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Brasil

Estilista se inspira em árvore da Amazônia para vestir Gaby Amarantos no Grammy Latino

Marco Normando, estilista do Pará, detalhou que o vestido inspirado na Samaúma, levou cerca de 200 horas para ser produzido.

A Samaúma, árvore gigantesca da Amazônia que pode chegar a até 70 metros de altura e séculos de vida, é conhecida por ser a ‘rainha das matas’ e recentemente serviu de inspiração para a produção do vestido de Gaby Amarantos, usado na premiação do Grammy Latino 2023, quando a artista do tecnobrega de Belém foi reconhecida internacionalmente por ter o Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa.

“A Gaby é como a própria Samaúma: imponente, resiliente, extraordinária e gigante. Ela com sua voz e seu talento, assim como as raízes da Samaumeira, reverberam para fora da terra e nutrem, abrem portas para outros artistas da Amazônia”, diz Marco Normando, estilista paraense que criou o vestido de Gaby.

O traje ousou em todos os sentidos, pois não foi apenas uma vestimenta, havia significado que foi exposto pela artista durante sua ida ao palco para receber o prêmio. Os tons verdes representando as folhas e o caule como parte principal do vestido chamaram a atenção do público e repercutiram nas redes sociais.

Segundo o estilista e diretor criativo, Marco Normando, a produção da peça levou cerca de 200 horas, totalizando 8 horas de trabalho diários em 25 dias consecutivos.

A parte principal precisou ser detalhada minuciosamente em um trabalho manual, para assim remeter às raízes grossas do vegetal.

“Nossos rios estão secando, nossa floresta está sendo destruída e queimada há anos. Acredito que podemos comunicar pautas importantes através das artes e também da moda. A própria Gaby citou em seu discurso na premiação”, relembrou Normando.

Em sua fala de agradecimento, na Espanha, a cantora mencionou a importância da floresta amazônica para o planeta e de como é necessário um olhar atento às necessidades dessa região para que se mantenha de pé.

“Estou vestida de Samaumeira, uma árvore da Amazônia que tem grandes raízes. Precisamos cuidar de nossa floresta amazônica e uma forma de cuidar é ouvir sua música, conhecer sua cultura!”, detalhou Gaby.

Para o estilista Normando, foi fundamental trazer reflexões sobre a Amazônia no vestido de Gaby, assim pôde levar as origens do Pará ao mundo.

‘Estou colhendo frutos que há mais de 20 anos foram plantados’, diz Gaby Amarantos após indicação ao Grammy. Um dos pontos citados pelo diretor criativo foram as inspirações que se basearam no tecnobrega, ritmo cantado por Gaby, além da mistura com a natureza que também são retratados nos editoriais de clipes da artista.

“Quis trazer muito da Gaby nesse trabalho, então busquei materiais que conversassem tanto com a ideia da Samaumeira como com as referências culturais encontradas nos trabalhos dela”, revelou.

Criação

Durante o processo de pesquisa para a produção da peça, o estilista conta que junto ao artista plástico, sócio e também diretor geral da marca Normando, Emídio Contente, encontraram tecidos metálicos e com brilhos, conseguindo fazer que o vestido acendesse no tapete vermelho.

A parte com maior detalhes e trabalho manual foi no momento dos plissados, onde esculpiram um material de poliuretano em formas tridimensionais para dar forma às raízes e troncos para que fosse construído no corpo de tal forma que se assemelhasse a uma árvore Samaumeira.

Outra parte especial foi o costeiro (parte de trás do vestido), construído do zero, utilizando a dublagem de dois tecidos e no meio deles, costurados a cada 5 cm, linhas de monofilamentos para que quando a Gaby o vestisse, a peça estruturasse criando o aspecto de copa de árvore.

História e trabalhos com Gaby

Normando e Gaby são naturais de Belém, capital do Pará. Atualmente os dois moram em outro Estado, mas o estilista conta que seu encanto e parceria com a cantora começou ainda na capital paraense.

Uma das primeiras vezes que lembra de ter ficado alucinado com a conterrânea foi ao assistir um show dela, dentro de um bar, às margens do rio que cerca a Grande Belém.

“Minha história com a Gaby vem de outros carnavais. Acompanhava, como muitos de nós em Belém, a trajetória através das rádios locais, mas foi em um show dela no Palafita que fiquei encantado”, contou.

Em 2022, após 10 anos, os paraenses fizeram seu primeiro trabalho juntos, uma produção para a final da 11° edição do programa brasileiro The Voice Brasil, onde Gaby era uma das juradas.

Desta vez, um top e uma saia foram criados sob medida para a artista, construídos em tecido tecnológico plissado de cetim com fios de metal.

As peças tiveram referências as Icamiabas, guerreiras que viviam na região de Nhamundá (divisa do Pará com Amazonas) e que defendiam o seu povo de invasores; além de saia com inspiração na planta aquática Vitória-régia.

“Minha admiração e apoio à Gaby é de tempos e permanece forte e pulsante porque a Gaby é essa mulher resiliente que empodera tantas outras, sendo uma mulher preta nortista, que vem da periferia (como a mesma fala) e que nunca desistiu de sonhar, que sempre foi atrás do que queria e que conseguiu!”.

Para o estilista paraense, impulsionar profissionais e artistas brasileiros, principalmente do Norte, é extremamente importante.

“O apoiar também significa consumir, não podemos ficar só no discurso. A Amazônia é gigante e importante, prova disso é a Gaby ganhando o Grammy Awards usando Normando. Queremos ver artistas do Pará e da Amazônia toda brilhando”, finalizou.


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