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Chefe da ONU e indígena de Rondônia destacam risco à proteção da Amazônia na COP-26

Sem citar nominalmente o governo Jair Bolsonaro, a ativista de 24 anos exortou a participação dos povos indígenas nas decisões sobre as mudanças climáticas e criticou o que chamou de “mentiras vazias” e “promessas falsas”.

Ativista indígena brasileira Txai Suruí discursa na Conferência do Clima (COP-26). (Foto: UN Climate Change/Reprodução)

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e a ativista indígena brasileira Txai Suruí citaram o risco à proteção da Amazônia em seus discursos para mais de cem chefes de Estado na cerimônia da Cúpula do Clima (COP-26), em Glasgow, nesta segunda-feira, 1º de novembro. O presidente da República, Jair Bolsonaro, decidiu não ir à COP-26, evento que discute estratégias para frear o aquecimento global.

Em uma declaração que pediu maior comprometimento das nações para cortar as emissões de CO2, Guterres destacou que partes da Floresta Amazônica “agora emitem mais carbono do que absorvem”. Em julho deste ano, uma pesquisa publicada na revista científica Nature mostrou que a parte sudeste da Amazônia se tornou uma grande fonte de emissão de CO2.

“Este é o momento de dizer basta. Basta de brutalizar a biodiversidade, basta de matar a nós mesmos com carbono, basta de tratar a natureza como uma privada e de cavar nossa própria tumba”, disse Guterres.

O secretário-geral da ONU também lembrou que as promessas climáticas dos países têm sido insuficientes para conter o aquecimento global.

Guterres disse que o nível do mar já dobrou nos últimos 30 anos e os oceanos estão mais quentes do que nunca. Para o chefe da ONU, “estamos no caminho para um desastre climático”. Ele também anunciou a criação de um grupo de especialistas que irá propor padrões claros sobre como medir e analisar os compromissos sobre emissões zero.

Jovem ativista

Antes de Guterres, discursou na COP-26 Txai Suruí, jovem ativista de Rondônia que defende o povo Paiter Suruí, na Floresta Amazônica. Ela lembrou que a poluição e as mudanças climáticas causam impactos à floresta. “Os rios estão morrendo e nossas plantas não crescem como antes.”

Também pediu ações urgentes: “Não é 2030 ou 2050. É agora.”

Sem citar nominalmente o governo Jair Bolsonaro, a ativista de 24 anos exortou a participação dos povos indígenas nas decisões sobre as mudanças climáticas e criticou o que chamou de “mentiras vazias” e “promessas falsas”.

“Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática”, disse Txai Suruí, lembrando a morte de Ari Uru-eu-wau-wau em abril de 2020.

Ari Uru-eu-wau-wau atuava em um grupo de vigilância dos povos indígenas em Rondônia. “Enquanto você fecha os olhos para a realidade, o defensor Ari Uru-eu-wau-wau, meu amigo desde criança, foi assassinado por proteger a floresta”, disse a jovem.

Avesso à agenda verde, Bolsonaro rechaçou os apelos de líderes mundiais para participar do evento que tenta destravar o financiamento da preservação de florestas e ampliar os compromissos assumidos pelos países com a redução da emissão de gases de efeito estufa – ação necessária, segundo cientistas, para salvar os esforços previstos no Acordo de Paris de conter o aumento da temperatura global em 1,5 ºC.

O que é a COP-26?

A COP-26, que começou neste domingo e seguirá até o dia 12, discute ações climáticas que possam fortalecer o combate ao aquecimento global com base nas metas do Acordo de Paris, pacto assinado em 2015.

A conferência ocorre em um momento em que eventos climáticos extremos – como secas, inundações e ondas de calor – têm sido cada vez mais frequentes.

O relatório do IPCC, painel intergovernamental de mudanças climáticas da ONU, mostrou este ano que o planeta deve ficar 1,5ºC mais quente do que na era pré-industrial já na década de 2030, dez anos antes do inicialmente previsto.

Por isso, decisões políticas tomadas pelos líderes ao longo da COP-26 são determinantes para salvar o planeta, mas há grandes desafios para chegar a um acordo.


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