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Pegar ômicron ‘de propósito’ é ideia arriscada e doença deve ser evitada, alertam os médicos

Ideia levantada nas redes sociais de se infectar para ‘acabar logo com isso’ é arriscada, uma vez que cada organismo funciona de uma forma diferente, orientam especialistas.

A ideia de tentar se infectar com a Ômicron intencionalmente está “na moda”, disse, com um suspiro exasperado, o Dr. Paul Offit, diretor do Centro de Educação de Vacinas do Hospital Infantil da Filadélfia. A informação é da CNN Brasil.

“Isso se espalhou como fogo”, concordou o Dr. Robert Murphy, diretor executivo do Instituto Harvey em Saúde Global, da Northwestern University Feinberg School of Medicine.

“E é generalizado, vindo de todos os tipos de pessoas, vacinadas, daqueles com doses de reforço e dos antivacinas”, acrescentou ele, com um aviso. “Você seria louco se tentasse se infectar com isso. É como brincar com dinamite”.

Caso a ideia tenha passado pela sua cabeça, aqui estão cinco razões pelas quais você não deve tentar pegar a Ômicron de propósito.

1 – Não é um ‘resfriado forte’
Febre significativa, dores no corpo, linfonodos inchados, dores de garganta e congestão pesada são frequentemente relatados, mesmo em casos mais leves da variante Ômicron, deixando as pessoas debilitadas por dias, disse Murphy.

“As pessoas estão falando sobre a Ômicron como se fosse um resfriado forte. Não é um resfriado forte”, disse Murphy. “É uma doença que apresenta risco de vida”.

Um estudo recente com mais de um milhão de pessoas publicado pelos Centros de Controle Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos descobriu que o risco de um resultado grave da Covid-19 era maior em pessoas vacinadas que tenham 65 anos ou mais, pessoas com sistema imunológico enfraquecido ou pessoas que tenham pelo menos uma das seguintes condições de saúde: diabetes ou doença renal crônica, cardíaca, pulmonar, neurológica ou hepática.

No entanto, mesmo pessoas sem condições de saúde subjacentes podem ficar gravemente doentes, disse Murphy. “Tenho um paciente vacinado e que já tomou a dose de reforço – com mais de 65 anos e sem fatores de risco subjacentes – que está agora no hospital e passando muito mal”.

É verdade que se você pegar a variante Ômicron da Covid-19, ao contrário da variante Delta, “você tem menos chances de ser hospitalizado, menos provável de ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), menos provável de ser colocado em um ventilador mecânico e menor chance de morrer por isso – e isso vale para todas as faixas etárias”, disse Offit.

“Mas também não significa que não possa ser uma doença grave”, acrescentou Offit. “É apenas menos grave. Mas você não tem 0% de chance de morrer. Você nunca deve querer ser infectado”.

2 – Você pode ter Covid prolongada
Perder o olfato (e, portanto, o paladar) tornou-se um sintoma mais comum em casos leves de Covid-19. Estudos mostram que cerca de 80% das pessoas recuperam a capacidade dentro de um mês ou mais, mas outras ainda não conseguem sentir cheiro ou sabor após seis meses ou mais. Uns poucos infelizes podem nunca recuperar esses dois sentidos.

Por mais desagradável que seja, é apenas uma das várias preocupações de saúde que podem permanecer por longo tempo após um caso de Covid-19. Chamado de “Covid prolongada”, o fenômeno é caracterizado por sintomas debilitantes como falta de ar, fadiga severa, febre, tontura, nevoeiro cerebral, diarreia, palpitações cardíacas, dores musculares e abdominais, alterações de humor e dificuldades para dormir.

Formas graves da Covid prolongada podem danificar os pulmões, coração e rins, bem como sua saúde mental e podem se qualificar como deficiência sob o Americans with Disabilities Act e outros estatutos federais.

“Ainda estamos tentando entender a Covid prolongada”, disse Offit. “Como ainda não entendemos, eu não seria tão rápido em querer contrair uma infecção de um vírus natural”.

“Um vírus natural é sempre chamado de vírus do tipo selvagem, e há uma boa razão para isso: está fora de controle”, disse Offit. “Nunca arrisque pegar uma infecção de um vírus natural”.

