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Crise do INSS completa dois meses sem previsão para ressarcir vítimas
Dinheiro descontado sem autorização será devolvido seguindo a ordem de solicitação, segundo apuração da CNN

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Dois meses após a operação que revelou um esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias e pensões do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), ainda não há previsão de ressarcimento às vítimas, segundo apurou a CNN.
O prejuízo estimado é de R$ 6 bilhões, envolvendo associações, corretoras, call centers e empresas de consultoria que teriam aplicado os descontos sem autorização dos beneficiários, entre 2019 e 2024.
Para tentar separar os descontos efetivamente não autorizados, o governo lançou uma funcionalidade no aplicativo “Meu INSS” para cada aposentado contestar diretamente os lançamentos em seu benefício.
Cada contestação abriu um processo individual, com prazo para que a associação comprove a autorização do desconto. Caso o documento não seja apresentado — como prevê a lei —, a entidade terá 15 dias para devolver o valor ao INSS, que depois repassará a quantia ao beneficiário por meio de folha suplementar.
A CNN apurou que a elaboração do calendário de restituição está na fase final. Fontes envolvidas no processo apontam que o dinheiro será devolvido seguindo a ordem de solicitação, isto é, quem iniciou o processo primeiro, terá prioridade no ressarcimento.
O governo federal irá utilizar recursos do Tesouro Nacional para ressarcir os aposentados, mas ainda há impasses com a equipe econômica sobre como e quanto deverá ser retirado dos cofres públicos.
Na avaliação do ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, a população afetada não pode esperar pelo fim do processo judicial para ter o seu dinheiro devolvido.
Por outro lado, fontes ligadas ao orçamento afirmam que há caminhos viáveis para efetuar os pagamentos, que deverão ser detalhados no próximo relatório de avaliação de receitas e despesas, previsto para o fim de julho. Para isso, será necessário bloquear parte dos recursos disponíveis, garantindo espaço fiscal para o repasse dos valores apurados pelo INSS.
Durante audiência na Câmara dos Deputados no início de junho, Wolney Queiroz afirmou que o ressarcimento de descontos indevidos a aposentados e pensionistas do INSS pode chegar a R$ 4 bilhões.
Cerca de 3,4 milhões de aposentados já sinalizaram ao INSS que foram vítimas da fraude. De acordo com o último balanço divulgado pelo órgão em 19 de junho, somente 93,2 mil beneficiários reconheceram os descontos. Não há prazo para que os 9 milhões de aposentados se manifestem.
Em nota, a AGU informou que deve apresentar, nesta semana, ao Supremo Tribunal Federal (STF), o calendário de ressarcimento dos aposentados e pensionistas que foram vítimas de descontos associativos indevidos. Já o Ministério da Previdência disse à CNN que o prazo limite para a devolução dos valores é até 31 de dezembro de 2025.
“Informamos ainda que todos os segurados que tiveram esse desconto serão ressarcidos, em parcela única, o mais breve possível”, disse a pasta em nota.
Lentidão
Para o professor da FGV-SP e pesquisador na Escola Nacional de Administração Pública (Enap) Rafael Viegas, embora existam obstáculos reais – como a complexidade de identificar as vítimas, a necessidade de diferenciar descontos autorizados de fraudes e o risco fiscal de pagamentos em massa sem base jurídica sólida – o governo já poderia ter estabelecido um plano emergencial com prazos, ações e comunicação claras.
“A lentidão em oferecer respostas concretas agrava o prejuízo das pessoas vulneráveis que foram atingidas e transmite uma sensação de omissão ou incompetência. A falta de um cronograma alimenta judicializações, pressões políticas e perda de credibilidade”, disse à CNN.
Na avaliação de Rafael Viegas, o cenário impacta a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja aprovação já vem caindo nas pesquisas. O professor da FGV-SP defende ser necessário acelerar a automação dos processos de validação, ampliar a comunicação com os beneficiários, firmar acordos com entidades e fortalecer os mecanismos de controle para impedir que o problema se repita.
“O impacto na popularidade do governo Lula é muito negativo. Existe uma percepção de desorganização e insensibilidade com pessoas vulneráveis. Embora o escândalo tenha origem no governo anterior, ele atravessa o atual governo”, afirmou.
Já o professor da FGV Direito Rio Luis Lopes Martins diz que o governo poderia ter acelerado o processo de ressarcimento adotando um sistema de devolução automática a todos os aposentados, inclusive para quem autorizou os descontos. Para o especialista, a automatização reduziria o risco de judicialização promovido pela própria demora.
Com informações da CNN
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