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Economia

Valor Econômico: brasileiro teme pelo futuro da economia, diz pesquisa do Instituto Travessia

Pesquisa do Instituto Travessia aponta que para 78% da população as consequências da covid-19
serão “devastadoras”.

O temor com o impacto da crise pandêmica na economia nacional atingiu um patamar insólito em meados de abril. Na ocasião, oito em cada dez brasileiros (78%) disseram que tais consequências serão “devastadoras” para o país. Isso quer no curto, quer no médio prazos. No fim de março de 2020, quando o novo coronavírus deu seu primeiro grande bote sobre o Brasil, esse grupo reunia 59% da população. As previsões negativas escalaram 19 pontos percentuais em pouco mais de um ano. É isso o que indica uma pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Travessia, de São Paulo, com exclusividade para o jornal Valor Econômico.

Os questionários foram aplicados nos dias 15 e 16 de abril, com abrangência nacional, por meio de entrevistas telefônicas com cerca de mil pessoas. A enquete mostrou ainda o quão veloz foi o agravamento dessa percepção. Em junho de 2020, 69% dos entrevistados usaram o termo “devastador” para avaliar o estrago econômico da covid-19. Em fevereiro, eram 72%. Agora, são 78%. Ou seja, em oito meses (de junho a fevereiro) houve elevação, mas confinada à margem de erro da sondagem (três pontos percentuais para cima ou para baixo). Em contrapartida, em dois meses (de fevereiro a abril), deu-se uma alta de seis pontos.

E qual o motivo desse rápido avanço? Na avaliação de Renato Dorgan Filho, analista e sócio do Instituto Travessia, a pesquisa reflete o momento pelo qual o país passou nos últimos meses – e do qual ainda não escapou de maneira definitiva. “As entrevistas foram feitas em meio à acentuada degradação do cenário”, diz Dorgan Filho. “Foi nesse momento que o contágio explodiu e o total de mortes diárias provocado pela doença no Brasil saiu da casa dos 1,5 mil, que já era alto, para atingir picos de até 4,2 mil. Passamos a viver uma situação de colapso.”

O diagnóstico “devastador” foi generalizado. Ele se distribuiu de forma equilibrada nos recortes feitos por gênero, idade, religião, renda e região onde vivem os entrevistados. Há, porém, alguns destaques. Os mais jovens, por exemplo, estão entre os mais desalentados. O mesmo pode ser dito em relação aos que ganham mais de cinco salários mínimos por mês, que ocupam as faixas mais bem-remuneradas da sociedade, e os que residem no Sudeste do país.

Os traumas, indica a sondagem, têm sido múltiplos. Mais que oito em cada dez brasileiros (82%, exatamente) afirmaram que a renda de suas famílias foi prejudicada na pandemia. Em junho do ano passado, 74% diziam o mesmo. Pouco mais da metade dos entrevistados (56%) teve seu emprego ou de algum parente comprometido nesse período. Essa mesma questão foi feita pelo Instituto Travessia há dois meses, em fevereiro deste ano. Na ocasião, 54% haviam mencionado problemas com o trabalho. Note-se que o percentual, embora tenha aumentado, manteve-se na margem de erro.

A enquete questionou ainda qual o problema que mais preocupa a população em 2021. Tal abordagem foi feita a partir da apresentação de uma lista com seis temas pré-definidos. O “desemprego” liderou as respostas com vantagem, concentrando 37% das aflições. A seguir, vieram a “falta de vacinas”, com 20%, e, empatados, a “inflação” e a “segurança”, com 16% cada. No pé da relação, ficaram a “piora no atendimento dos pacientes da covid-19”, com 7%, e “crise política”, com 4%.

Entre esses itens, o que sofreu maior desgaste foi o medo da “falta de vacinas”. Ele subiu de 14% para 20%. Aqui, os mais jovens, que estão no fim da fila da imunização, destacaram-se entre os mais preocupados. O problema foi citado por 22% dos entrevistados que se encontram na faixa etária entre 25 e 24 anos. Por outro lado, o mesmo tema foi mencionado por 15% daqueles que têm 60 anos ou mais. A “piora no atendimento da doença” aflige com mais intensidade os mais pobres, com renda de até dois mínimos por mês.

Para além de 2021, a “demora na solução da covid” é a principal fonte de inquietações, aglutinando 25% das escolhas. O assunto empatou com a questão do “desemprego”, com 24%. “Isso mostra que a falta de trabalho é um receio muito presente”, afirma o analista. “Ele emerge tanto agora, em 2021, como no futuro.”

As expectativas são ainda de aumento da inflação e da perda de postos de trabalho, além de queda de renda. A maior parte dos entrevistados não acredita que conseguirá poupar (83%), tampouco vê possibilidade (68%) de fazer uma compra de valor mais alto, como a aquisição de eletrodomésticos ou produtos eletrônicos.

Apenas uma pequena parcela (9% do total) acredita que a situação econômica do país vai melhorar neste ano. Para 47%, a recuperação só ocorrerá em 2022 e, na opinião de 35%, isso deve “demorar muito”. Desiludidos, 6% dizem que “nunca mais vai melhorar”. Em relação à condição pessoal ou familiar, os números são mais pessimista: para 40%, o alívio só virá em 2022 e, para 42%, vai “demorar muito”. “As pessoas sabem que, antes de a situação pessoal apresentar algum alento, é preciso que a economia engrene”, afirma Dorgan Filho, do Travessia.

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