3 – Você está espalhando a doença para crianças
Nos Estados Unidos, pouco mais da metade (54%) das crianças entre 12 e 17 anos elegíveis para a campanha de vacinação contra a Covid-19 estão totalmente vacinadas. Apenas 23% das crianças entre 5 e 11 anos receberam sua primeira dose, de acordo com o CDC.

Como as doses de reforço – consideradas muito importantes na luta contra a Ômicron – foram aprovadas pelo CDC para crianças de até 12 anos na semana passada nos EUA, poucas crianças receberam essa terceira dose.

Isso significa que qualquer comportamento de risco que possa expô-lo à Ômicron, como não usar máscara, não seguir as diretrizes de distanciamento social ou aglomerar, especialmente em ambientes fechados, potencialmente vai expor outras pessoas que podem transmitir o vírus para seus filhos.

Dados da Academia Americana de Pediatria (AAP) mostram uma tendência ascendente de infecções em crianças, que excede em muito “o pico das ondas passadas da pandemia”.

“Na semana que terminou em 6 de janeiro, mais de 580 mil casos infantis de Covid-19 foram relatados”, segundo números divulgados na segunda-feira pela AAP.

“Esse número representa um aumento de 78% em relação aos 325 mil casos relatados na semana que terminou em 30 de dezembro e quase o triplo da contagem de casos das duas semanas anteriores”, afirmou a AAP.

As infecções por Covid-19 em crianças normalmente têm sido leves até agora durante a pandemia, mas a grande magnitude dos casos causados pela muito contagiosa variante Ômicron está mandando crianças menores de 18 anos para hospitais em números recordes, de acordo com dados do CDC.

“Eu diria que a melhor maneira de manter essas crianças protegidas é vaciná-las conforme são elegíveis e cercá-las por irmãos e pais que também estejam vacinados”, disse a diretora do CDC, Dra. Rochelle Walensky, em uma entrevista coletiva na sexta-feira.

4 – Você vai sobrecarregar o sistema de saúde
Ao se infectar deliberadamente com qualquer variante do SARS-CoV-2, que é o nome oficial do novo coronavírus, “você fará que a pandemia continue e sobrecarregará o sistema de saúde”, disse Murphy.

No fim de semana, quase um quarto dos mais de 5 mil hospitais que se reportam ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) dos EUA disseram estar sofrendo uma “escassez crítica de funcionários”. Esse é um número maior do que em qualquer outro momento durante a pandemia, mostraram os dados.

É esperado que a escassez de pessoal aumente ainda mais à medida que os profissionais de saúde da linha de frente são infectados ou forçados a ficar em quarentena após serem expostos à Covid-19. A escassez de profissionais de saúde não poderia vir em pior hora – mais de 138 mil pacientes com Covid-19 estavam internados em hospitais dos EUA no sábado, segundo o HHS.

Além disso, os dados do HHS constataram que as UTIs em todo o país americano estão mais de 80% lotadas, com quase 30% dos leitos sendo usados para tratar pacientes com Covid-19. Cirurgias eletivas estão sendo cortadas e as autoridades estão preocupadas que o sistema de saúde do país não seja capaz de absorver a demanda.

“O sistema de saúde não foi projetado apenas para cuidar de pessoas com Covid. Ele é projetado para cuidar de crianças com apendicite e pessoas que têm ataques cardíacos, ou que se envolvem em acidentes de carro”, disse à CNN Dr. Ashish Jha, reitor da Escola de Saúde Pública da Brown University, no domingo.

“E tudo isso será muito, muito mais difícil porque temos uma grande proporção da população que não é vacinada, muitas pessoas com condições de alto risco que não tomaram a dose de reforço”, acrescentou.

5 – Não mexa com a Mãe Natureza
Já foi uma boa ideia pegar uma doença de propósito? Aqueles de uma certa idade se lembrarão de quando os pais costumavam organizar “festas de catapora” para expor seus filhos pequenos a uma criança infectada. Como os casos de catapora em adultos são mais graves, a ideia era fazer com que os filhos a pegasse cedo para “acabar logo com isso”.

“Ah, isso também foi uma má ideia”, disse Offit. Ele contou uma história de um filme educativo sobre vacinas que ele fez anos atrás, e o cinegrafista revelou que tinha uma irmã que havia levado o filho a uma festa de catapora. Tragicamente, a criança morreu da infecção.

“Não mexa com a Mãe Natureza”, disse ele. “Ela está tentando nos matar desde o dia em que rastejamos do oceano para a terra firme”.


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