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Criador de criptomoeda $LIBRA disse ter pago suborno à irmã de Milei ao buscar investidores

Esquema que provocou desfalque a milhares de investidores virou a maior fonte de pressão interna contra o presidente argentino, que foi incluído em uma investigação no país e em denúncias nos EUA.

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O criador da criptomoeda $LIBRA — ativo financeiro digital que provocou um desfalque avaliado em cerca de US$ 100 milhões (R$ 569,7 milhões) após ser indicado pelo presidente da Argentina, Javier Milei — gabou-se de ter “controle total” sobre as ações de Milei para promover o negócio, e disse que pagava propinas à irmã do presidente (e secretária-geral da Presidência), Karina Milei, em mensagens enviadas a possíveis investidores. O governo argentino nega que qualquer pessoa no círculo do presidente tenha lucrado com o esquema, que foi formalmente denunciado a autoridades nos EUA.

Em uma troca de mensagens com um empresário argentino do ramo de investimentos de criptoativos, Hayden Davies, o rosto visível da Kelsier Ventures, usa o nome do presidente e sua suposta influência sobre o Gabinete de governo para convencer o interlocutor — que apresentou a mensagem ao jornal argentino La Nación, mantida sua identidade em anonimato. A troca de mensagens teria ocorrido em 11 de dezembro de 2024.

“Ótimo, também podemos fazer com que Milei tuíte, faça reuniões presenciais e faça uma promoção. Eu controlo esse crioulo”, escreveu Hayden, usando a expressão em inglês “nigga” para se referir ao presidente argentino. Ao ser contestado de que aquilo era “uma loucura”, o empresário americano se gabou ainda mais sobre sua influência: “Eu mando $$ para a irmã dele e ele assina o que eu digo e faz o que eu quero. O empresário ouvido pelo La Nación disse ter rejeitado a oferta.

Em contato com a publicação argentina, um representante de Davies afirmou que ele não se recordava de ter enviado as mensagens e que não as encontrava em seu celular. Também disse nunca ter feito nenhum tipo de pagamento a Milei ou a Karina.

Embora não haja nenhuma prova de que Hayden tivesse controle real sobre Milei ou realmente tivesse pago qualquer valor à irmã do presidente, como alegou na troca de mensagens, o empresário manteve um contato direto com a equipe do governo nos últimos dias. Fontes ouvidas pelo La Nación afirmam que colaboradores de Milei mantiveram conversas secretas com Hayden nas últimas 48 horas, em discussões que teriam incluído uma promessa da Casa Rosada de que o presidente não o acusaria de ter cometido qualquer ato ilícito durante o lançamento do $LIBRA.

Embora não haja uma confirmação oficial por parte do governo argentino sobre os contatos, Davies deu sinais de que haveria uma ponte de comunicação com a Casa Rosada. Em uma entrevista, ele pareceu estar ciente de que Milei daria uma entrevista naquela mesma tarde. Ainda de acordo com as fontes da publicação argentina, a Presidência teria dito para o americano não falar mais com a imprensa.

As novas revelações complicam ainda mais a situação política e jurídica de Milei. Tanto o presidente argentino quanto Davies viraram alvo de uma investigação criminal na Argentina, e podem enfrentar problemas com as autoridades americanas. Os dois foram denunciados ao Departamento de Justiça, à polícia federal americana (FBI) e suas atividades também foram reportadas à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC). Estão implicadas nas denúncias nos EUA outras figuras, como Julian Peh, de Cingapura, e os empresários argentinos Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy.

Politicamente, o presidente argentino é alvo de uma pressão violenta. A oposição kirchnerista tenta abrir um processo de impeachment contra o presidente, enquanto outros setores da oposição pretendem prosseguir com a criação de uma comissão especial de inquérito para investigar os fatos. Nas últimas horas, também houve pedidos de convocação das principais figuras do gabinete libertário para a Câmara dos Deputados para prestação de esclarecimentos, incluindo Karina Milei, o chefe de Gabinete, Guillermo Francos, e o ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona.

Embora a menção ao suposto suborno não tenha sido provada até o momento, documentos públicos confirmam que a irmã do presidente Milei foi o elo do governo a permitir o contato do presidente e o empresário. O outro elo foi Novelli, que em 8 de janeiro de 2024 visitou Karina e desde então entrou na Casa Rosada pelo menos nove vezes, e na Quinta de Olivos (residência oficial do presidente) três vezes.

Novelli entrou pela primeira vez na Casa Rosada às 14h56, autorizado pela Secretaria Geral da Presidência, segundo registros de entrada. Ele foi até o escritório de Karina e saiu quatro horas e meia depois, às 19h33. Desde então, ele foi mais cinco vezes à sede do Executivo, autorizada pela “Chefe”, como a irmã do presidente é apelidada, e outras quatro entradas são observadas, a maioria delas no gabinete anterior ao do presidente.

Hayden Davis, por sua vez, esteve três vezes nas dependências da Casa Rosada. Em 16 de julho, ele e Novelli entraram no local autorizados por Karina, permanecendo por cerca de 40 minutos. Uma outra audiência com aproximadamente a mesma duração aconteceu em 21 de novembro — sem que suas entradas constassem no registro público. No dia 30 de janeiro deste ano, ele e Milei se encontraram pessoalmente. (Com La Nación).


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