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Manaus

Levantamento da CPT cita assassinatos de indígenas em Manaus

O número de lideranças indígenas mortas em conflitos no campo em 2019 foi o maior em pelo menos 11 anos, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgados na segunda-feira (9). Foram 7 mortes em 2019, contra 2 mortes em 2018. Os dados deste ano são preliminares: o balanço final só será feito em abril do próximo ano. As informações são do portal G1.

Três assassinatos de lideranças de diferentes etnias aconteceram em Manaus. Segundo informações do Cimi, os indígenas viviam em bairros periféricos da cidade de Manaus com forte presença do narcotráfico. A organização afirma, ainda, que há uma hipótese de que esses crimes tenham sido praticados por incômodo dos traficantes com a presença indígena na periferia da capital amazonense.

Em 27 de fevereiro, o cacique Francisco de Souza Pereira, de 53 anos, da etnia tukano, foi executado na residência onde morava na comunidade Urukia. Francisco liderava 42 aldeias. Os tukano ficam principalmente na região do Alto do Rio Negro e próximos às cidades de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel, no norte do estado do Amazonas.

Em junho, Willame Machado Alencar, de 42 anos, da etnia mura, foi morto com cinco tiros na ocupação Cemitério dos Índios. Além de ser um território localizado também na zona norte de Manaus e ocupado por 16 povos indígenas, a área é um sítio arqueológico que registra conflitos pelo uso da terra.

Carlos Alberto Oliveira de Souza, de 44 anos, da etnia apurinã, foi morto em 6 de agosto após ser alvo de tiros efetuados por homens encapuzados, também na zona norte de Manaus.

Ainda que parcial, o número deste ano já é quase igual ao do ano passado, quando ocorreram 28 mortes. Em 2019, o grupo que teve maior número de vítimas foi o de lideranças indígenas. Segundo Paulo César Moreira, da coordenação nacional da CPT, o aumento no número de mortes de lideranças indígenas é resultado de um discurso de “violência institucionalizada” nos conflitos do campo.

O levantamento da CPT é feito com base em dados enviados pelas pastorais de cada região. São levados em consideração apenas assassinatos relacionados a conflitos pela terra.

Além das mortes de lideranças, o levantamento contabiliza também mortes de indígenas que não são líderes de suas comunidades. Levando em consideração as mortes de lideranças e de indígenas somadas, 2013 e 2016 tiveram números maiores.

Para Paulo Moreira, as mortes dos líderes são mais danosas às comunidades porque enfraquecem a luta do grupo por direitos e por territórios.

“A estratégia (por trás dos assassinatos) é enfraquecer a comunidade. Quando não se consegue, o que eles fazem é tentar atingir pessoas da comunidade de forma às vezes até aleatória. Mas a morte de lideranças é de forma bem arquitetada, para diminuir atuação e enfraquecer o grupo todo”, diz Moreira, da CPT.

Veja a lista de lideranças indígenas mortas em 2019:

27/02/2019: Cacique Francisco de Souza Pereira, morto aos 53 anos no conflito da comunidade Urucaia, em Manaus (AM)
13/06/2019: Cacique Willames Machado Alencar, morto aos 42 anos no conflito da comunidade Cemitério dos Índios, em Manaus (AM)
22/07/2019: Emyra Waiãpi, morto aos 69 anos no conflito da terra indígena Waiãpi/Aldeia Mariry, em Pedra Branca do Amapari (AP)
06/08/2019: Carlos Alberto Oliveira de Souza (“Mackpak”), morto aos 44 anos no conflito da comunidade Cemitério dos Índios, em Manaus (AM)
01/11/2019: Paulo Paulino Guajajara, morto aos 26 anos no conflito da terra indígena Arariboia/92 Aldeias/Etnias Guajajara, Gavião e Guajá, em Bom Jesus da Selva (MA)
07/12/2019: Cacique Firmino Prexede Guajajara, morto aos 45 anos no conflito da terra indígena Cana Brava/Aldeias Coquinho/Coquinho II/Ilha de São Pedro/Silvino/Mussun/NovaVitoriano, em Jenipapo dos Vieiras (MA)
07/12/2019: Raimundo Benício Guajajara, morto aos 38 anos no conflito da terra indígena Lagoa Comprida/Aldeias Leite/Decente, em Jenipapo dos Vieiras (MA)