Economia
Tarifas de Trump ameaçam 700 mil empregos e podem derrubar arrecadação previdenciária, diz Dieese
Estudo prevê perdas bilionárias na economia; centrais sindicais alertam para impactos duradouros em diversos setores.

As tarifas impostas pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), podem provocar efeitos profundos sobre a economia brasileira, ameaçando 700,7 mil postos de trabalho e comprometendo receitas da Previdência Social e do FGTS. A avaliação, segundo o jornal Folha de S. Paulo, é de um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), encomendado por centrais sindicais e divulgado na manhã desta quarta-feira (13).
Segundo o estudo, excluídos os segmentos não atingidos pelo “tarifaço”, haverá queda de R$ 11,01 bilhões na arrecadação de impostos, redução de R$ 14,33 bilhões na massa salarial e perda de R$ 3,31 bilhões na receita do INSS, com impacto negativo estimado em 0,37% do Produto Interno Bruto (PIB).
Os números diferem dos cálculos do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedepar) da UFMG, que aponta um prejuízo menor tanto em empregos quanto na economia. A diferença, segundo as instituições, está no horizonte de análise: enquanto o Dieese estima danos de longo prazo e irreversíveis, com setores que não devem mais recuperar o mercado norte-americano, o Cedepar considera apenas os próximos dois anos e prevê realocação comercial mais rápida.
O levantamento do Dieese analisou 10 mil empresas exportadoras para os Estados Unidos, com foco aprofundado em pelo menos 3 mil, abrangendo 1.459 sindicatos. “É uma descentralização grande que vai precisar que tenhamos uma organização considerável para acompanhar todo esse movimento”, afirmou Adriana Marcolino, diretora técnica da entidade e responsável pelo estudo.
Os segmentos que devem sentir mais fortemente o impacto incluem serviços, indústria de transformação, comércio, agropecuária, extrativismo vegetal e pesca, serviços industriais de utilidade pública, construção civil e mineração. Conforme Adriana, o efeito alcançará toda a cadeia produtiva e de consumo, não apenas as empresas diretamente tarifadas.
As centrais sindicais firmaram um pacto para monitorar de perto as atividades das empresas afetadas e lançaram um site que será atualizado a cada negociação coletiva. As maiores rodadas salariais estão previstas para setembro, outubro e novembro, período que preocupa dirigentes sindicais pela coincidência com os efeitos das tarifas.
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, gravou vídeo pedindo que os sindicatos “não se desesperem com o ocorrido” e ressaltou que a dependência brasileira em relação aos Estados Unidos caiu de 25% das exportações em 2003 para 12% atualmente. “Não diminuímos as exportações, mas abrimos outros mercados. Somente nestes dois anos, nós abrimos 397 novos mercados para os produtos brasileiros”, disse.
Marinho adiantou que o governo estuda medidas para preservar empregos, especialmente no setor alimentício, priorizando vendas ao mercado interno por meio de licitações para creches, merenda escolar e sistema prisional. Ele também lembrou que negociações coletivas poderão adotar mecanismos já previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como o lay-off.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, destacou a importância do mercado norte-americano e defendeu negociações rápidas com empresas. “A gente sabe que os Estados Unidos têm mais instrumentos de pressão do que o Brasil em relação a eles, mas a gente não é um país qualquer, tem que tratar isso de cabeça erguida.”
Já Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, alertou para o impacto sobre o comércio, principalmente em cidades menores e entre trabalhadores comissionados. Ele recordou a crise de 2008 como exemplo de superação: “O Brasil foi o último país a entrar no problema e o primeiro a sair daquela crise.”
O Dieese também chama atenção para o segmento de frutas, que emprega em grande parte trabalhadores safristas e informais, considerados especialmente vulneráveis às perdas.
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