Economia
Chuvas no Sul e seca na Amazônia preocupam produtores de cimento no Brasil
O setor, que em 2022 teve queda de 2,8% nas vendas, espera recuo de cerca de 1% na comercialização este ano, para cerca de 62,2 milhões de toneladas.
Os produtores de cimento do Brasil mantiveram nesta segunda-feira a expectativa de vendas menores em 2023 após a queda maior que a esperada na comercialização no ano anterior, ainda sentido um cenário de juros elevados, fraqueza na atividade econômica e impacto do clima.
O setor, que em 2022 teve queda de 2,8% nas vendas, espera recuo de cerca de 1% na comercialização este ano, para cerca de 62,2 milhões de toneladas, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pela entidade que representa os fabricantes do insumo, Snic.
“O problema da seca na Amazônia e as chuvas no Sul têm nos preocupado muito”, disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna. “As mudanças climáticas viraram realidade para a construção civil e para a demanda por cimento”, disse o executivo.
Segundo ele, se por um lado a seca na Amazônia dificulta a logística de distribuição do cimento, as chuvas fortes que estão atingindo o Sul do país neste semestre têm dificultado o andamento de obras e, por consequência, a demanda pelo insumo.
O prognóstico de Penna no início do ano, de um segundo semestre mais aquecido por conta de um clima que costumava ser mais seco, efeito de queda de juros e expectativas em torno dos programas Minha Casa Minha Vida e PAC, por enquanto não tem se confirmado.
A comercialização de cimento em setembro, por exemplo, caiu 5,1% sobre um ano antes, para 5,24 milhões de toneladas, com todas as regiões do país mostrando números negativos, em especial os Estados do Sul, que sofreram queda de 8,1%, segundo os números do Snic.
Por dia útil, as vendas de setembro também recuaram na relação anual, caindo 2,5%, a cerca de 232 mil toneladas.
O desempenho de setembro, veio depois de um agosto de avanço de apenas 1,4% e de queda de 0,7% em julho.
No ano, as vendas acumulam queda de 2%, a 46,85 milhões de toneladas, de acordo com o Snic, com o Norte do país sofrendo a maior queda, de 4,1%, seguida por recuos de 3,9% no Centro-Oeste, 3,8% no Sul e 0,9% no Sudeste. Apenas o Nordeste tem alta de vendas de cimento no ano até setembro, de discreto 0,3%.
“O tombo foi muito forte em setembro. Há ainda uma competição desigual entre ativos financeiros e imobiliários”, disse Penna sobre o nível ainda elevado dos juros, apesar do início do ciclo de redução pelo Banco Central.
Os números do setor de cimento encontram eco em outros segmentos da economia, como o de siderurgia, que registra um consumo aparente de aço declinante, agravado por fortes importações. Já a indústria da construção civil têm expectativa de crescimento de 1,5%, forte desaceleração ante os quase 7% de 2022.
Mas diferente de outros segmentos, a indústria do cimento depende quase exclusivamente da demanda interna, que hoje está 70% dependente de projetos imobiliários, diferente de anos anteriores quando a balança pendia para grandes obras de infraestrutura.
“Enquanto não decola (o MCMV reformulado), a gente fica privado de um desenvolvimento significativo”, disse Penna, citando que apenas o programa habitacional relançado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva seria capaz de gerar consumo de 2 milhões a 3 milhões de toneladas de cimento por ano.
Enquanto isso não acontece, a indústria de cimento convive com um nível de ociosidade de cerca de 34% de sua capacidade de 94 milhões de toneladas, segundo os dados do Snic. “Isso preocupa o setor”, disse Penna. Ele citou a programação da indústria do cimento de investir cerca de 3 bilhões de reais até 2030 para adaptar fábricas para uso de coprocessamento de rejeitos, uma forma de reduzir emissões de CO2 por meio da queima de material – como pneus descartados – nos fornos de produção de cimento.
“Perdemos no ano passado 1,8 milhão de toneladas de vendas. E este ano até setembro foram 800 mil toneladas de perda. Mas com a expectativa de maturação do MCMV e o avanço do processo de concessões…poderemos ter uma perda menos impactante este ano para voltarmos a crescer em 2024. Isso parece bastante factível”, disse Penna.
O executivo citou ainda entre os fatores para o otimismo sobre o próximo ano o andamento do programa de renegociação de dívidas Desenrola. “Poderemos ter uma melhoria da massa assalariada.”
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