulava “Maria Madalena”. O irmão dela seria “Jesus” e a mãe dos dois, a figura de “Maria”.
O irmão e a mãe de Djidja foram presos, assim como outros três funcionários — uma gerente, um maquiador e uma maquiadora — do salão de beleza da família. Ao todo, cinco pessoas estão detidas pela participação no esquema.
Contra o irmão de Djidja, Ademar Farias Cardoso Neto, há várias acusações. Ele teria sido responsável pelo estupro, cárcere privado, sequestro e aborto de uma namorada, que também foi envolvida nas ações da seita “Pai, Mãe e Vida”. A CNN tenta contato com a defesa de Ademar.
Como a ketamina é uma substância de uso restrito para veterinários, a clínica que supostamente fornecia o item para a seita também está sendo investigada.
Neste caso, há o crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Os policiais incluíram também no inquérito os crimes de tráfico e associação ao tráfico.
Contra os supostos líderes da seita, mãe e irmão de Djidja, há ainda acusações de charlatanismo e curandeirismo. Basicamente, o inquérito estava avançado pois o tráfico do anestésico de cavalos já estava sendo investigado. A morte de Djidja só teria acelerado esse processo.
Defesa
Durante entrevista coletiva realizada neste domingo (2), advogados que representam familiares da ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso negaram a existência de uma seita ou a prática de rituais realizados por parte de seus clientes.
Conforme a polícia, a investigação já recolheu provas que apontam para um esquema ilegal que envolvia uma seita familiar, um salão de beleza e uma clínica veterinária. Os indícios apontam que a ex-sinhazinha era integrante dessa espécie de grupo religioso, chamado “Pai, Mãe, Vida” que a intitulava como “Maria Madalena”. O irmão dela, Ademar, seria “Jesus” e a mãe dos dois, a figura de “Maria”. A defesa afirma que tudo isso era fruto da alucinações causadas pelo uso contínuo da ketamina, um tipo de anestésico.
A advogada Lidiane Roque afirmou que a mãe de Djidja Cardoso, Cleusimar, chegou a oferecer a substância a ela. “Eu tomo a liberdade de dizer que ela [Cleusimar] chegou a me oferecer. Mas nunca houve coação, nunca houve obrigação. Eu respondi da mesma forma que todos que eu questionei. Respondi: ‘não tenho interesse, mas agradeço’”.
Ainda segundo a advogada, Djidja, Cleusimar e Ademar, se tornaram dependentes químicos e que “perderam o controle”.
Também durante a coletiva, a defesa falou sobre os materiais apreendidos pela polícia em uma das unidades do salão de beleza da família. Na sexta-feira (31) o delegado Cícero Túlio, que comenda parte das investigações, afirmou que seringas “prontas para o uso” foram encontradas durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão nesses locais, juntamente com doses de ketamina.
Segundo a defesa, as seringas continham produtos usados nos salões, como shampoo e condicionador. Além disso, os advogados negaram que as unidades da rede de salão tenham sido usadas para o armazenamento ou consumo de drogas.
“A família Cardoso se drogava em casa, por isso o isolamento. Todo mundo sabe que é um dos sintomas, a necessidade do viciado em se isolar, porque ele quer fazer só aquilo. A Djidja, eu presenciei, nem saia do quarto. Que ritual é esse que as pessoas ficam isoladas?”, disse Lidiane.
Conforme o inquérito policial há várias acusações contra o irmão de Djidja, Ademar Farias Cardoso Neto. Ele teria sido responsável pelo estupro, cárcere privado, sequestro e aborto de uma namorada, que também foi envolvida nas ações da seita “Pai, Mãe, Vida”.
Sobre isso, a defesa aponta que a prova testemunhal seria questionável. “As pessoas que foram na delegacia fazer a denúncia estão muito envolvidas emocionalmente. E algumas delas são dependentes químicas. Quando a pessoa faz uso prolongado dessa droga [ketamina], os efeitos não duram apenas 40 minutos. Eles duram por dias e dias. Não se sabe em quais condições essas pessoas prestaram depoimento”, disse a advogada Nauzila Campos.
Ao todo, cinco pessoas foram detidas e são investigadas pela participação no esquema. Os advogados afirmam que a prisão salvou a vida delas. “Se essa operação tivesse sido deflagrada algumas semanas atrás, a Djidja estaria viva. Ela estaria presa, mas estaria viva. Então, nós reconhecemos a função social dessa operação”, apontou Nauzila.
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