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Furacões no Atlântico Norte podem impactar o clima no Brasil, afetando a Amazônia e o Pantanal

Relação entre fenômeno que é causado pelo aumento da temperatura no oceano e bloqueio de umidade é estudada por Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas da USP.

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Se o calor sem trégua em quase todo o país e a enchente do Rio Grande do Sul marcaram o primeiro semestre de 2024, o clima da segunda metade do ano terá a marca da incerteza e de uma La Niña diferente. Entre as possibilidades de novos extremos, está a de furacões no Atlântico Norte acentuarem a seca na Amazônia, que já é grave na Bacia do Rio Madeira.

Na raiz dos furacões, da seca e de temperaturas elevadas, está o aquecimento sem precedentes do Atlântico. O oceano é combustível para sistemas atmosféricos capazes de gerarem simultaneamente furacões como o Beryl, no início deste mês, e seca na Amazônia. O mesmo sistema atmosférico que concentra chuvas na zona de desenvolvimento do furacão bloqueia a umidade que deveria chegar à Amazônia.

— Os furacões podem ter efeito na precipitação sobre a Amazônia. Estamos estudando essa possibilidade. É novo, mas não impossível e há indícios de que acontece — diz Tércio Ambrizzi, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas da USP.

É um risco que não pode ser desprezado, principalmente se levado em conta que 2024 deverá ter um recorde de furacões, segundo a Agência de Oceanos Atmosfera dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês). Ela estima que a temporada de furacões (de 1º de junho a 30 de novembro) terá de 17 a 25 desses ciclones.

Normalmente, explica Ambrizzi, os furacões do Atlântico Norte não se desenvolvem tão ao Sul ao ponto de influenciar as condições adversas na América do Sul. Porém, esse padrão tem mudado e o Beryl é exemplo. Ele bateu três recordes de uma só vez.

O primeiro foi a localização. Nunca antes um grande furacão havia se formado tão ao sul na Bacia do Atlântico Norte. Antes, a água nessa região não era tão quente, e só muito raramente furacões se formavam ali. E nenhum tão poderoso como Beryl, que chegou à categoria máxima, a 5.

Jamais também um furacão 5 havia sido registrado tão cedo na temporada desses ciclones. Normalmente, se desenvolvem mais em setembro, quando as águas do Atlântico já foram bastante aquecidas pelo verão do Hemisfério Norte. Mas o Atlântico está em média de 2 °C a 3 °C acima da média desde abril de 2023. Beryl ainda foi o furacão de intensificação mais rápida. Passou de depressão tropical a furacão em menos de 48 horas.

Os furacões também estão se tornando mais intensos, acrescenta Ambrizzi. Alguns extrapolaram a categoria 5. E alguns especialistas estudaram a possibilidade de estender a escala até 7, para acomodar os que chegam ter ventos de 320 km/h.

‘Receita do Diabo’

Se não bastasse o Atlântico quente, uma La Niña é dada como certa a partir de setembro, o que aumenta o risco de furacões. A redução do padrão de ventos impede que sistemas de tempestades se organizem e virem ciclones.

— É a receita do diabo para o desenvolvimento de furacões de categoria máxima — diz Regina Rodrigues, professora de Oceanografia e clima da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenadora do grupo que estuda o Atlântico e suas ondas de calor da Organização Meteorológica Mundial.

Rodrigues acrescenta que a própria ocorrência da La Niña na esteira do El Niño é sinal de desordem do clima.

— El Niños curtos têm se alternado com La Niñas mais prolongadas, como a que terminou no início de 2023. Esse padrão foi associado por modelos numéricos às mudanças climáticas — explica Regina Rodrigues.

A La Niña de 2024 será o primeiro num cenário de mudanças climáticas e de aquecimento do Atlântico, frisam cientistas como o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres (Cemaden). O Atlântico está tão anormalmente quente que tem prevalecido sobre previsões climáticas poderosas como o El Niño.

O Atlântico Quente também deve significar a continuação da seca no Pantanal. Em setembro, normalmente o mês mais seco no Pantanal, as condições que já iniciaram o ano em ruínas, podem piorar.

Setembro também será decisivo na Amazônia, segundo o climatologista José Marengo. Se as chuvas não virem, a região poderá ficar em situação grave no final de 2024 e início de 2025.

O Centro-Oeste e parte do Sudeste também estão muito secos, com opções abaixo das expectativas. O calor segue e este inverno deve ser mais quente que a média, com alguns Poucos dias frios. Marengo diz que o calor deve predominar na primavera e seguir no verão de 2025 em praticamente todo o país, mesmo com o La Niña.

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